Ryan Gilbey, do The Guardian, fez uma visita no set de Personal Shopper em dezembro durante o período de filmagens do filme, e entrevistou membros da equipe que falaram sobre Kristen para o jornal. Confira o relato traduzido abaixo:

Numa manhã fria revigorante de dezembro, uma casa de campo completa com gramado e jardim com treliças abriga um estúdio no subúrbio de Praga. Dentro, Kristen Stewart está fazendo uma cena do suspense supernatural Personal Shopper. Olivier Assayas, o roteirista-diretor responsável por adular uma performance reveladora da atriz de 26 anos em Acima das Nuvens, está supervisionando. Naquele filme, ela era Val, uma assistente blasé e direta ao ponto de uma estrela insegura interpretada por Juliette Binoche. O trabalho de Stewart para Assayas fez dela a primeira americana a ganhar um prêmio César, que na França é equivalente ao Oscar. E segundo rumores que chegaram em Praga, o New York Film Critics Circle também concedeu um prêmio para Stewart. “É uma verdadeira possibilidade agora que ela podia ganhar uma indicação ao Oscar,” diz Charles Gillibert, o produtor de Acima das Nuvens e Personal Shopper, enquanto andamos lentamente pelo set. (Ela não está conosco.)

Faço uma nota mental de parabenizar Stewart quando sentarmos mais tarde para uma conversa. No entanto, há notícias ruins da produtora, Sylvie Barthet. Os últimos dias foram inesperadamente difíceis para Stewart, e a agente dela pediu a permissão para ela se concentrar somente em sua performance. Ainda assim, nunca se sabe: as pessoas mudam de ideia, oportunidades surgem. Verei o que vai acontecer. Deram-me fones de ouvido e uma cadeira na frente de um monitor para assistir a cena que está sendo filmada.

Este é um momento crucial na carreira de Stewart. Após tirar dois anos de férias seguindo o fim da franquia Crepúsculo, ela voltou com uma lista de filmes que transmitem sua intenção de enterrar Bella para sempre. Em Camp X-Ray, ela interpretou uma guarda na Baía Guantánamo; uma cena, na qual um detento a cobre com fezes, provou que ela estava disposta a sujar as mãos, junto com todo o resto. Depois Acima das Nuvens despiu Stewart de suas camadas de proteção. Filmes com Woody Allen (Café Society) e Ang Lee (Billy Lynn’s Long Halftime Walk) seguiram. É um período ocupado. Um amanhecer, você diria.

No último filme de Assayas, o qual ele descreve como uma espécie de companheiro de Acima das Nuvens, Stewart interpreta Maureen, uma personal shopper das estrelas. Ela e seu irmão gêmeo, Lewis, que são médiuns, fizeram um pacto: qualquer um deles que morrer primeiro fará contato com o outro além do túmulo. Quando Lewis morre, Maureen vai para a casa dele esperar por um sinal. Na cena sendo filmada esta manhã, ela e namorada de Lewis, interpretada por Sigrid Bouaziz, estão discutindo sobre reuniões espiritas. Após a quarta tomada, Assayas fala: “Muito bom.” Após a quinta. “A última.” Em cada uma, Stewart traz sua minimalista e intensa marca registrada: as feições angulares, a boca cerrada e o olhar penetrante contêm tensões infinitas e misteriosas. Sua antena parece nunca parar de girar.

Entre tomadas, Bouaziz, também com 26 anos, pergunta a sua co-estrela sobre uma palavra que aparece em uma de suas falas: deselegante. “Pode significar, tipo, cafona,” Stewart explica. “Eu sabia a palavra,” Bouaziz me conta mais tarde, matando o tempo entre arrumações no set. “Mas amo perguntar para Kristen porque ela me conta como pessoas jovens falam em inglês.”

Bouaziz é levada embora para inspecionar alguma mobília que será usada na próxima cena. Sua personagem é uma carpinteira, e o produtor de materiais fez três cadeiras para ela e Assayas escolherem. Para um observador casual, parece uma versão extraordinariamente sombria de Cachinhos Dourados e os Três Ursos. “Ela é muito complexa,” o diretor decide, andando com seu Golas azul marinho. Ele continua. “Esta não tem a forma certa.” Uma pausa. “E esta é…” A certa? Quase. “Remova o tecido,” ele diz pensativamente. “Está 80% aí.”

“Há estúdios em Hollywood pedindo para Olivier fazer filmes,” Gillibert me conta enquanto tomamos café. “Ele pode fazer o que quiser. Ele está fazendo o cinema europeu.” Ele vê um paralelo entre Assayas e Stewart. “Como Olivier, Kristen se desafia. Eu vi em Personal Shopper como Oliver tem que se adaptar por causa do que ela está fazendo com sua personagem. Ele me contou: ‘Ela está desafiando as cenas! Eu pensei que ela ia fazer isto, mas ela está fazendo aquilo.’ Com Kristen nada é insignificante. Tudo torna-se significante pelo que ela faz.”

Quando a equipe faz uma pausa para o almoço, eu sento ao lado de Assayas enquanto ele come sopa e salada na tenda do bufê. Ele está com o cabelo grisalho desgrenhado e as sobrancelhas pretas como marca de pneu. Stewart está sentada em alguns bancos mais longe, lendo mensagens de texto e brincando com uma amiga. “Ela é uma gênia,” diz o diretor de 61 anos. “Ela tem uma compreensão instintiva do cinema e uma precisão extraordinária do conhecimento da estrutura. Ela nunca é entediante – ela sabe como fazer qualquer tomada ser instigante.”

Não era a intenção dele fazer dois filmes consecutivos com Stewart. Mas quando uma produção americana entrou em colapso no último momento, ele escreveu Personal Shopper. “Eu escrevi este filme muito rápido e acabou como um tipo de continuação do nosso primeiro filme juntos. Acima das Nuvens abriu portas para mim. Coisas que eu não era capaz de tocar antes eu podia fazer: mistura realidade e elementos artísticos, lidando com o invisível.” Em ambos os filmes, Stewart interpreta uma mulher à margem da riqueza e da fama. Personal Shopper é o trabalho mais alienado que você pode encontrar,” ele explica. “Você lida com aparências, mas nem é para você mesmo. Maureen está fazendo um trabalho que ela não gosta, e o filme é sobre ela tentar chegar a um acordo com sua própria identidade. Ela é mais sombria que Val. E o filme é mais sombrio. Acima das Nuvens pode ser visto como uma comédia. Este não pode.”

Stewart está fora da tenda, gorro cobrindo suas orelhas, cigarro na boca. Quando está na hora de voltar, finalmente, alguém fala no rádio: Kristen está viajando.” Eu ando lentamente com Assayas até a casa de campo. É diferente dirigir Stewart desta vez, ele diz. “Tudo era filtrado por Juliette antes. Eu não estava forçando Kristen até seus limites. Tratava-se de transportá-la para uma área diferente para que pudesse fazer coisas que ela não tinha experimentado antes. Agora, trata-se mais de levar ela o mais longe que pudermos.”

A tarde será ocupada por uma filmagem de um flashback com a participação de Maureen e Lewis, que é interpretado pelo ator norueguês Anders Danielsen Lie. Não há notícias da agente de Stewart, então decidi ligar para Peter Sattler, o diretor-roteirista de Camp X-Ray, para ter alguma ideia da razão pela qual ela é tão esquiva. Kristen gosta de viver o momento no set e preservar a sensação de mostrar a cena em certo momento para o mundo todo,” ele explica. “Ela responde ao que está acontecendo lá, então nunca parece que ela está simplesmente lendo as falas. Eu parava uma cena quando ela não esperava, para confundi-la. Ou eu iria critica-la propositalmente para irrita-la. Ela ficaria como, ‘Você está fodendo comigo?’ Ela ficava muito brava. Eu dizia, ‘Estamos fazendo um filme muito, muito minúsculo e você é uma das maiores estrelas do mundo. Você vai ser uma diva?’ Ela dizia, ‘Não, eu entendo. Estou lá.’ E ela estava. As pessoas vinham no set e diziam, ‘Onde a Kristen está?’ Ela estaria bem ali, no figurino, falando com a equipe. Este é o rosto da Chanel, pelo amor de Deus!”

A filmagem foi para o interior da casa de campo e não tinha um lugar para eu ficar sem estar no meio do caminho de todo mundo. Posso passar outra hora ou duas olhando para um monitor. Ou posso observar a parte de trás da cabeça de Stewart pela rachadura na cerca do jardim. Está ficando escuro. Caminho penosamente pela lama até a cabine onde é o escritório da produção. Eu bato na porta e pergunto a Barthet se tem um carro para eu ir até o aeroporto agora.

Ela parece um pouco surpresa, mas procura saber se tem um motorista disponível para me levar. Eu sento na mesa de um de seus colegas de trabalho. Avisto uma nota anexada à um envelope A3. Está escrito: “Querida Kristen, eu gostaria de gentilmente pedir se você pode autografar estas fotos.”

De repente, me sinto muito depressivo. Esta é uma produção europeia pequena e de prestígio dirigido por um diretor muito aclamado e destinado para a competição em Cannes. Não podia ser mais distante de Crepúsculo. E, ainda assim, todos continuam clamando por um pedaço de Kristen Stewart. Eu me incluo nisto, junto com a pessoa anônima querendo o autógrafo dela.

Ainda assim, seria errado dizer que foi uma jornada desperdiçada. Quando meu motorista me pegou na noite anterior no aeroporto, ele me deu uma sacola de guloseimas de Personal Shopper, que continha meia garrafa de vinho branco. Eu não encontrei um saca-rolhas no meu quarto de hotel, então tentei usar um lápis. Tudo que aconteceu foi quebrar o lápis e reduzir a rolha à migalhas. Então liguei para recepção para pedir um saca-rolhas. Após o moço d serviço de quarto abrir a garrafa, eu dei uma gorjeta de 200 koruna checas, que é um pouco mais de cinco libras, porque eu não tinha moedas.

Então, basicamente, eu destruí um lápis e adquiri uma pequena garrafa de vinho. Quando se trata de Kristen Stewart, no entanto, eu nunca passei do status de vitrine.

Fonte | Tradução e Adaptação: Ingrid – Equipe Kristen Stewart Brasil