Arquivo de 'Entrevista'



Antes da cerimônia de abertura do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Kristen Stewart posou para a Vogue UK e conversou com a revista sobre sua escolha de roupa para a noite, como se sente sendo presidente do júri e sobre o futuro de sua carreira. Leia:

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Não é segredo que Kristen Stewart ama a Chanel. E, como embaixadora da maison, ela tem sido vista em inúmeras criações que acabaram de sair das passarelas, desde shorts curtos no Oscar até vestidos de gala de alta costura em Cannes. Então, não é surpresa que Stewart escolheu usar Chanel na noite de abertura do 73° Festival Internacional de Cinema de Berlim, no qual ela é presidente do júri. “A Chanel me apoia e eu os apoio. Poderia chamar de armadura, uma segunda pele”, Stewart conta para a Vogue sobre trabalhar próxima à grife. “Virginie [Viard] é uma parceira muito valorizada e uma inspiração. Ela é uma amante da arte e da humanidade, isso é claro no trabalho que ela produz — é cinematográfico.”

E para a roupa? Stewart optou por usar um look da coleção de alta costura primavera/verão 2023, que é composto por um vestido branco longo com anágua bordado com veados e folhagens, além de uma saia branca de organza. “Me sinto leve usando-o”, diz ela. “Tem a quantidade perfeita de estrutura e ativação. Para mim, os veados simbolizam a liberdade e a tranquilidade.” Para o resto da composição, Stewart equilibrou o vestido meticulosamente detalhado com um par de botas brancas de couro com a ponta preta e uma gravata borboleta incrustrada de cristais.

Quando se trata de assumir o prestigioso papel de presidente do júri para o festival, Stewart fica surpresa em ver como a experiência é diferente do que ela já fez antes. “Falar sobre filmes sem a pressão adicional de divulgá-los é um acontecimento raro”, diz ela. “Conhecer pessoas de várias partes do mundo que se juntaram para explorar as razões pelas quais certos filmes incitam ou levantam novas questões… é o paraíso para mim.”

O que mais podemos esperar de Stewart no futuro? Além de estrelar dois filmes, Love Lies Bleeding e Love Me, ela também fará sua aguardada estreia como diretora com The Chronology of Water. “Tenho me preparado para meu papel como cineasta desde que consigo me lembrar”, declara sobre a nova aventura. “O privilégio de exteriorizar sua vida interna, mostrar para as pessoas a forma como você enxerga as coisas, para que você possa se aproximar muito mais dos outros, é ao que me rendi — bom ou ruim, acredito que refletirá a verdade de um momento na minha vida.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart assumiu seu papel como presidente do júri internacional do Festival de Cinema de Berlim nessa quinta-feira (16). A atriz participou de uma conferência de imprensa e respondeu perguntas sobre seu critério para escolher o vencedor, sobre a atual era do cinema e muito mais. Leia:

Kristen Stewart disse que estava sentindo o peso total da responsabilidade de ser presidente do júri no Festival Internacional de Cinema de Berlim na conferência de imprensa de abertura na quinta-feira.

“Sendo completamente transparente, estou me tremendo um pouco. Não é um peso que eu não entendo por completo… Mas não estou em colapso, sou apoiada por um júri muito belo e talentoso”, disse ela.

“Mal posso esperar para ver quem somos ao fim desta experiência. É mais ou menos o que, ao todo, você quer que um festival faça. Estou pronta para ser transformada por todos os filmes e por todas as pessoas ao nosso redor. Acho que é por isso que estamos aqui.”

Ela esteve ao lado da atriz iraniana-francesa Golshifteh Farahani, da diretora alemã Valeska Grisebach, do diretor romeno Radu Jude, da diretora de elenco e produtora americana Francine Maisler, da diretora espanhola Carla Simón e do icônico diretor de Hong Kong e produtor Johnnie To.

Stewart foi questionada sobre seu critério para um filme vencedor. Sua resposta sugere que o campo está bem aberto sob sua visão de júri.

“É interessante estar “no comando” de decidir qual é o melhor filme. É uma noção tão efêmera. É um tanto óbvio que é bastante subjetivo. Podemos concordar que odiamos um filme, mas que a realização dele é surpreendente. E que o feito, a ambição, teve sucesso”, disse ela.

Ela relatou que o importante era “mitigar um pouco da polarização” e “se abrir para algo novo” como membro do júri.

“Goste você ou não, este festival em específico, é historicamente confrontante e político, de uma maneira positiva. E eu acho que é muito importante para nós nos desprogramarmos e nos abrirmos por completo para as novidades. Penso que a diversidade e a amplitude de perspectiva oferecerão algum material novo que pode ser desafiador e estranho de se adaptar, mas acho que o objetivo é escolher o que mais se destacar. Se não conseguirmos concordar que provavelmente é porque é muito bom, entende?”

A atriz ficou momentaneamente atordoada por uma pergunta sobre se havia algum filme ou diretor internacional contemporâneo que ela “gostava”. Stewart se descreveu como uma “idiota” quando não conseguiu pensar em nenhum nome imediatamente.

“Para ser honesta, eu não quero tomar o tempo ficando sentada aqui, atrapalhada, pensando em nomes de filmes e cineastas”, disse ela. “Sinto muitíssimo. Não tenho a melhor resposta para a sua pergunta, mas gostaria de considerar as bibliotecas de todos que estão sentados ao meu lado. Vai ser divertido. Mas, é, desculpa. Sou uma idiota. Não tenho uma grande lista de cineastas no meu bolso para você agora.”

Fonte

Respondendo uma pergunta sobre se a reputação do festival por declarações políticas afetou a decisão dela de aceitar o papel como presidente do júri, Kristen Stewart disse: “É um prazer tão raro poder falar sobre sua obsessões que, no meu caso, são os filmes, quando você não está divulgando ou filmando um.

“Não foi minha decisão estar aqui, fiquei chocada que me ligaram. É uma grande oportunidade ajudar a destacar coisas bonitas em uma época em que isso é difícil.

“É trabalho de um artista pegar uma coisa nojenta e feia e transformá-la, vesti-la e produzir algo mais bonito e útil”, continuou Stewart. “Algo considerado e não apenas imediatamente reativo.

“Estamos vivendo em uma das épocas mais reativas e abaladas emocionalmente. Poder me sentar, ter um momento para divagar e ver o que as outras pessoas produziram… é uma oportunidade que eu não podia recusar.”

Stewart concordou com os comentários de Radu Jude sobre expandir o orçamento dos filmes. “Como fazemos os filmes, quem os consome, o quanto custam — estamos indo em direção ao esquecimento nesse nível”, disse Stewart, que descreveu a atual situação da indústria como “estúpida e vergonhosa”.

No entanto, ela continua a ser otimista. “Há uma necessidade vital e desesperadora em todos nós para criar algo, e vamos consumir o que o outro produz para sempre. Se você focar na parte da indústria, é fácil pensar: “Minha nossa, está desmoronando.” Porém, eu acho que existe algo vital que é inegável e nunca irá embora.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart compareceu ao desfile da Chanel na última Semana de Moda de Paris ao lado de sua noiva Dylan Meyer. A atriz também foi parte do curta-metragem da coleção primavera/verão, que foi dirigido pela dupla Inez & Vinoodh. Confira fotos, o filme e a entrevista concedida ao WWD abaixo:

CHANEL > SPRING/SUMMER > CAMPANHA

EVENTOS > EVENTOS E PREMIAÇÕES > EVENTOS E PREMIAÇÕES EM 2022 > (04/10) DESFILE DA CHANEL NA PARIS FASHION WEEK

Kristen Stewart esteve trabalhando em seu primeiro roteiro e mostrou um pouco de sua habilidade com a escrita no desfile da Chanel. O desfile começou com um curta metragem estrelando Stewart como ela mesma, com falas dubladas, incluindo: “É importante queimar o seu melhor ontem, todos os dias, para que você possa começar de novo.”

“Eu escrevi”, Stewart disse depois do desfile. “Sou melhor escrevendo do que falando de forma espontânea. Digo, posso pelo menos chegar perto de me expressar quando tenho um minuto sozinha.”

A atriz disse que isso reflete sua filosofia de constantemente se desafiar, e que se alinha com o clima cultural atual.

“Agora todos somos permitidos nos transformar diariamente e evoluir e acho que isso é muito importante, não necessariamente queimar, mas nunca se sentir aterrado ou orgulhoso de alguma ideia fixa porque o mundo muda todos os dias”, disse ela.

O filme, dirigido por Inez & Vinoodh, é uma pequena brincadeira sobre paparazzi e sobre viver a vida nos holofotes, com fotógrafos seguindo Stewart enquanto ela deixa um restaurante. Nele, ela também diz que o mundo está “sob tanta pressão” e movendo-se de forma tão rápida que ela sente “chicotadas”.

“Você nem sempre vai estar na linha de frente da mudança em progresso porque você envelhece”, disse a atriz de 32 anos de idade. Ela comentou que embora seja difícil de se definir, especialmente na era das redes sociais e convenções morais que mudam o tempo todo, se você não se definir, outra pessoa fará isso por você. “E isso é doloroso. Meio que destrói vidas”, declarou ela sobre a cultura dos tabloides.

A ex-atriz mirim refletiu sobre crescer na década de 2000 quando a mídia tratava jovens mulheres de modo cruel e esperava uma hiper feminilidade. “Era uma época muito, muito difícil para as mulheres, tão intolerante e inacreditavelmente rígida, em termos do que nos permitiam ser. Agora, parece muito livre.” Ela disse que embora tenha crescido em frente às câmeras naquela época, ela nunca esteve nas redes sociais, o que deu para ela uma capacidade de se distanciar do burburinho que a seguia constantemente.

Para esse efeito, a estrela foi ao desfile com sua noiva Dylan Meyer e apresentou um novo corte de cabelo no estilo mullet.

“Quando eu era pequena, as pessoas diziam: “Ah, você parece um menino.” Ninguém mais diria isso… Estamos abrindo as palavras de um modo que para mim parece uma libertação”, completou ela.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart conversou com o AP Entertainment durante sua passagem pelo Festival de Cannes para divulgar Crimes of the Future, novo filme de David Cronenberg. Leia:

Em Crimes of the Future, de David Cronenberg, em que um artista interpretado por Viggo Mortensen tem órgãos e tumores sendo arrancados de seu corpo em performances artísticas, Kristen Stewart interpreta uma tímida burocrata rapidamente transformada em devota apaixonada.

No filme de Cronenberg, a personagem de Stewart, animadamente sem fôlego pelo que está testemunhando, se transforma em uma fã e, talvez, uma artista.

É um filme literalmente angustiante repleto de significados metafóricos sobre arte, com o que Stewart se conecta profundamente. Também é apropriado que o filme a levou de volta para Cannes, uma plataforma principal para a própria transformação de Stewart durante a última década.

“Há um certo comprometimento com o que se parece com arte radical em Cannes que é tão descarado, audacioso e um pouco arrogante de uma maneira bonita”, diz Stewart em um terraço com vista para a rua Croisette em Cannes. “Ninguém precisa ceder e dizer: “Bom, acho que o que estamos fazendo não salva vidas.” Tipo, sim, salva! Arte realmente salva vidas.”

Em uma entrevista, Stewart refletiu sobre como os temas de Crimes of the Future resumem e se encaixam em sua própria jornada artística.

A atitude sobre cinema “radical” que você está descrevendo certamente aplica a Crimes of the Future, mas Cronenberg possui dificuldades em conseguir financiamento para os filmes. Você já se sentiu frustrada por como Hollywood é diferente de Cannes?
Sim, é uma indústria. É motivada pela quantidade de dinheiro que você faz. Em Los Angeles, chamamos de negócios de cinema. Eu gosto porque quero que todos vejam o que fazemos, mas é sobre perspectiva. Se você não foca nisso, então não te afeta. Mas, ah, me magoa profundamente [risos].

Sério?
Sim, mas também reconheço que é algo abrangente. Isso é legal. Não há como evitar em uma sociedade capitalista. É bom realmente reconhecer como você é obcecado por algo em vez de fingir que não é nada demais. E sentir que cada entrevista que você está fazendo está com aparência de conversa, mas o que você está realmente fazendo é divulgar a data de estreia e o estúdio está ouvindo cada palavra que você fala, dizendo: “Não fale essa palavra. É provocante.” Tipo, o que?

Você viu sua personagem no filme como uma fã? Como você se conectou com ela?
Uma das questões que o filme levanta é quem tem o direito de julgar arte como “arte” ou não? O que estamos fazendo agora pode ser arte para alguém. Mas existem pessoas que se tornam tão frenéticas ao redor de outros seres humanos que são obrigadas a colocar para fora este sentimento interno e existe uma inveja que deixa as pessoas malucas. É bonito conhecer-se e mostrar-se para o mundo. Nem todo mundo faz isso e nem todo mundo é capaz disso. Mas definitivamente é algo que os seres humanos se sentem atraídos. Foi divertido interpretar alguém que é tão auto-reprimida e que quer fazer um bom trabalho. Ela acredita no mito, acredita no governo. Ela acredita em todas essas coisas que inventamos. (Stewart balança os braços apontando para tudo ao redor.). Nós inventamos tudo isso! Quando ela vê alguém fazendo algo diferente, seu coração começa a sair pela boca. E há esse desejo de ter uma experiência indireta. Pensei que seria legal interpretar alguém que tem um despertar completo.

Alguma versão do que aconteceu com ela já ocorreu com você?
Eu costumava pensar “para atuar, você só precisa ser um ótimo mentiroso.” Acho que fiz 13 anos e percebi que me emocionava tanto com certas experiências e me atraia tanto por certas pessoas. Eu saía com memórias que aconteciam nas cenas e sentia que eram minhas. Eram tão pessoais. Realmente não sei onde parei e onde tudo isso começou. Pensei: “Oh, sou uma artista.” Então, comecei a me tornar o oposto. Eu sempre estava com muita vergonha. Dizia que se você pode andar e falar, você pode atuar. Ainda penso assim. É apenas a disposição de se entregar. Mas absolutamente tive um momento. Foi como uma experiência religiosa. Você pode tirar a teologia desta palavra e é bastante intercambiável com fé. Comecei a crer. E realmente, de verdade, mudou a minha vida.

A metáfora principal do filme é sobre tirar a arte de dentro de si, algumas vezes de forma dolorosa, frequentemente de forma bonita, mesmo que seja grotesca. Você se identifica com essa ideia?
Definitivamente. Em retrospecto, eu não entendia que Saul Tenser (Mortensen) era o David. Eu acho que o David vai sobreviver mais do que todos nós e fazer muitos outros filmes. Mas há essa coisa sobre o último suspiro que um artista pode sentir até mesmo nos 15 anos de idade. Isto é a última coisa que vou conseguir fazer? Ainda vou fazer algo? Alguma coisa ainda vai sair de mim? Quando o Viggo está modificando os órgãos, pensei: “David, você nunca vai conseguir parar.” Obviamente, você se doa, você sente que está tirando pedaços para apresentar como oferta. Mas você recebe tanto em troca. É tão recíproco.

Você nunca sente que se doou demais?
Não, a dor é o prazer mais libertador. Esta coisa sobre ter que cortar um ao outro para sentir… Eu realmente iria até qualquer ponto. Recordo os momentos mais difíceis da minha vida pessoal, momentos que estive em um caos absoluto, com os olhos brilhando. Tipo: “Uau, eu estava em uma viagem corporal.” Existe euforia na dor, então é legal compartilhar. É realmente horrível passar por um momento doloroso sozinha.

Na conferência de imprensa do festival, Cronenberg falou sobre a possível anulação dos direitos de aborto para mulheres sendo o “verdadeiro terror corporal.” Você concorda?
Pensamos sobre o corpo em relação à legislação quase que exclusivamente sobre aborto e gênero. Basicamente tudo é sobre a fisicalidade. É difícil colocar em palavras porque esse provavelmente não é o melhor formato para começar a gritar aqui, neste balcão. Talvez isso seja tão ingênuo e tão estadunidense, mas eu realmente não achava que as coisas iriam ladeira abaixo de forma tão violenta e rápida. Tudo o que levaram adiante está sendo desmontado. A aceleração é tão avassaladora que é difícil compreender. É assustador pra caralho. Se eu tivesse crescido em outro lugar, talvez me sentisse diferente. Não estou tentando dizer para ninguém que estão errados. Tudo isso é tão estúpido e desnecessário.

Você está se preparando para dirigir seu primeiro filme. Como está indo?
Estive trabalhando neste projeto por cinco anos. Não queria me apressar, ele ainda não queria ser feito. É baseado em uma biografia e a beleza dela é que parece uma verdadeira memória de forma que há uma inteligência emocional e cronologia… Se chama A Cronologia da Água. É realmente sobre uma enxurrada de memórias que não parecem estar conectadas por algo lúcido, mas sempre por algo emocional. É muito difícil de fazer visualmente. Eu também não queria aplicar uma estrutura mais formal. Não seria a mesma história. É o texto mais físico que já li. A forma como ela fala sobre o corpo é algo que preciso ver em um filme. É como Lírios d’Água (de Celine Sciamma) e O Romance de Morvern Callar (de Lynne Ramsay). Minhas coisas favoritas são sempre a forma como artistas encontram suas vozes porque meio que grita para você encontrar a sua. Mesmo que você não se considere artista, você escreve sua própria história.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Durante o Festival de Cannes, Kristen Stewart conversou com o site Vulture para falar sobre Crimes of the Future e sua personagem, Timlin. Leia:

