Durante a divulgação de Spencer, Kristen Stewart e o diretor, Pablo Larraín, sentaram para conversar com a revista Town & Country sobre o filme. Confira:

Pablo, como você teve a ideia de fazer um filme sobre Diana?
Pablo Larraín:
Há uma fascinação pela Diana como pessoa e personagem. Pode ter vindo de assistir minha mãe, entre milhares, de luto por sua morte em 1997. Diana era uma pessoa enigmática e misteriosa que passou por muitas coisas que pareciam longe da nossa realidade, mas na verdade são bem próximas com nossas dificuldades atuais. A resposta mais verdadeira é que apenas parecia certo. Ela tinha uma história incrível e uma vida fascinante, então queria fazer um filme sobre ela.

Você fez Jackie, sobre Jacqueline Kennedy Onassis, e então esse filme. Você mantém um arquivo de pessoas interessantes que poderiam ser ótimos assuntos?
PL:
É um processo lento. É assustador no começo, mas eventualmente você se acostuma com a ideia. Sempre se resume em: “Por que não?”

Me contem sobre a primeira vez que vocês se encontraram para discutir o projeto. Como isso aconteceu?
Kristen Stewart:
Nossa primeira conversa não foi muito articulada, era realmente sobre um sentimento. Eu acho que a razão pela qual somos tão curiosos sobre a Diana é que você sente o peso das questões que são imediatamente insinuadas – imagine fazer um filme sobre essa vida! Nós todos compartilhamos essa fascinação por essa pessoa e a minha não foi desenvolvida até meus 7 anos, quando ela faleceu, e lembro de como as pessoas ficaram abaladas com a perda. Eu não havia assistido nenhum documentário ou acompanhado a história, mas não importava. Quando Pablo disse o nome dela, eu pensei: “Ufa, isso vai ser pesado.”

O amor de Pablo por ela era tão aparente e eu estava tão curiosa para saber o motivo. Eu sabia que ele era um diretor incrível, então se ele está em um caminho, quero saber onde isso vai dar, especialmente se for sobre entender essa figura desconhecida. Eu disse sim para Pablo e para Diana, sem pensar em mais nada, e para a ideia de que ele não estava tentando cobrir todas as bases ou reafirmar o que já sabemos sobre ela, mas viver nesses momentos nas entrelinhas em que ela está realmente respirando. É um sonho febril. Nós podemos andar em círculos o dia inteiro: ela é uma mulher fascinante, mas ainda não a conhecemos.

Algumas das coisas mais estranhas nessa história não são momentos de ficção, mas baseadas em fatos, como a família real sendo pesada – e gostando – na chegada a Sandringham. Como vocês se sentiram?
KS:
A coisa do peso é real. Nosso filme é sobre fuga, uma história sobre libertação – e não havia nada do que fugir –, sobre nascer com esse pensamento cíclico e perceber que tudo o que você foi ensinada não é verdade. Existem todos esses rituais insensíveis que parecem ruins e acho que é uma questão de quebrar ciclos. Aparentemente, eles realmente gostam desse costume e eu não tenho nenhum sentimento específico sobre isso, mas fico feliz que ela saiu porque queria. Ela saiu por uma porta que não estava trancada e é nisso que meu pensamento está.

Alguma verdade sobre a vida dela naquela família surpreendeu vocês?
PL:
Vou repetir o que ouvir do roteirista Steven Knight, que fez uma pesquisa extensiva. Ele disse que muitas coisas que pareciam verdade não estão no filme porque parecem inacreditáveis.
KS: Pode parecer tão ridículo para uma pessoa normal que pensarão que estamos zombando deles.
PL: São tantos anos de protocolos e tradições que, se você os colocar na câmera para as pessoas que vivem uma vida contemporânea, podem parecer absurdas, como se estivéssemos fazendo uma comédia de humor ácido.
KS: E esse é um campo traiçoeiro. Também não é como nos sentimos.
PL: Se você for um pouco além, parece uma paródia. Se for muito além, é um esquete do Saturday Night Live e tentamos evitar isso. Ficamos com a percepção da Diana e quando uma pessoa assim te deixa entrar, você a enxerga e o que ela está vendo. Isso era mais relevante. Também havia coisas que aconteciam por trás de portas trancadas que nunca ficaremos sabendo.

Há elementos de terror nesse filme, momentos que se inclinam para a natureza de pesadelo de sua situação.
PL:
Você tem uma personagem que está passando por um momento difícil e está tendo uma crise com sua saúde mental que se torna um distúrbio alimentar e, eventualmente, ela passa a ver coisas que não são reais. Nós também vemos tudo através dela. Há cenas em que estamos vendo o que ela está vendo e o que ela está sentindo se torna real para o público. Na linguagem do cinema, entendo que precisamos colocar as coisas em caixas. “Isso é terror psicológico” nos faz entender um ao outro.
KS: É tão satisfatório chamar algo pelo nome, nós queremos fazer isso de modo instintivo.
PL: Mas não é exatamente minha motivação. Quero estar com ela e ver o que ela está vendo. Certas coisas que são uma ilusão – extensões de sua memória ou estresse mental – podem ser levados como terror psicológico. E não estou dizendo que não é.
KS: É assustador pra caralho, Pablo! A vida interna das pessoas é tão incomunicável e uma coisa que os filmes nos permite fazer é traduzir isso de um jeito que parece refletir uma experiência real. Eles são uma família verdadeira e tenho certeza de que há amor e carinho. Eu sou totalmente uma pessoa de fora e não estou tentando presumir nada, mas temos algumas reflexões direto da fonte, então é uma tentativa de pegar alguém e virá-lo do avesso. Não é literal, mas é verdade.

O filme termina com ela saindo do fim de semana um tanto triunfante. É um momento alegre em vez do fim triste que estamos acostumados. Foi importante dar isso para ela?
PL:
Acho que é um curativo mais do que qualquer coisa. Ela está pronta para seguir em frente – e seguiu. Ela deixou aquela família e percebeu que seu tempo naquela instituição tinha terminado. Uma das coisas mais interessantes sobre as pessoas que vivem nessa vida, é que algumas vezes eles só querem ser normais. Há pessoas que querem ter a vida dela, mas o paradoxo é que ela pode querer a deles. Nós encontramos All I Need is A Miracle [música de de Mike + the Mechanics] para tocar na cena e foi muito bonito.
KS: Eu amo o quão literal é. Aquela música completa a história. Ela está tocando e Diana está com os filhos e você fica [suspiros]. É uma manobra de Heimlich emocional e ela finalmente engoliu o que precisava para se tornar quem era. Ela finalmente sai e está se sentindo triunfante, e não temos que falar o que aconteceu no final do filme – todos nós sabemos – mas podemos lembrar você que ela conseguiu o que queria. Quando o filme termina, você fica com essa perda inarticulada. Já assisti ao filme três vezes e fico devastada por horas depois do fim.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil