Kristen conversou com a W Magazine durante o NYFF e falou sobre seus projetos em exibição no festival, Certain Women e Personal Shopper, e também contou sobre um novo projeto, sem revelar muitos detalhes, que acontece no ano que vem! Confira:

Dizer que 2016 está tratando Kristen Stewart bem seria uma subestimação grosseira. Ano passado, a atriz de 26 anos se tornou a primeira americana a ganhar um prêmio César (o equivalente francês ao Oscar) por sua performance em ‘Clouds of Sils Maria‘, de Olivier Assayas. Desde então, ela estrelou em nada menos do que cinco filmes, incluindo ‘Café Society‘, de Woody Allen, e a história de amor distópica, ‘Equals‘. E no New York Film Festival no Lincoln Center agora, ela aparece em três projetos: a irmã de um soldado que está voltando do Iraque em ‘Billy Lynn’s Long Halftime Walk‘, de Ang Lee, uma assistente de celebridade e médium de luto pela morte de seu irmão gêmeo no suspense ‘Personal Shopper‘, de Olivier Assayas, e uma advogada-professora que prende a afeição de uma fazendeira em ‘Certain Women‘, de Kelly Reichardt que estreia dia 14 de outubro.

Em um dia agradável de outono, Stewart, que Assayas recentemente considerou “a melhor atriz de sua geração,” está sentada em seu quarto de hotel cuidando de um resfriado e falando em um fluxo acelerado de multi-cláusula, com frases repletas de palavrões que sugerem que a sua boca mal consegue manter o ritmo de seus pensamentos correndo por sua cabeça. Vestida em uma jaqueta de couro, camisa branca e mini shorts, ela parece tão sem filtro e franca como a imagem crua que ela projeta na tela.

Sua personagem Beth em Certain Women é um pouco complicada. Nós só a vemos pelos olhos de outra pessoa [Jamie, a fazendeira]. Como você se sentiu a respeito disso? E como você se aproxima de alguém que é um desconhecido para o público?
Há um afastamento que eu tive que sair de mim mesma para conseguir. Alguns personagens que você interpreta podem revelar aspectos de você mesma que não são aparentes até você ficar, “Oh, wow, eu tenho um pouco disso.” Beth está nessa fase de sua vida onde ela não está cedendo muito para outras pessoas. Ela teve que se isolar e não de um jeito malicioso, mas eu acho que ela é super egoísta, você entende o que eu digo? Tão cansada e auto protetora. Beth é super… não fechada, mas muito cuidadosa. E eu acho que sua presença está dentro dela em algum lugar. O que para mim, é tipo, muito diferente. Eu sou completamente diferente disso. Ela é quieta, muito silenciosa, ela está exausta e totalmente deseja algo que ela sente que nunca vai ter, o que para mim é validade. Ela quer se sentir válida. Eu acho que isso é uma fala no filme. Todas elas querem algo que não podem ter. Ou estão contra um objeto imóvel. Todas estão fazendo um trabalho monótono. E não é de auto-engrandecimento. Não é como uma típica história feminina comercial onde ficam, “Essas mulheres estão lutando por uma grande causa e sua moral.” É pequeno. São histórias que você normalmente não foca – elas não são comuns, são muito bonitas em sua irregularidade. Há essa oposição a estrutura, a forma como as coisas são. Você tem uma mulher [interpretada por Michelle Williams] em um casamento que obviamente brinca com a dinâmica convencional. E então você tem outra mulher [interpretada por Laura Dern] que está reconhecendo a natureza sem sentido da burocracia e como os homens não escutam as mulheres quando elas falam nesse ambiente. E então você tem uma menina que só quer uma amizade e está procurando no lugar errado. E então outra menina que quer ser válida e está procurando por isso no lugar errado. E ninguém resolve nada. Nenhuma delas. [Kelly Reichardt] mostra para você essa batalha silenciosa e é isso. E isso é a vida. Nem todas as coisas que valem a pena fazer um filme encontram uma solução. Ou, nem todas as coisas que valem a pena fazer um filme são fáceis de descrever em uma linha devagar. É difícil para mim dizer para as pessoas sobre o que é esse filme. Tipo, eu não sei, mulheres em Montana? Vivendo lá? Vivendo a vida?

Jamie pode estar procurando uma amiga em Beth, mas também há um romance sutil lá.
Ela não sabe muito bem como se sente sobre a Beth, mas ela tem uma queda, com certeza. E ela não sabe porque se sente estranha ao redor dela.

Você acha que Beth possui alguma ideia do impacto que ela causa em Jamie?
Eu realmente acho que quando Jamie vai até o escritório dela no final, ela fica tipo, “Que porra é essa.” É muito doloroso. Oh, cara, é doloroso demais. Não é um caso de amor não correspondido, mas eu sinto um soco no estômago. Lily Gladstone está tão boa nessa cena. E é muito pequena. Ela não faz muito, é só, “Bom, eu sabia que se eu não começasse a dirigir, eu nunca a veria novamente.” E eu fico tipo, “Yeah… tchau!” É terrível! É tipo, “Aww, cara!” Eu realmente não acho que a Beth olha para ela em algum momento. Eu quase não olho para ela. Eu fico olhando para a minha comida, meu celular, me perguntando que horas são, tenho que ir para o carro… E eu normalmente interpreto a pessoa que está observando outra pessoa em silêncio.

Eu estava pensando nisso enquanto eu assistia e me perguntando se foi difícil para você ser a pessoa que…
… Está falando merda! Sim, foi doloroso. É estranho porque, como atriz, a maior parte da minha experiência tem sido ser incrivelmente observadora e é estranho ter que desligar isso e recuar. Não do jeito que eu normalmente recuo. Isso foi frio, muito frio. Eu me sinto mal por pessoas assim. Algo vai acontecer com a Beth e ela vai perceber o quão fundo ela se enterrou e que ela não está bem com tudo.

Os filmes da Kelly são muito, muito silenciosos. Poucas coisas acontecem, mas ao mesmo tempo acontecem muitas. Você já esteve em filmes maiores e mais demonstrativos. Como foi trabalhar com uma diretora que a estética é tão calma?
Eu amo os filmes dela. Eu acho que eles não se parecem com os filmes de mais ninguém. É muito vulnerável fazer nada na tela ou no set. A maioria dos atores crescem acostumados a mostrar algo. Você mostra para as pessoas como você está se sentindo, você conta uma história. E nesse caso, é muito mais vulnerável e notável quando você apenas não faz nada. Ela filma por um tempo muito longo, as tomadas demoram bastante. Há algo muito bonito sobre sobre coisas comuns e sobre a vida. Você pode escrever uma história e então entregar para alguém, mas então isso não é verdadeiro. Então, o único modo de capturar algo que parece muito autêntico é sentar e esperar isso acontecer. Muitas pessoas não possuem paciência para isso, e a maioria não está disposta a correr riscos assim. É um risco. E ela realmente cria um ambiente e preenche isso com fé. Ela permite que você esteja confortável em não estar no controle de nenhum jeito. Não há nenhuma expectativa. Normalmente em um filme você possui lados, você possui suas cenas e marcas no chão, e há coisas que deveriam acontecer na hora que gritamos “Corta!” E para ela não é assim. E o que você acaba vendo são pessoas vivendo.

Em Certain Women, você faz parte de um pequeno pedaço, enquanto em Personal Shopper você está em praticamente todas as cenas. O quão exaustivo foi o papel da Maureen? Ela passa por muita coisa emocionalmente.
Bastante. Eu tinha terminado de filmar Café Society em Nova York, o que foi adorável, só diversão. Mas ainda assim foi difícil. Eu não tive nenhum dia de folga entre os dois. Eu peguei um avião e começamos a filmar dois dias depois. Acho que subestimamos a carga de trabalho. O filme acabou sendo difícil pra caralho. Nós trabalhamos seis dias por semana, dezesseis horas por dia. E foi bom porque você consegue o visual. Eu pareço muito cansada e louca no filme, o que foi perfeito! Uma perda traumatizante, especialmente para alguém que já é muito neurótica e muito contemplativa, especialmente a morte de um gêmeo… Ela não consegue achar sentido em nenhuma das suas perguntas existenciais. Nada possui uma resposta e ela não está bem com isso. Para qualquer pessoa que lida com ansiedade e não consegue processar o espaço, tempo, ter uma fisicalidade e uma alma, todas essas perguntas básicas – “Estamos sozinhos?” e “Isso é real?” – essas perguntas são assustadoras, mas são as que você abafa. Esse é um filme sobre alguém que se perdeu completamente em um ponto onde todas essas coisas são debilitantes. E meu Deus, isso seria horrível. Eu cheguei – nem perto disso, mas eu posso entender a dificuldade mental. Mas nunca fui tão fundo. Então isso foi terrível, e eu também nunca parava de correr. Estava muito frio e solitário. Ela é a pessoa mais solitária que eu já interpretei. Ela é completamente sozinha. Ela se isolou totalmente e é triste. E então ela passa por crises estranhas de identidade? Ela fica tipo, “Eu sou atraída por essas coisas, mas eu não respeito isso.”

