Em entrevista para o site CBR, Kristen Stewart e Steven Yeun falaram sobre como abordaram interpretar uma boia e um satélite no novo filme Love Me. Leia:
CBR: Kristen, no começo do filme, a boia imita uma influenciadora chamada Deja para convencer o satélite de que ela está viva. Essa imitação então a leva a desenvolver uma identidade própria. Como foi sua abordagem para essa performance? Personagens diferentes, os mesmos ou uma mistura dos dois?
Kristen Stewart: Há uma congruência que nos une, até pessoas que parecem ter vindo de lados totalmente diferentes do mundo. Então, acho que a boia não pode ser nada além de mim. E quando digo isso, quero dizer eu mesma, porque o nome da minha personagem é ‘Me’. Mas não consigo ser ninguém além de mim mesma.Acho que a boia consegue olhar ao redor e sentir inveja de certas coisas que tornam a vida mais fácil, que fazem as pessoas gostarem de você. Acho que todos nós fazemos isso, inegavelmente, o tempo todo. Mesmo que você seja autoconfiante. Não existimos sem o outro. Eu não saberia como existir a menos que eu observasse outras pessoas “existindo”, de certa maneira. E então eu meio que escolhi meu próprio caminho. Então, todos os personagens são muito congruentes. Acho que eles têm muita sobreposição.
CBR: Isso é muito adorável, e tem a ver com a mensagem de Love Me, especialmente considerando que filmes com personagens que são influenciadores tendem a zombar deles. O filme trata a Deja como uma pessoa sincera e ela inspira a boia a se tornar uma versão melhor e mais completa de si mesma.
KS: Sim, tentamos não ser muito severos com nossos influenciadores porque eles são tão vulneráveis. É como se ela fosse a boia. Deja também está desesperadamente tentando se conectar, embora não esteja sendo muito sincera. Há uma honestidade nisso.CBR: Steven, sua performance como satélite foi tão cheia de nuances. No começo do filme, você captura o tom de um assistente de inteligência artificial, o que diminui conforme o satélite se torna mais consciente de sua identidade. Você abordou interpretar o personagem como se ele sempre tivesse consciência e não soubesse?
Steven Yeun: Não sei.
KS: Tipo, consciência da consciência. [Risos].
SY: Acho que sim. Tentei não pensar muito nisso. Se serve de algo, a experiência de filmar em sequência foi reveladora conforme avançamos. E eu não sei se cheguei a entender o que é consciência e percepção daquele ângulo, mas pensei no começo que o satélite era pura função. E ele é próspero sendo apenas “função”.Quase como se ele estivesse feliz em se render a ser só uma coisa necessária. Dessa forma, ele fica em paz, na verdade, porque não precisa se referir a si mesmo. A vida dele é “eu só faço isso e é isso que eu faço.”
CBR: Então, é como se a consciência fosse imposta ao personagem contra a vontade dele?
SY: Para então ser despertado ao ver o próprio reflexo é uma experiência chocante e maluca. Quando ele conhece a boia, é tipo: “Ah, você me conhece? Me descreva, por favor. Me ajude a saber quem eu sou.” Mas depois se torna: “Espera. Acho que não sou assim?” Então, ele entra em conflito com isso, para então entender que a boia na verdade o libertou e, dessa forma, o tirou da estagnação.Então, não sei se foi um passo-a-passo consciente. Se vale de alguma coisa, foi isso que foi tão divertido em atuar com a Kristen. Parecia uma experiência avançada e que se revelou, e o exercício era quase sair do caminho do filme, se tornar daquele jeito. Foi uma loucura.
KS: É como se você precisasse de um empurrão para sair da existência pré-definida. Não sei, um típico homem! [Risos] Só quero dizer que o cara é alguém que precisa dizer: “Maneiro. Eu faço essa coisa. Tenho um emprego. Tenho meu valor e sou funcional.”CBR: Bem, sem entrar em spoilers, o satélite nunca para de fazer o trabalho dele, não é?
SY: Sim, eu entendi a beleza dessa função também. Há uma simbiose com o paradoxo da função e identidade e, para mim, o que amo no nosso filme é que ele não toma um lado.
O filme é a imagem completa. Especialmente porque nosso mundo agora parece tão literal e binário. É revigorante experimentar algo que você não conhece. Sou flexível, e sou tão rígido quanto sou flexível.
KS: É como quando você encontra certas pessoas na vida e de repente sente que voltou para o jardim de infância. No sentido de que você é essencialmente fundamental para si mesmo, mas também totalmente subdesenvolvido. Você pensa na possibilidade ou em se sentir jovem com a outra pessoa. Sinto que esses dois personagens — porque o filme é simbólico, uma metáfora, e obviamente não é baseado na realidade — pensam: “Oh, precisávamos nos encontrar para deixarmos de sermos apenas funcionais.”