Por volta da metade de Crimes of the Future, de David Cronenberg, Kristen Stewart coloca as mãos diretamente na boca de Viggo Mortensen e observa como se fosse um túnel escuro. É uma tentativa de sedução – ela diz que quer que ele “a corte”, depois massageia os lados de seu rosto e mergulha de língua em sua mandíbula aberta. Ele fica excitado com a parte mais clínica, mas educadamente se opõe quando a situação se transforma em algo vagamente parecido com um beijo. “Não sou bom no sexo antigo”, diz ele de modo arrependido. Em um rooftop na manhã seguinte da estreia do filme em Cannes, Stewart me conta que teve a ideia de inspecionar a boca dele durante as filmagens. “Estou orgulhosa para caralho”, disse ela. “Não contei para ninguém que faria aquilo.”

O novo sexo, como a personagem de Stewart coloca no filme, é a cirurgia. Crimes of the Future se passa em um futuro distópico próximo em que humanos estão criando órgãos espontaneamente, são incapazes de sentirem dor ou de se infectarem e estão começando a fundir-se com o ambiente sintético. Como resultado, estão todos cortando uns aos outros, alguns como um ato sexual e outros como arte performática. A Timlin de Stewart é descrita como um “inseto burocrático” no Registo Nacional de Órgãos, uma entidade governamental secreta que rastreia e controla novos crescimentos de órgãos para conter a síndrome de “Evolução Acelerada” que está tomando o mundo. Quando conhecemos Timlin, ela tem a voz estridente e trêmula, é um fantoche do governo, mas durante o filme, ela cai em um tipo de obsessão luxuriosa com Saul Tenser, personagem de Viggo Mortensen, um artista performático clandestino que está criando órgãos e removendo-os cirurgicamente no palco com a ajuda de sua parceira, Caprice (Léa Seydoux).

É uma performance esquisita e fascinante de Stewart, ficando ainda mais rica porque reflete sua própria vida como artista e um objeto de longa data de bajulação pública. A vida através do espelho que Stewart leva é ainda mais aparente em um lugar como Cannes: depois da estreia do filme na noite de segunda-feira, como tradição, um cameraman apontou suas lentes diretamente para o rosto de Stewart enquanto ela reagia à reação do público sobre o filme, transmitindo essa reação em uma tela gigante para todo o público, que então reagiu à reação dela. Na conferência de imprensa na manhã seguinte, Stewart foi cercada por fãs dentro e fora da sala de imprensa enquanto falava sobre interpretar uma personagem desesperada por um pedaço do objeto de sua própria fixação maníaca. Minutos depois do fim da conferência, encontrei Stewart – parecendo calma e elegante no estilo Cannes em um macacão vermelho da Chanel e grandes óculos de sol amarelo – para falar sobre fazer um filme sobre o consumo público enquanto é consumida pelo público.

Amei sua roupa. Como veio da conferência de imprensa e se trocou tão rapidamente?
Não me troquei, na verdade, o que é muito incomum para mim. Nunca fico tão arrumada por mais de cinco minutos.

Sim, eu a vi na festa ontem à noite e você tinha trocado sua roupa da estreia para jeans e um crop top.
Na verdade, eu tinha uma roupa que deveria trocar para assistir ao filme, e trocar para jeans depois, mas eu perdi. Fiquei com muita raiva de mim mesma. Fiquei sentada completamente sem conseguir respirar. Aquele top era muito pequeno para mim. Pensei: “Por que fiz isso comigo mesma?” Eu saí do cinema com uns cortes vermelhos na minha barriga. Combinou com o filme. Me cortei.

Então, como você acabou nesse filme?
David e eu nos conhecemos neste festival 12 anos atrás. Quando ele me ligou, ele disse: “Oi, querida, como vai?” Eu tinha acabado de ler o roteiro e tinha muitas perguntas sobre a origem dele e por que agora, porque parecia tão urgente e vital. Ele disse: “Na verdade, escrevi em 1996.” E eu disse: “Ah, legal, legal, então você é um oráculo, caralho.” Não querendo dizer que não estivemos nesse caminho por um bom tempo, em direção a uma certa destruição. Sem querer soar muito pessimista, mas é verdade. O filme se passa em um futuro que está em ruínas e não estamos muito distantes.

Não, é verdade.
Fiquei muito animada para interpretar a Timlin porque acho que ela é… mesmo que eu só tenha alguns minutos para entrar e contar uma história, é muito divertido ter apenas três cenas. Se você não acertar, vira um papel de parede. Timlin é tão fechada, auto oprimida, quer ser boa no trabalho dela e totalmente representa rigidez do governo em que estão vivendo. E ela passa por um despertar em um segundo. Uma grande declaração do filme é que a arte triunfa. Salva. É algo que não morre porque é algo que deixamos para trás, está fora do corpo, mas parece reflexivo. Então, foi muito divertido libertar meu lado esquisito. Raramente me pedem para interpretar personagens estranhas assim. Geralmente é tipo: “Venha interpretar a mulher forte enfrentando adversidades.” Eu penso: “Foda-se isso!”

A voz e maneirismos da Timlin… isso estava vindo diretamente de você ou foi algo discutido com David?
Realmente acho que ele escreveu dessa forma. Não sei se ele fez alguma referência para algum tipo de voz estridente, mas ela foi descrita como um pequeno gnomo esquisito e burocrático. Então, pensei: “Ok, acho que ela fala dessa forma.” Tentei mudar minha voz ao longo das filmagens. De início, estava completamente presa e, quando comecei a ficar obcecada por esse artista, tentei falar de forma mais completa para que ele pudesse achar sensual ou algo assim, tentando fazer uma imitação da Caprice. Léa Seydoux, ela é uma propaganda viva de sensualidade. Então, eu estava tentando ser ela no final.

Se não foi isso, que tipo de direção David te deu?
Muito pouco. Massagens pequenas e gentis. Tipo, se ele sentia que algo não estava certo, ele dizia: “Não faça isso. Não vá por aí. Não está muito certo.” Ou, se ele gostava de algo, dizia: “Está no caminho certo! Vá mais fundo!” Foi um apoio sutil. E ele nunca fazia mais de dois takes de nada, o que é muito assustador porque você pensa: “Calma!” Mas ele só quer seu primeiro instinto. Ele não quer que você se force. Há algo sobre a força ou pressão que é desonesto. E ele também não tem mais paciência. Ele diz: “Nope! Acabamos.”

A cena em que você coloca a mão na boca do Viggo como uma forma de seduzi-lo é tão estranha e boa. Estava no roteiro ou vocês criaram juntos?
Então, aquilo não estava no roteiro. Estou orgulhosa para caralho. É minha parte favorita do filme – pelo menos da minha parte no filme. No roteiro, era descrito com um “pas de deux”. Eles estavam meio que dançando juntos. E eu levei de forma muito literal, então fiquei com medo naquele dia. Pensava: “Como vamos aprender esse pas de deux?” E havia tanto diálogo. São coisas muitos estranhas de falar e, portanto, não são as mais fáceis de lembrar. O vocabulário em si era muito rico.

Então eu estava com medo! Eu disse: “Não vou conseguir dançar e continuar conectada com você.” Mas acabou sendo apenas eu correndo atrás do Viggo na sala. E no roteiro diz que em algum momento eu me encontro “entrelaçada com ele e enfio a língua em sua garganta”. É tão difícil se aproximar de alguém por quem você está obcecada. Minhas mãos tremiam porque só fizemos a cena uma vez. Então, pensei: “Se quero ser a Caprice, quero que ele me corte e quero cortá-lo, quero chegar o mais perto possível de sentir algo… Se eu não puder fazer isso, talvez possa deslocar a mandíbula dele, chegar o mais perto possível de sua cabeça e examinar a anatomia verdadeira de sua boca.” Então, não contei para ninguém que faria isso. Apenas disse: “Tudo bem se eu tentar fazer uma coisa e você me acompanhar?”

Massageei a mandíbula dele por um segundo para abri-la e então fui com tudo, tipo: “Como consigo mais de você?” E não precisamos fazer de novo. David entrou e disse: “Bem, esse foi um take extraordinário para caralho!”

Qual foi a reação do Viggo quando você fez isso?
Nos divertimos muito. Porque estávamos ambos um pouco intimidados com a cena, quando o David entrou e disse aquilo, literalmente olhamos um para o outro, tipo: “Acho que acabamos!”

Quando conversei com o David ontem, me surpreendi com o quanto ele é normal e gentil, o que ele diz acontecer bastante. Você se surpreendeu com ele no set?
Praticamente desde o início, sim. Até mesmo a forma como ele respondeu as perguntas na conferência de imprensa. A resposta mais simples vem de um lugar de sabedoria. Você não precisa complicar certas ideias. Tipo, “o corpo é uma realidade”. No começo, eu estava tentando enfiar esse conceito na minha cabeça: o que significa para mim e para o mundo, em cada nível? Mas ele disse: “Eu filmo pessoas.” É isso! É um corpo. Tudo isso é surpreendente. São conceitos realmente elevados, mas ao mesmo tempo nem tanto.

O relacionamento dele com a dor é um tanto admirável. Sinto que compartilhamos um certo instinto de gostar da dor. Não de um jeito masoquista, mas a dor anda de mãos dadas com o prazer. E não estou nem falando de forma apenas sexual. Digo que se você pode gostar da natureza excruciante de ter um corpo, significa que você também é capaz de aceitar as partes boas de uma forma profunda. Ele tem uma abordagem destemida e tolerante à vida que é contagiante. Parece que é seu pai ou avô dizendo: “Olha, estamos nisso juntos. E não há outra forma de sair daqui. É isso. [Ela bate nas coxas.] Então… aproveita.” É profundo e assustador. Mas há algo muito bonito nessa filosofia.

Eu sei. Eu perguntei se ele já tinha feito terapia e ele disse: “Não!”
Caralho. Você ficou tipo: “Estamos todos na terapia!”

Você disse na conferência de imprensa que o elenco voltava para o hotel no final do dia e dizia: “Que porra estamos fazendo?” Como eram essas conversas? O David chegava em alguma conclusão?
Acho que nunca chegamos em nenhuma conclusão. A parte mais legal de fazer um filme é que você descobre o motivo pelo qual está fazendo durante o filme ou depois. Eu tinha lido Sapiens: Uma Breve História da Humanidade e Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã [livros do autor israelense Yuval Noah Harari] antes de fazer esse filme, então eu já estava tentando entender por que penso do jeito que penso. Tipo, eu sou um completo produto do meu ambiente. Se eu fosse do Kentucky, talvez fosse pro-vida. A forma como os humanos chegaram aqui é uma loucura. Então, pensei: “Esse filme é sobre basicamente tudo o que você já considerou.” Como chegamos aqui? Somos capazes de mudar? Há alguma forma de nos unirmos?

A única maneira de como chegamos aqui é através de mitos compartilhados. Você acredita em uma coisa, portanto, é verdade. A única coisa que nos mantém unidos como sociedade é que contamos mentiras uns para os outros e falamos: “Concordo! Baby, estou com você. Acredito em você.” Nós inventamos tudo isso! Dinheiro, Deus, tudo. Quando digo Deus, quero dizer sexo, poder, arte, tudo isso. São palavras intercambiáveis para mim. Então, sim, tínhamos esse tipo de conversa o tempo todo. O que é preciso para fazer arte? O que toma de você e o que te devolve? Todos são artistas ou existem apenas algumas pessoas que são obrigadas a externalizar sua vida interna? Existem pessoas que só querem estar próximas disso? Ou tudo o que fazemos é arte? Tudo o que fazemos é político? Tipo, agora, o que estamos fazendo talvez seja arte. Quem está definindo o que é isso, porra? Quem é o dono? Faz total sentido que a arte seja radicalizada porque assusta as pessoas. Tudo isso é o que falávamos o tempo todo.

Então, conversa casual!
Sim! Também é muito engraçado. Eu li o roteiro e amei, mas não achei engraçado. Depois, no set, não tinha como não rir de tudo. O que David diz é realmente verdade: algumas das coisas mais difíceis que você faz, você dá risada. Porque essas emoções são paralelas.

Quando eu estava na premiere na noite passada e na conferência de imprensa hoje, as pessoas estavam me empurrando para tirar fotos de vocês. Fiquei chocada como tudo isso se relaciona com o filme, sua personagem e essa ideia de um fandom bajulador. Estou interessada em ouvir sobre sua experiência de estar aqui e ter as câmeras no seu rosto em relação à personagem que você interpreta.
Sempre fico dividida entre querer ser exibicionista, estar em público, aberta e mostrando tudo sobre mim, e ser protetora. Pensar que você é mal interpretada é super narcisista porque as pessoas estão apenas tendo suas próprias experiências com o que você está mostrando. Mas eu tenho uma aversão física que não consigo controlar. Eu estava no PGAs e estava me divertindo muito. Steven Spielberg estava atrás de mim! Era um lugar cheio de pessoas que tipo… eu era como uma criança em uma loja de doces. Então, esse cara com uma câmera fez assim [imita uma câmera no rosto]. O que é completamente normal. Sou atriz e estou em uma premiação. Tudo bem. E meu corpo literalmente fez assim [levanta os dois dedos do meio de forma sarcástica]. Eu não entendi. Pensei: “Kristen…” Mas não era como se eu estivesse com raiva por ele ter tirado minha foto. Foi apenas uma reação física estranha e imediata por estar sendo observada em um momento em que não esperava.

Em Cannes, só preciso focar nas coisas boas. Você pode olhar para as merdas ou pode olhar para as coisas bonitas do mundo. Então, pensei: “Ok, foca no David.” Esse filme é tão pessoal para ele. Precisei assistir ao filme para perceber que Saul Tenser é o David. Ele está escavando esses órgãos e tossindo-os, pensando: “Por quanto tempo vou poder continuar a fazer isso?” E eu pensei: “Duh, Kristen. Óbvio que é ele.” É um testamento para tudo o que ele já fez. Ele disse na conferência de imprensa que tudo o que faz é íntimo, mas esse filme parece pessoal de um jeito novo. Então, foquei nisso.

Depois, a câmera focou em mim e eu pensei: “Cara, volta para o David!” Também, por que tão perto? Minha nossa! Só um pequeno zoom seria ótimo. É literalmente um zoom microscópico. Fico tipo: “Sai!”

Como você se sentiu depois da premiere?
Antes dos créditos rolarem, estava um silêncio. Eu pensei: “Oh, as pessoas não sabem o que sentir. Não sabem se devem aplaudir ou não.” Parecia aquela porra do momento do Will Smith em que todo mundo pensou: “Sim? Não? Não. Ok, na verdade, não!” Tipo, as pessoas precisam olhar para a esquerda e para a direita para saber se batem palma? É muito para digerir de início, eu acho. Mas, para mim, o filme é simplesmente tão doce. Sim, estamos indo em direção a uma certa morte, com certeza. Mas há uma delicadeza no filme que, mesmo nas coisas nojentas, fiquei encantada com ele. Todos estavam falando sobre as saídas no meio da sessão e como foi intenso, mas eu estava: “Não é intenso! É muito bonito.”

Há um efeito de distanciamento e uma elegância nele.
Sim. É meio como visualizo o interior do meu corpo. Não é real. Parece tão delicado e sensível.

Existe uma parte no filme sobre uma “competição de beleza interior” e tanto você quanto seu colega de trabalho, Wippet, estão obcecados para Saul Tenser participar, inicialmente em nome da “beleza”, mas também pelo “poder de popularidade” dele. Quase parece uma crítica às premiações e festivais como Cannes. É essa a sua experiência em ser “consumida” como uma celebridade?
Parte de mim realmente ama isso – o romance que David escreveu chamado Consumed. Nós queremos digerir uns aos outros. É o mais perto que você pode chegar de alguém. Há partes ruins e as pessoas se perdem nisso. É legal quando você não se perde. Se você realmente consegue ser, tipo, presente no seu desejo e obsessão, é uma coisa. Mas deixar isso cair no esquecimento? Wippet é tão obcecado com o poder de popularidade de Saul e, naquele momento, ele realmente sabota todo o trabalho: “Oh, a beleza, a beleza, não consigo me afastar!” Eu penso: “É a beleza ou você está entrando em um frenesi por conta da popularidade?”

Você sabe claramente quais atores gostam de atuar e quais só gostam de ser famosos. É tão óbvio, tão claro. Por que não dizemos logo? Digo, eu falo, mas as pessoas que só querem estar no centro das atenções poderiam dizer: “Eu amo! É por isso que comecei a trabalhar nisso.” Em vez de falar: “Oh, é a arte!” Eu penso: “É mesmo?”

Mas, novamente, o que estou fazendo é sentar aqui e tentar definir o que é arte para outras pessoas. O problema sobre fazer essas entrevistas por 20, 30 minutos, é que você começa a pensar: “Tudo o que eu disse está errado. Na verdade, sinto o oposto de todas as formas.”

Você está tipo: “Desconsidere tudo isso.”
Eu fico correndo atrás do meu próprio rabo.

Mas você parece ter desenvolvido um entendimento e relacionamento saudável com tudo isso, estando nesse mundo – e em Cannes – por tempo suficiente para chegar em um nível de igualdade. É uma avaliação justa?
Sim. Não me deixa mais com tanto medo porque nunca nada de ruim realmente acontece. Mesmo quando o pior acontece, você pensa: “Ah, estou bem.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil