Kristen Stewart e o diretor de Spencer, Pablo Larraín, conversaram com o Deadline sobre como deram vida ao filme sobre a princesa Diana, dando detalhes sobre todo o processo. Leia mais:

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Qual foi o ponto de partida de Pablo Larraín e Kristen Stewart para o filme que se tornaria Spencer? Os dois se olham e riem.

“É uma pergunta plausível”, diz Larraín.

“E um começo de conversa plausível”, Stewart concorda.

Mas também é impossível para eles saberem como responder. “Dependendo de como respondermos, a conversa pode ir para qualquer lado, então qual será?”

A verdade, é claro, é que houve milhões de pontos de partida. “Nós poderíamos articular diferentes versões e todas seriam verdadeiras”, diz Larraín. Existem as tangíveis: a fascinação com Diana que os dois compartilham, o roteiro de Steven Knight que focava na narrativa de um período de três dias durante um ponto de virada no relacionamento de Diana com a família real, o desafio claro de trazer vida para uma figura que significou muito para tantas pessoas.

Larraín, por exemplo, viu sua própria mãe na história e encontrou um ponto de conexão com outro filme seu em inglês, Jackie, que contou similarmente uma narrativa contida de uma mulher icônica logo após o assassinato de JFK. Para Stewart, Diana era uma figura “maneira” cuja morte teve um impacto nela, embora tivesse apenas sete anos na época. Ela também era obcecada com a série da Netflix, The Crown, e fascinada pelo funcionamento interno da desconhecida família real.

Mas houve outras razões para fazer Spencer que, até hoje, nenhum dos dois consegue explicar totalmente. Um tipo de energia que os atraiu para o set do filme – um palácio enorme na Alemanha se passando pela casa de Sandringham. Havia uma energia no set que eles nunca queriam deixar ir embora, e a história que estavam contando parecia um momento de vitória para Diana enquanto ela tomava a decisão de abandonar “a firma”… Embora nunca tenham perdido de vista o que aconteceria com ela em seguida.

O que os atraiu para o filme, então? “Há algo na simplicidade disso que é provavelmente o mais profundo”, diz Larraín. “Apenas existe um filme nela.”

“Nada mais”, adiciona Stewart. “Isso é tudo.”

Existe um aspecto nesse filme que parece que foi formado enquanto vocês estavam filmando. Obviamente, vocês tinham um roteiro e estrutura sólidos, mas o filme parece muito orgânico, até mesmo sublime. Era desse jeito no set?
KRISTEN STEWART:
O roteiro é escrito de forma muito precisa e possui um sentimento muito composto, mas o jeito que foi capturado parece muito como se você tivesse pegado algo que está caindo de uma mesa antes que se despedace no chão.

Você talvez pensaria que, com um filme que aborda um assunto tão cobiçado e bem noticiado como esse, haveria mais ensaios. Nós conversamos muito sobre o roteiro e aprendi minhas falas palavra por palavra. Eu nunca vivi com o sotaque, mas passei muito tempo fazendo isso ser uma coisa física e involuntária que, quando chegamos lá, havia intenções incorporadas e tesouros escondidos em todo lugar.

Como encontramos essas coisas: tudo parecia passageiro. Parecia que não tínhamos muito tempo para filmar, então não mapeamos nada ou ensaiamos. Ou até mesmo… não havia uma lista de cenas. Todos os dias entrávamos naquele espaço, sabendo as cenas de cor e pensando: “Nossa, me pergunto como isso vai ficar. Me pergunto como irão desenrolar.”

E sempre pareceu como se tivéssemos uma harmonia que nos permitia ser desorganizados, mas que sempre capturamos no último momento. Nunca me senti invisível. Nunca senti como se algo que estivesse internamente em mim não estivesse de forma física no cômodo. De alguma forma se materializava de um jeito estranho que todos conseguíamos tocar. Porque algumas vezes vocês sentem essas coisas e não estão falando a mesma língua. Você pensa que está fazendo, mas não está sendo traduzido.

Nesse caso, planejar tão pouco e então ver o filme se apresentar… é o jeito mais divertido de trabalhar, mas também é assustador porque se não tivermos a combinação certa de pessoas, você vai pensar: “Oh, cara, não estamos fazendo nada.”

PABLO LARRAÍN: Era absolutamente o grupo certo. Todos que admiramos tanto. Pessoas como Jacqueline Durran no figurino, Guy Hendrix Dyas na direção de arte, Jonny Greenwood na música, Claire Mathon na fotografia, e todos os atores ingleses incríveis.

Mas eu estava pensando naquela palavra que você usou: sublime. Esse filme se passa em um mundo muito incomum para todos. A família real não é nossa realidade de nenhuma forma, mas o filme também é de época. Se estivéssemos fazendo um filme com essa distância nos anos 80, ele se passaria nos anos 50. 30 anos é muita coisa.

Então, você combina a distância de época com uma falta de conexão natural com essas pessoas que são isoladas em suas próprias tradições, história e lógica. Entrar nisso e sentir empatia é muito difícil. E não é preciso, eu acho… até o ponto em que Kristen te deixa entrar. É onde tudo muda. Se isso não tivesse acontecido, haveria sempre um vidro entre o público e o filme, e o filme seria muito diferente. Seria mais frio.

Poderia ser interessante…

KS: Eu ia dizer, quanto mais você descreve, mais penso: “Estou dentro!” [Risos]

PL: Pode ser. Existe essa ideia de arte que você observa o objeto e nunca se vê refletido nele, e isso cria uma distância muito interessante e te emociona de um jeito diferente. Mas existem outros tipos de arte, e exercícios cinematográficos, em que a dança da empatia se torna muito interessante e depende de quem você é para determinar isso.

Tenho escutado algumas entrevistas que nossos chefes de departamento estão dando, e é incrível como todos abordaram Diana de um jeito diferente. Todos possuem uma opinião diferente. Claire é francesa, Guy é inglês. Steve, também, e ele disse que em um mundo tão difícil quanto o atual, ter a chance de focar em alguém como Diana foi um alívio. De repente, você volta e entende que uma pessoa que foi tão relevante e famosa por tantas razões é, no final, tão humana. Precisamos dela aqui, agora. Seria incrível tê-la por perto. As pessoas se relacionam com ela em suas vidas normais.

KS: Ela nasceu uma líder nesse sentido. Você realmente se inspira em pessoas assim, não em um sentido literal, mas de uma forma que te faz sentir mais próximo de ser humano. Você olha para ela e pensa: “Gosto da minha espécie.” Ela é maravilhosa, é uma força encorajadora. É uma coisa tão poderosa e tão rara, mas pessoas assim chegam ao topo por uma razão.

Durante sua pesquisa, você concluiu que ela queria ser líder assim? Deve ter existido amor entre ela e Charles no começo, mas você acha que ela queria aquela oportunidade de falar com as pessoas?
KS: Desde muito nova, ela disse que sabia o que iria fazer, que ela seria muito importante. Ela ligou isso à ideia de que se casaria com alguém muito importante, e foi muito antes do Charles ser um aspecto literal em sua vida. Está em todas as entrevistas e todos que a conheciam quando criança dizem: “É tão louco, mas ela disse isso.” Ela sempre disse que estaria destinada a algo maior.

PL: Quando li isso pela primeira vez, senti que sugeria uma sensação de verdadeira tragédia.

KS: Certo, porque há essa mentalidade estranha e isoladora mesmo antes dela se encontrar, antes de sua situação ser a própria solidão. Ela sempre estava se separando um pouco da multidão. Havia certas coisas que ela não fazia, certas coisas que evitava. Ela era uma pessoa muito extrovertida, mas ao mesmo tempo não era. Estava se guardando, literalmente. Ela sabia, de alguma forma muito estranha e psíquica, que havia algo para preservar se quisesse ser aquela pessoa no final.

Acho que ela sabia que queria se casar com alguém muito importante para que pudesse, por osmose, ficar mais próxima desse poder. E, especialmente durante aquela época, era o que ensinavam para as meninas. Esse é o único jeito que mulheres se tornam importantes. Dessa perspectiva, nesse momento atual, isso é loucura, mas antigamente era assim.

Ela queria estar com o Charles? Acho que ela acreditava no conto de fadas. Ela falou sobre a bolha estourar e a queda ser violenta porque a crença era verdadeira. Ter essas fantasias e desilusões em uma idade tão jovem, então a pressão subsequente de ter que perpetuar algo que não era somente mentira como também doloroso, é muito para uma pessoa que está começando a desenvolver a habilidade de ser um humano nesse planeta. Ela mal está na casa dos 20 anos e tem um bebê. É demais. Lembro de ter essa idade e não consigo imaginar ter essa experiência retraída e ser julgada de forma tão dura pelo jeito que ela funciona no mundo. Que chances ela tinha?

Na verdade, ela fez um trabalho tão bom. Nem demorou muito para reviver o amor que foi tirado completamente dela, mesmo que ela tenha cedido voluntariamente. Mas claro, voluntariamente nos termos de quem? Em termos irreais.

Talvez isso seja o que é tão compreensível, também. Inerente à condição humana está a noção de que a satisfação é ilusória porque sempre haverá advertências em nossos sonhos.
PL:
Algo marcante para mim sobre ela são suas palavras após o acidente de carro. Alguém vai em seu auxílio e ela olha para a pessoa e pergunta: “O que aconteceu?”

KS: E não é literal. Algo nessas palavras soam como referência para sua vida inteira.

PL: Não é: “O que aconteceu nos últimos 10 minutos?” É: “O que aconteceu?” É uma pergunta maior. E isso é o destino mais comovente e absurdamente doloroso.

KS: Oh, nossa. Mesmo agora… Era algo que me ocorreu tantas vezes enquanto estávamos filmando, essas palavras ecoavam na minha cabeça o tempo todo. Perguntar isso para alguém que você nem conhece.

Nesse mundo estranho em que ela existe como personagem na minha cabeça, imagino que ela tenha falado essas últimas palavras para alguém que ela não conhecia, alguém não a conhecia e não havia percebido quem ela era quando disse isso. Ele não sabia imediatamente quem era a Diana, estava apenas ocupado lidando com esse acidente horrível. Para ela pedir ajuda a um estranho porque não havia ninguém próximo dela…

Os filmes obviamente contam histórias muito diferentes, mas o momento da morte de Diana foi um evento sísmico para o mundo, assim como o assassinato de JFK. Pablo, você viu algum ponto de conexão entre Jackie e Spencer?
PL:
Não nesse sentido, porque acho que a família real é uma mitologia inglesa, enquanto Diana é universalmente pessoal. Não é a mesma coisa e acho que o motivo pelo qual as pessoas se importam com a família real é porque são fascinados pelo melodrama. Isso é tudo, principalmente fora do Reino Unido. No caso da Diana, as pessoas se veem refletidas nela.

Acho que Spencer e Jackie são filmes muito diferentes. Talvez por termos filmado o assassinato de forma tão gráfica – naquele filme, queríamos que fosse gráfico. Todos que filmaram o assassinato de JFK antes, fizeram de longe, e nós colocamos a câmera dentro do carro porque queríamos ver o impacto que isso causou nela. Mas com Spencer, fomos na direção contrária. É muito menos gráfico porque não estamos naquele momento [de sua morte]. Estamos longe da tragédia. Estamos em outro momento, e é um em que ela está decidindo se afastar daquela casa e daquela família.

KS: É um momento de vitória.

Spencer é tão interno. Nós seguimos a perspectiva de Diana tão de perto que as pessoas ao redor dela existem nos limites. Ela precisa decidir se os deixa entrar, e raramente deixa. Mesmo assim, como público, precisamos sentir que ela nos deixou entrar, nos sentir refletidos nela. Quando você está fazendo um filme assim, o quão essencial é confiar em seu próprio instinto de como seguir essa linha?
KS:
Acho que é realmente essencial tornar isso pessoal, porque o que você disse é a chave: todos são refletidos, então a sua reflexão é válida. E é a única que vale a pena examinar porque você não pode fazer isso com todas ao mesmo tempo. Não há um jeito de interpretar a figura histórica perfeita de Diana. Ou de qualquer pessoa, mas especificamente ela, por causa do que você acabou de dizer. Então, como Pablo disse, todos os chefes de departamento a abordaram de formas variadas, e acho que essa colaboração é a chave e é totalmente essencial que as pessoas se sintam livres para se expressar com um diretor que irá ouvi-los.

Quando um filme é único e aparece por si só, seja bom ou ruim – foda-se o bom e o ruim, é seu próprio monstro – é porque sempre é canalizado por essa pessoa. Um bom diretor consegue pegar o egoísmo de todo mundo e ser ainda mais egoísta. Canalizar por suas próprias lentes. Se você consegue sentir que um filme é completamente seu, e você nem é o diretor, isso é marcante. Esse é o sentimento certo, mas é uma ilusão porque o filme na verdade é daquele diretor. É o melhor sentimento porque quando você se sente assim, você consegue ter propriedade. E sinto que esse filme é meu.

PL: Acho que o que você está dizendo é muito importante e muito bonito, mas eu adicionaria que, pessoalmente, gostei de cada momento que fiz esse filme com você.

KS: Eu também.

PL: Normalmente, quando terminamos, ficamos exaustos. Como disse para você quando terminamos, eu continuaria filmando. Terminamos em Londres e não foi tão prazeroso porque tinha muita imprensa e se tornou outra coisa.

KS: Bem, foi interessante porque éramos nós que estávamos sendo caçados naquele momento.

PL: Sim, é claro, mas quando estávamos naqueles espaços bem controlados na Alemanha, naquela casa enorme, chegávamos e parecia que todos estavam se divertindo muito.

KS: Cara, é muito estranho como isso foi divertido para mim. Foi como um barato estranho. Havia uma intoxicação absoluta acontecendo, um sentimento feliz, super exuberante e esvoaçante. Mesmo quando estávamos fazendo cenas que eram excepcionalmente tristes e pesadas.

Pablo descreveu o filme como um meteoro que estava passando para lá e para cá, e estava queimando. Há uma natureza histérica nisso. Mas também, como dizíamos, Diana era uma pessoa tão maravilhosa que sentimos sua luz refratada por todos os lados do nosso set. Mesmo que fossem apenas nossas imaginações, nos conectávamos através delas um com o outro, e parecia que estávamos usando drogas. Foi tão legal, tão bom.

É muito divertido ser forte, poderosa, engraçada e sexy.

PL: Não dá para ficar melhor que isso. O que você disse é muito bonito e verdadeiro, fez todo mundo colocar alegria no filme. O trabalho pode ser pesado e exaustivo, mas o material era tão fascinante. Os lugares, as pessoas.

Lembro de quando nos falamos pelo telefone pela primeira vez, Kristen, eu disse: “Você sabe que será uma jornada longa. Vamos ficar juntos por muito tempo e espero que funcione.” E você disse: “Sim, sim, eu sei…”

KS: Sim, porque não dá para saber [risos].

PL: Não dá para saber. Mas foi um momento incrível. É claro, no começo é assustador por causa do assunto e dos materiais humanos na história. Mas o cinema é feito passo a passo, certo? É um processo lento que envolve centenas de pessoas correndo, mas no final, é só uma câmera em poucos atores, e é um momento de silêncio. Tudo acaba em algo muito específico acontecendo em um momento breve de tempo. “Vamos estar presentes aqui, agora.”

Eu estava com medo antes de começarmos a filmar por conta dessa roda de desejo que pode te levar para qualquer lugar, mas quando começamos, gostei muito e senti que todos estavam se divertindo.

KS: É tão raro não se tornar um trabalho fatigante em algum momento. Aquele sentimento de: “Merda, ok pessoal, consigo ver que estão cansados e que estamos no 28º dia, mas são 37…” Quando ainda temos tanto para fazer, mas já fizemos muito, sabe? Honestamente, nunca me senti assim.

Houve um certo momento em que fiquei um pouco cansada de andar, porque o único jeito de dar um propósito para essa montagem era filmar um pouquinho a cada dia, mas também era a sessão de terapia mais linda e meditativa de uma cena que nos carrega pelo filme inteiro.

Nunca houve um ponto em que senti que estávamos relaxando ou que precisávamos encorajar a equipe. Normalmente, sempre há um momento em que o ator traz um caminhão de sorvete para o set [risos]. Sempre há o momento do: “Porra! Precisamos do caminhão de café!” Não lembro se fizemos algo assim, mas realmente não precisávamos. Estávamos realmente animados.

Pablo, aquele momento de silêncio que você descreveu, depois que uma equipe de centenas de pessoas montaram uma cena, quando você grita ação. Descreva o sentimento desse momento para você.
PL:
É o único jeito. Especialmente na era das máscaras, todos estão andando com os rostos cobertos e tudo o que eu tenho para me comunicar são meus olhos. Nós olhávamos um para o outro e sabíamos quando conseguimos esse momento. Falávamos: “Estamos caminhando!” ou “Chequem a lente!” porque filmamos com filme, então tínhamos que esperar a porra da lente ficar boa.

KS: Minha nossa [risos].

PL: Algumas vezes tinha pedaços de filme na lente ou algo assim e tínhamos que tentar novamente.

KS: Isso era um saco. Digo, é uma das belezas de filmar com filme – especialmente filmes de 16mm, o que torna essa situação de pedaços-na-lente mais complicada. Mas é um erro de ator jovem pensar que não há uma nova entrada no momento e que, na maioria das vezes, se você já fez uma vez, você consegue ir mais fundo se fizer de novo. Houve muitos momentos assim nesse filme.

E nós ficamos tão bons em nos comunicar usando máscaras, mesmo de longe. Houve momentos em que eu pensava: “Boom, acabamos”, então tínhamos que fazer novamente, mais de uma vez, porque a primeira tinha ficado uma merda. Às vezes me ocorria que teríamos que reexaminar um momento que viveu completamente. Mas isso também era legal.

PL: É uma coisa louca porque você sabe que aquela tomada com o pedaço de filme ainda é útil, certo? Fica ainda mais caro porque você precisa limpar.

KS: Sim, e quando ele me disse isso, não estava no começo da cena. Era quase no final [risos]. Eu fiquei: “Ohhhh…”

PL: Mas ao mesmo tempo – e olha, não quero entrar nessas besteiras místicas, mas eu acredito em certas coisas que o cinema cria e o que a filmagem com filme cria. Há um ritmo. Você precisa carregar, descarregar e não é barato. Todos os atores sabem quando você começa a filmar. Você precisa ficar quieto e ser preciso. Não é como no digital que pensam: “Oh, estava filmando? Eu nem sabia.” Cria uma tensão diferente e boa, então se tem pedaço de filme na lente, ok, vamos de novo.

Trabalhei anos da minha vida para tentar fazer filmes como se fossem completos acidentes, mesmo com nenhum roteiro. E esse foi um exercício de controlar tudo até o momento em que realmente estávamos filmando. É uma abordagem diferente e amei, o que sai disso é um exercício ainda mais sofisticado por causa de como você chegou lá.

KS: Nunca preparei um filme assim na vida e nunca me senti mais livre. Pode ter sido contraintuitivo para mim como uma atriz jovem, mas na verdade, de forma estranha, é a forma de realmente atuar. É a forma de voar através de algo.

Nós cortamos isso. Parecia um pequeno passo na frente do outro a cada dia. Gosto de filmar fora de ordem, especialmente em filme como esse em que não era como se eu tivesse que mostrar uma enorme diferença de idade. Nesse sentido, gostava de dias que tinham uma cena do começo do filme e outra do final porque fez tudo parecer muito próximo.

PL: E possível. Porque tira muito peso das suas costas. Se você está fazendo o filme inteiro cena por cena, você só enxerga o que ainda está por vir. Ao filmar fora de ordem, é apenas esse pequeno momento. Apenas essa ideia. Só foque nessa coisinha, depois na outra e na outra.

KS: Quem sabe o quão diferente seria o filme se sorteássemos um outro baralho de cartas na programação. Se tivéssemos uma razão diferente para fazer do jeito que fizemos. Você aprende certas coisas e então as leva para o próximo dia, constrói sobre a cena que pode vir antes ou depois. Você não sabe como. Se tivesse sorteado o baralho de forma diferente, isso seria informado.

Houve momentos em que você queria voltar para algo que já tinha feito por causa do que aprendeu mais tarde?
KS:
Não. Para ser honesta, talvez alguns momentos, mas a minha reação imediata para o que você está perguntando é não. Talvez tenha pensado demais em uma ou duas coisas, porque realmente queria que ficassem boas, mas nunca disse: “Hey, você acha que podemos voltar?” Porque se precisássemos fazer isso, normalmente estávamos em uma posição de poder voltar e fazer de novo.

PL: É tão incrível quando você trabalha tanto em volta de algo e quando isso realmente acontece, é tão rápido. Aquele momento de captura é tão breve.

KS: Eu sei. Algumas vezes conseguíamos a cena e você dizia: “Devemos fazer de novo? Podemos, já que estamos aqui.” Mas, muitas vezes, seria a primeira ou segunda tomada que provavelmente acabaria no filme, então se tornava: “Vamos provar mais uma vez porque depois disso, acabou. Essa é a última refeição.”

PL: É como música. Algumas vezes você escuta uma música que você gosta e imagina que aquela pessoa talvez só tenha tocado uma vez. Você passa anos da sua vida escutando aquela música e só levou três minutos para gravarem. É incrível.

KS: É, não importa se foi tocada um milhão de vezes desde então, porque aquela gravação aconteceu apenas uma vez. Sempre tenho flashes visuais deles escrevendo as músicas ou gravando. Me imagino lá.

PL: Assisti ao trailer do documentário dos Beatles de Peter Jackson, e eles estavam preparando a música ‘I’ve Got a Feeling’. Essa música vai durar para sempre e a criação dela é de outro mundo. É incrível como o tempo é só uma percepção estranha. Algumas vezes, no set, você sente que está flertando com coisas que não entende completamente, mas a captura disso é rápida, e é legal que seja rápida. Eu não gosto de fazer 50 tomadas. No máximo, talvez, fizemos 12, mas a quantidade normal era 3 ou 4.

KS: Há um ciclo em que as primeiras tomadas funcionam e são verdadeiras, então algo despenca, mas você continua e empurra isso para tentar voltar. É torturante e punitivo como processo, mas pode ser frutífero em algumas ocasiões. Mas não é uma sensação boa, é ruim. Quando você tem dificuldade de fazer qualquer coisa, eu não sei se vale a pena. Não é que deveria ser necessariamente fácil, mas deveria parecer natural.

PL: Não estou falando de você, mas já trabalhei com atores que esperam, eles não acertam na primeira tomada. Fazem de forma devagar e esperam sete ou oito tomadas, então tratam as primeiras quatro ou cinco como ensaio. Nesse filme, ninguém trabalhou assim. E com a Kristen liderando…

KS: Eu faço o oposto. Começo em 11 e vou diminuindo.

PL: Então, quando estamos trabalhando com atores que não estão presentes o tempo todo, eles chegam, percebem e honram isso, então só precisamos de poucas tomadas. Cria uma tensão boa em todo mundo, desde os atores até o extrator de foco, todos.

KS: Isso que eu ia dizer. Estou trabalhando por muito tempo, então seria uma falsa modéstia não reconhecer que foco e ritmo podem ser controlados. O absurdo de fingir ser outra pessoa é constrangedor de forma inerente, e faz outras pessoas ficarem constrangidas não por ser estranho, mas porque é realmente vulnerável e, pelo menos de primeira, é ridículo pra caralho. O único jeito de empurrar isso e não construir essa estranheza, é elevar ao máximo possível. Talvez seja demais, mas na próxima tomada você pode diminuir.

É muito desesperador ter pouco tempo de tela em um filme tão intenso quanto esse. Você tem poucas oportunidades de encontrar seu personagem, então é difícil. Muito difícil. É muito legal poder dizer para esses atores: “Não vamos trabalhar demais nisso. Vamos tirar o Band-Aid agora.” As pessoas ficam entusiasmadas e surpresas por estarem com vergonha de ser vulneráveis ou sei lá o que. Realmente é a melhor parte. Você precisa liderar com confiança, mesmo que seja falso no começo. Precisa mergulhar de cabeça.

Isso se estende ao seu desejo de criar? Sem querer ser sombrio, mas você, de alguma forma, sente o tique-taque do tempo finito que está no planeta?
KS:
Engraçado, eu estava pensando em algo similar sobre esse assunto em geral dois dias atrás porque tive esse medo existencial imediato. Tive a sensação de desgraça iminente que, se parasse, seria realmente assustador. Eu tenho amigos e uma cadela, tenho uma vida que parece normal e pessoal, no sentido de que minha vida inteira não é apenas trabalho. Mas, basicamente, vou de uma coisa para a outra, e sempre tenho uma tonelada de coisas acontecendo ou sempre estou tentando encontrar a coisa. Se isso parasse, seria assustador.

Então, tive esse pensamento de, se eu perdesse meu maior interesse, eu teria razão para existir? E isso se torna: “Para o que serve a vida?” São coisas que às vezes você pensa enquanto bebe café. Não acontece o tempo todo, mas outro dia eu disse: “Porra, graças a Deus tenho uma coisa ou outra para me manter ocupada, porque não posso ficar contemplando o infinito o tempo todo.” É super viciante, somente um jeito de estar presente, sabe? [Risos].

PL: No meu caso, acho que você nunca sabe realmente o que está fazendo. É uma coisa estranha falar sobre um filme porque, pessoalmente, preciso chegar a um entendimento do que eu quero dizer sobre ele. Se torna um processo, mas existe algo no desejo do próprio cineasta de encontrar você naquele lugar desconhecido com materiais que podem ser fascinantes e perigosos ao mesmo tempo. Existe algo que te puxa, te deixa existir, o que é tão simples. “Como seria tão fascinante assistir a Diana?” É tão simples.

Lembro do primeiro dia, Kristen chegou e eu estava com a minha câmera, e pensei: “É isso!”

KS: Realmente pareceu loucura [risos]. Foi tão confuso e estava um frio congelante, mas antes daquele momento, antes de realmente irmos fazer o filme, parecia que estávamos brincando de nos fantasiar porque não estávamos fazendo nenhuma cena.

Houve um momento em que Pablo me disse para voltar e começar de novo. Ele disse: “Apenas relaxe, desacelere, e abrace o filme inteiro. Entre e abrace o filme inteiro.” E não foi uma cenas, mas foi a cena.

Todos me perguntam qual foi o primeiro momento em que senti o personagem ou senti que realmente tinha acertado, mas pude realmente sentir no primeiro momento em que éramos apenas nós três juntos – Claire, Pablo e eu. Vi Claire sair de trás do visor sempre com o mesmo olhar de: algo aconteceu. Era como se tivéssemos visto o mesmo fantasma.

PL: Sabe o que também aconteceu naquele dia? Lembro do momento exato que você está contando, quando você andou até a janela, mas também foi o primeiro momento em que ficamos quietos novamente, certo? E eu ouvi os saltos…

KS: Sim! No chão de madeira. Tão assustador.

PL: Nesse momento, entendi algo que era importante para o filme, que eram os saltos. Ela está presa nos saltos, então a conexão que ela tem com aquele espaço é através de seus pés. Você os usou até mesmo em close-ups, certo, Kristen? Talvez você tenha usado tênis quando estava dançando porque não era possível.

KS: Eu estava com medo [risos]. Eu realmente estava com medo de cair. Eu até comentei com eles: “Se eu cair, não cortem. Não peçam para ninguém correr até mim.” Porque temos homens no set – o que agradeço, especialmente certos caras maiores como coordenadores de dublês, montadores ou operadores de câmera. Eles literalmente estão lá para cuidar de você e naturalmente iriam correr e perguntar se está tudo bem. Eu disse: “Sério, se eu quebrar minha cara no chão de mármore e vocês não filmarem… Eu juro!” [Risos].

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil