Kristen Stewart conversou com a VOGUE Austrália sobre seu mais recente filme, a comédia romântica natalina Happiest Season, onde ela estrela ao lado de Mackenzie Davis e é dirigida por Clea DuVall. Confira abaixo:

O que penso que todos nós podemos concordar é: março foi um mês ruim. Por isso que ninguém julgou quando, silenciosamente ao redor do mundo, as pessoas voltaram a montar suas árvores de Natal. Colocar a árvore de volta de qualquer lugar onde ela estava esquecida e ressuscitar e desembolar os enfeites parecia um jeito de pegar o mês ruim e encontrar uma abertura – aquela que deixe a luz entrar.

Árvores de Natal farão isso. Talvez seja olhar para coisas que brilham, talvez não tenha nada a ver com a árvore. Provavelmente é sobre os rituais; tirar as decorações das caixas e discutir sobre o local correto de colocar o anjo ou perceber que uma fileira de pisca-piscas está apagada segundos depois de enrolá-lo em cada galho. Essa é a mágica do Natal: memórias, união e a tensão entre tudo isso. Ou talvez a verdadeira mágica do Natal é que pode ser essas coisas, e todas as coisas, e nada ao mesmo tempo. É só o Natal.

Bom, esqueça março – Clea DuVall sente que ela está com sua árvore montada há dois anos. Esse é o tempo que a diretora passou imersa no espírito festivo enquanto fazia seu filme Happiest Season, uma adição muito atrasada no cânone de filmes natalinos. A comédia romântica conta a história de Abby (Kristen Stewart) que planeja propor casamento para sua namorada Harper (Mackenzie Davis) em uma festa anual de Natal, apenas para descobrir que Harper ainda não se assumiu para sua família. ”Me sinto como uma vizinha que deixou os enfeites de Natal por tempo demais.” DuVall diz, rindo. Estamos conversando no Zoom em setembro, o momento calmo no calendário antes que os supermercados comecem a tocar cantigas de Natal em uma exuberância perturbadora. ”Não vou mentir, uma parte de mim não está tão animada para decorar a árvore esse ano, mas com certeza vou me animar,” ela prevê.

DuVall sempre amou o Natal e filmes natalinos – ela assiste Férias Frustradas de Natal todo ano. ”Acho tão divertido. Até aqueles que não são muito bons, eu ainda os assisto,” DuVall diz. ”Mas nunca vi minha própria experiência representada.” Em sua vida inteira como mulher queer, ela nunca viu um filme natalino focado em um casal lésbico, seu romance desenrolando na frente de um pano de fundo de bengalas doces e caos. Comédias românticas sempre foram formuladas – apenas umas garotas, paradas na frente de uns rapazes, pedindo a eles que as amem. Mas filmes natalinos fazem essas comédias românticas clichês parecerem praticamente pioneirismo em comparação. Filmes natalinos são essencialmente as mesmas histórias sentimentais contadas repetidamente, um carrossel de casais héteros e brancos com famílias brancas se conectando e reconectando enquanto os dias passam em direção ao 25 de dezembro.

E nós amamos assistir. Há uma razão pela qual Esqueceram de Mim foi a bilheteria mais alta de 1990 e eu já assisti O Amor Não Tira Férias aproximadamente 250 vezes desde que Nancy Meyers o colocou no mundo. Ano passado, quase 100 novos filmes natalinos foram adicionados em plataformas de streaming. ”Nós gostamos de referências com Natal,” pensa Davis. Como Harper em Happiest Season, ela interpreta a filha de pais conservadores interpretados por Victor Garber e Mary Steenburgen. ”Nós gostamos de comer as mesmas comidas e fazer as mesmas rotinas e ter essa segurança,” ela diz.

Nós dependemos ainda mais dessas rotinas familiares desde que esse ano horrível começou com queimadas devastadoras e se tornou uma pandemia global. As rádios americanas começaram a tocar cantigas de Natal durante o lockdown; no espírito de ‘precisamos disso’, o canal Hallmark começou sua maratona de filmes natalinos meses antes. E então há Happiest Season, um abraço quente e afetuoso de um filme com uma mensagem festiva de aceitação em foco.

”Essa é uma história universal contada de uma perspectiva diferente,” afirma DuVall. É engraçado – e um pouco estranho, o que todas as comédias românticas são, se puderem. O filme brilha com romance, o tom é certo e o elenco é impecável. Em adição a Stewart, Davis, Garbert e Steenburgen, o filme também estrela Alison Brie, Aubrey Plaza e Dan Levy, o homem, o mito, a própria lenda de Schitt’s Creek. ”Algumas vezes os atores estavam se divertindo demais,” DuVall diz entusiasmada, ”e eu tinha que dizer ‘Pessoal, parem de brincar.’”

Tudo começou com Stewart, que foi a primeira atriz a se contratada e ”o coração do filme” diz DuVall. (”E eu nunca a vi fazendo o que ela faz nesse filme,” ela diz.) Como a diretora, Stewart teve sua própria jornada como uma mulher queer em Hollywood. ”Eu nunca cresci com um filme gay natalino,” Stewart reflete, o que parcialmente a levou até Happiest Season. Havia um sentimento de que DuVall estava criando algo especial: uma comédia romântica queer, ambientada durante a temporada festiva, produzida por um grande estúdio. Stewart assinou o contrato, sabendo que seus colegas de elenco teriam que estar tão comprometidos em contar essa história com a mesma empatia que ela. ”Não parecia que qualquer pessoa podia estar nesse filme,” explica Stewart. ”Parecia que [DuVall] precisava ter certeza de que todos dariam a cara a tapa… Não era um trabalho para qualquer um.”

Na primeira vez em que Stewart e Davis se conheceram, as duas já eram certeza como o casal. DuVall organizou um jantar para as três, o que seria visto por ela como um encontro às cegas desajeitado e angustiante. ”Eu também estava, notavelmente, muito nervosa,” adiciona Davis. ”E se eu fico nervosa, de um jeito positivo ou animado, eu fico um pouco maníaca.” Davis lembra rindo, bastante, o quanto ela não conseguia controlar sua risada. ”Eu não sei se foi a melhor primeira impressão da minha vida, mas tive muito tempo para corrigir depois disso,” ela diz. ”Você não espera que estrelas de cinema sejam legais… mas ela é ótima. E engraçada. E tão inteligente e curiosa. Eu ficava tipo: ‘Ooh, eu tenho uma quedinha de amizade pela Kristen.’ E então nos tornamos amigas!”

O sentimento foi mútuo. ”Foi tipo: ‘Hey, eu não conheço essa menina ainda, mas sei que quero,” Stewart lembra. ”Você é definitivamente a pessoa com quem quero fazer esse filme estranho, e ainda me sinto desse jeito. Eu quero colocar a Mackenzie em tudo o que eu fizer no futuro. Ela é uma carta na minha manga – é minha atriz favorita.” (”Estou corando agora,” Davis interrompe.)

Não poderíamos estar mais preparados para assistir um filme consolador e bobo de temporada esse ano. ”Quando vi o filme pela primeira vez, me senti consolada por ele,” diz Stewart. ”Provavelmente porque eu realmente gostei de fazê-lo, e sou totalmente suspeita para falar e sinto saudade de todos com quem trabalhei.” Stewart gostou tanto do tempo que passou no set que ficou inesperadamente emocionada no jantar de encerramento. ”Victor Garber se levantou para fazer um discurso,” ela lembra, ”e de repente estou chorando.”

Mas DuVall também acredita que o filme não poderia ter sido feito até esse momento, quando os estúdios estão finalmente respondendo pela representação faminta, barulhenta e urgente nas telas. ”Seremos todos melhores assim que nos abrirmos para perspectivas diferentes,” diz DuVall. É ainda mais importante fazer isso em um gênero tão atolado em tradição, como filmes festivos. ”As pessoas estarão vendo algo que estão acostumadas, somente um pouco diferente,” explica Dr Tobi Evans, expert em gênero e cultura pop, ”de um jeito que traz espaço para diferentes identidades e ajuda pessoas a se sentirem vistas.”

Nem todos os Natais são felizes, especialmente para aqueles na comunidade queer. ”Muitas pessoas não possuem experiência com famílias amorosas ou espírito de gentileza, e então o Natal pode ser um período muito difícil,” explica a psicóloga Danya Braunstein. ”Eu definitivamente compreendo,” DuVall diz. ”Esse filme é franco sobre as coisas boas e as não tão boas que as festas de fim de ano trazem.” Relacionamentos familiares podem ser tensos. O privado pode ser tornar público. Mas, basicamente, Happiest Season é um conto de amor. ”Ver uma representação positiva de uma história de amor queer que está oculta em humor, e um pouco de dificuldade, mas que termina com o triunfo – isso tudo é muito importante,” diz Davis.

”Em uma época onde estamos forçados a ficar desconectados fisicamente, estou procurando jeitos de nos encontrarmos novamente um com o outro,” adiciona DuVall. ”Quando assisto Happiest Season, me sinto esperançosa. Me faz sentir conectada.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil