Desde que anunciou que dirigiria uma adaptação do livro de memórias de Lidia Yuknavitch, The Chronology of Water, em 2018, Kristen Stewart ainda não conseguiu o financiamento para que o filme saísse do papel. Em uma recente entrevista para a Variety, Kristen dá detalhes sobre os obstáculos que anda enfrentando com sua estreia como diretora. Leia:
No Festival de Cannes em 2018, Kristen Stewart anunciou que sua estreia como diretora seria uma adaptação de The Chronology of Water, o livro de memórias de Lidia Yuknavitch publicado em 2011. Desde então, Stewart tem trabalhado duro para angariar financiamento para o projeto, mas apesar de seu histórico de estrelar alguns dos filmes independentes mais bem criticados nos últimos 10 anos — desde Acima das Nuvens até Spencer — e apesar do fato de que Imogen Poots foi contratada para o papel de Yuknavith e de que Ridley Scott está produzindo através de sua produtora Scott Free, Stewart não conseguiu garantir o apoio necessário para seguir com o projeto.
Essa experiência frustrante fez com que Stewart fizesse um anúncio surpreendente sobre The Chronology of Water durante a entrevista para a capa da Variety.
“Vou fazer esse filme antes de trabalhar para outra pessoa” diz ela, antes de soltar uma risada nervosa. “É, vou sair dessa porra de indústria. Não vou fazer outro filme até dirigir esse. Pode anotar, com certeza. Acho que isso vai fazer as coisas andarem.”
A atriz de 33 anos estrela dois filmes no Festival de Sundance, o delicioso suspense policial lésbico Love Lies Bleeding e a ficção científica romântica Love Me. Ela também filmou um papel coadjuvante na comédia independente Sacramento, ao lado de Michael Cera, Maya Erskine e Michael Angarano, que está estreando como diretor do filme. Mas além disso, sua agenda está vazia, e ela não pretende preenchê-la até que The Chronology of Water seja feito.
Alcançar esse objetivo, no entanto, tem sido “quase impossível”, diz Stewart. “A situação atual é um grande não com N maiúsculo para qualquer coisa que ainda não tenha sido provada.”
Stewart sabe que um dos obstáculos é que ela quer recriar a prosa não linear e de fluxo de consciência de Yuknavitch com a intenção de evocar o tumulto vago da memória como experiência cinematográfica, enquanto retrata como os traumas pessoais e sexuais da autora alimentaram seu vício em álcool mesmo quando ela pretendia ser uma nadadora profissional.
“Acho que existe toda uma linguagem feminina ainda a ser escrita”, diz Stewart. “Há uma certa fisicalidade no tipo de filme que eu quero fazer que acho que será, no roteiro, pouco atraente para “compradores”, mas na prática, é completamente comovente. Não tem sido fácil vender dessa forma. Não se trata do enredo. Se trata de uma pessoa fazendo a manobra de Heimlich em si mesma e contextualizando os motivos pelos quais essa pessoa engoliu sua própria voz a vida toda.”
A cineasta Rose Glass, que dirigiu Stewart em Love Lies Bleeding, leu uma versão do roteiro que Stewart escreveu com o marido de Yuknavitch, Andy Mingo. “É realmente maravilhoso”, diz ela. “Tenho certeza de que será um desafio. Tem algumas imagens intensas e entra em lugares que deixarão pessoas desconfortáveis, mas de um jeito interessante.”
Na entrevista para a Variety, Stewart também discute explorar um espectro maior da experiência feminina além da “qualidade heteronormativa” que ela dá créditos por alavancar sua carreira como atriz, e quer levar isso para The Chronology of Water.
“Existe algo na natureza sincera da nossa fisicalidade, e digo isso de modo vaginal — o fluxo, o sangramento”, diz Stewart. “Podemos absorver muita negatividade e exalar muita beleza, e o filme é sobre isso. Mas sai desse orifício nojento e sangrento que negligenciamos desde sempre, e isso precisa ser discutido. Precisa ser mostrado fisicamente nos filmes. Precisa ser observado, reconhecido. Sinceramente, precisa ser adorado.”
Em uma indústria na qual Greta Gerwig pode faturar 1,4 bilhão transformando uma boneca de plástico em um tratado sobre feminismo, pode-se esperar que alguém veria o potencial valor em ajudar uma das atrizes mais famosas e aclamadas de sua geração a criar seu próprio salmo sobre feminilidade… mas essa não tem sido a experiência de Stewart.
“Eu nunca fiz um filme antes, então me falta experiência… e portanto, me falta credibilidade”, Stewart diz, repetindo o feedback que continua recebendo. Stewart já dirigiu antes: ela estreou um curta metragem chamado Come Swim no Sundance em 2017 e dirigiu um videoclipe estendido para o grupo boygenius em 2023. Porém, ela diz que não tem sido o suficiente. “Eles dizem: “Não sei se ela está certa.” E eu respondo: “Bom, estou! Tenho feito isso a minha vida inteira.’”
Glass concorda. “Ela obviamente tem feito isso a vida toda, e dá para sentir quando ela está no set. Ela é parte da equipe, de verdade”, diz a diretora. “Gostaria de pensar que ela havia conseguido o financiamento fácil, porra. Que ridículo. Alguém deveria financiar.”
Apesar dos obstáculos, Stewart permanece otimista. Ela tem certeza de que vai acabar fazendo o filme na Europa, e tem esperanças de que sua viagem ao Sundance, onde pretende ficar o festival inteiro, fará com ela se conecte com outros cineastas passando pelos mesmos problemas.
“Sinto que posso superar um obstáculo agora porque… vou me expor, porque é o que eu faço… eu fiz buscas por esse filme, vi lugares, pessoas, rostos e locações que se abriram para mim e não me falaram grandes nãos, e eu só chorei o tempo todo”, diz Stewart, batendo as mãos. “Mal posso esperar para ir ao Sundance. Mal posso esperar para fazer meu filme.”