Sim, ela possui uma relação complicada com todos os itens de moda que ela consegue para sua cliente famosa. Por um lado, ela está encantada, por outro, ela está assustada. Estou curiosa para saber como isso funciona para ela, mas também para você. Você é alguém que está no mundo da moda, você é modelo da Chanel, mas isso não a define. Como você se sente sobre mergulhar o dedinho do pé lá e então sair?
Na moda, as pessoas que amam fazer isso, fazem bem e naturalmente. Essa é a razão pela qual eles são os mais famosos no ramo. Porque eles são artistas, cara, e uma das coisas mais legais sobre meu trabalho é poder estar ao redor de outras pessoas pessoas fazendo essas coisas. E não é o que eu faço, mas vem do mesmo lugar. Então, para mim, é legal fazer parte da visão de alguém. É algo que sempre gostei. E, para não soar ridícula, criar imagens icônicas que dizem algo. Eu sei que parece bobo, mas contar uma história com figurino, colocar no cenário certo e andar corretamente – é muito bonito para mim. E também, essas pessoas são muito inteligentes. Todos que trabalham na Chanel e todos os figurinistas são lindos artistas e as pessoas mais legais que eu já conheci. Não é o que eu faço, mas eu amo estar perto disso, então funciona para todo mundo. Mas eu também reconheço e também desprezo o outro aspecto que esse mundo atrai, o que é muito óbvio… não somente a superficialidade, mas, tipo, pessoas más. Vadias muito agressivas! Desculpa. Pessoas muito agressivas. Pessoas que andariam sobre o seu corpo morto. Então essas pessoas não são artistas, e esse é o motivo pelo qual a moda tem uma má reputação. Mas eu achei um mundo muito diverso. No filme, a Maureen ama isso. Ela realmente admira isso e ao mesmo tempo, ela acha que não é merecedora. E é tipo, “Que porra estou pensando? Por que estou pensando que eu poderia…?” Mas então, ela é muito obcecada com isso. Ela olha para si mesma e fica, “Eu não sou assim. Eu quero ser assim, mas nunca serei.” Então ela pensa novamente e acha besteira, mas ela quer.

Você mencionou vulnerabilidade mais cedo ao se referir ao trabalho com Kelly. Há um tipo diferente de vulnerabilidade em Personal Shopper, em termos de nudez e cena de sexo. Isso foi algo que você hesitou?
Eu não fiquei apreensiva. Foi ótimo com o diretor (Olivier Assayas), também. As cenas que eu não estou com roupa ou nas cenas que parecem “risqué” na perspectiva de uma outra pessoa, não houve reconhecimento da parte dele. Eles são muito franceses. Nós somos mais estranhos com coisas desse tipo. Você meio que tem que sair de si mesma para isso. Eu não tenho vergonha, mas no contexto da história, há muita vergonha. Ela vive e respira vergonha e culpa. Então é legal ver alguém despido, completamente nu. Há uma força nisso. A sexualidade no filme é tão solitária e isso é uma das coisas mais tristes. Ela não está com ninguém. A cena de sexo? Completamente sozinha. Ela está interagindo com uma pessoa falsa em um celular. E há algo completamente cru sobre isso, e sem essas coisas seria muito diferente. Eu acho que as pessoas são muito, muito cuidadosas com isso. É algo para ser cuidadoso, essa foi provavelmente uma má escolha de palavras. O corpo das mulheres e o jeito com que elas querem revelá-lo, deveria ser algo precioso, eu não quero dessexualizar isso de algum jeito. Mas ao mesmo tempo, eu não sou neurótica quanto a isso. Eu sou muito aberta. Eu acho que as pessoas se preocupam demais com isso, para ser honesta, mas esse foi meio que o motivo pelo qual eu disse que iria fazer.

Você mencionou ansiedade mais cedo quando estava falando sobre as perguntas existenciais da Maureen e você já falou anteriormente sobre seus problemas com a ansiedade. Ser uma atriz e crescer na frente de todos do jeito que você fez foi provavelmente a pior coisa que uma pessoa com ansiedade poderia ter feito. Parece quase masoquista.
Eu sou masoquista pra caralho.

A ansiedade reduziu para você? E o que continua te movendo? Você está basicamente fazendo algo que, como você descreveu, é o contrário do que sua natureza iria querer para você.
Sim. Realmente é o contrário. Honestamente, eu não fazia um dia de entrevistas em algum tempo e isso é ótimo e eu realmente gostei. É totalmente legal. Mas de manhã eu estava, “Merda!” Eu realmente tenho que me esforçar. Constantemente eu fico, “Okay, faça isso logo!” Eu me sinto assim com projetos que eu escolho. Há um filme no ano que vem que eu irei fazer e eu conversei com o diretor outro dia e fiquei, “É muito estranho, eu leio o roteiro e é tão fácil pra mim, eu deveria fazer.” Mas então em outras partes eu fico, “Oh Deus, isso vai me matar.” E é quando eu fico mais animada. É quando eu fico com muita energia.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil