Kristen Stewart concedeu uma entrevista exclusiva para a matéria de capa da Vanity Fair France, onde ela fala sobre sua infância, fama e claro, Clouds of Sils Maria. Confira:
Com 24 anos, ela já possui uma grande quantidade de fama por ser a estrela dos blockbusters. Ela teve seus primeiros amores em baixo do foco de luz dos paparazzi e descobriu a maldição que Hollywood dá para aqueles que não dão o que querem. Após dois anos sem falar com a mídia, a atriz está retornando – obviamente – onde não esperávamos: em um filme francês de Olivier Assayas. A atriz tem a oportunidade de discutir com Ingrid Sischy sobre as confusas semelhanças entre essa ficção e sua realidade.
Quantas pessoas podem se gabar de ter lobos híbridos como animais de estimação? É o caso de Kristen Stewart, uma premonição estranha para aquela que foi Bella Swan na saga ‘Twilight’, a adolescente com coração à moda antiga, romântica, o motivo de riso de sua escola que se apaixonada por um vampiro e cuja melhor amigo se transforma em lobisomem em certas ocasiões.
Atrizes que possuem coragem de quebrar os moldes de Hollywood não crescem em árvores nos Estados Unidos. Quando você é sortuda o bastante para cruzar com elas, você tem que agarrar a oportunidade. Particularmente quando essa atriz cresceu em Los Angeles com dois pais trabalhando na indústria do cinema e da televisão – porque foi assim que Kristen Stewart terminou nas telonas. Ela não é uma “riquinha”, protegida por um casulo de celebridade e/ou uma quantidade enorme de fortuna, fechada em uma mansão em Beverly Hills, rodeada de uma perfeita sebe alta. A infância de Kristen Stewart, em San Fernando Valley, foi completamente o contrário. Seus pais, Jules Mann-Stewart e John Stewart eram empregados das celebridades, e eles sabiam muito bem como alguns deles podem tornar sua vida um inferno.
Quando sua filha Kristen, que estava usando exatamente as mesmas roupas que seu irmão Cameron, usando moletom até na escola, disse que queria fazer audições, sua mãe lhe avisou: “Eu trabalho com essas crianças – elas são loucas. Você não se parece nada com elas.” Mas ela não desistiu e continuou com seu sonho e com 11 anos, ela consegue o papel da filha de Jodie Foster em Panic Room, o suspense de David Fincher. Um elenco inspirador. Stewart não está fingindo ser fofa, ela é o tipo de pessoa que você levaria com você para aventuras. Eu conversei com Jodie Foster sobre Kristen – que também sobreviveu através dos truques de ficar famosa jovem – uns anos atrás e ela define a atriz com poucas palavras: “Kristen não tem a personalidade habitual de uma atriz. Ela não quer dançar na mesa de sua avó com um abajur na cabeça.”Dizer que os filmes de ‘Twilight’ não trouxeram muito dinheiro seria eufemismo (400 milhões de dólares em nível mundial só com o primeiro filme). Desnecessário dizer que esses filmes não foram os melhores, mas Stewart nunca os desprezava, assim como os milhões de fãs dos livros. Teria sido fácil para uma hipster como ela. Mas Robert Pattinson – seu namorado nas telas e fora delas no momento – e ela pareceram ter total respeito pelos fãs da saga, e um pelo outro também.
Na entrevista que você está prestes a ler, ela lembra: “Eu fui atingida por essa onda enorme e queria me acalmar um pouco. E então eu voltaria mais tarde.” E o momento chegou. Depois de nada mais do que cinco filmes que lançarão nos próximos meses, começando com ‘Sils Maria’, a meditação de Olivier Assayas sobre a indústria do cinema e as celebridades super modernas, a atriz esteve mais do que ocupada. No filme de Assayas, ela prova que pode zombar de si mesma. O fato de que é um filme francês não é uma coincidência. Como muitos americanos antes dela – desde Gertrude Steing até James Baldwin, para em Nina Simone que escolheu a França para encontrar a estrada da liberdade –, Stewart encontrou a sua própria do outro lado do Atlântico.
Kristen Stewart é realmente uma rebelde. Para descrever essa rebelião, ela usa uma imagem que eu acho engraçada: “Eu botei minhas luvas de boxe com um grande ‘não’ escrito nelas.” Então nós quebramos as regras, nós botamos a luva com um grande ‘sim’ e vamos para o ringue cruzar espadas, rir e conversar.
Kristen Stewart: E aí?
Vanity Fair: Você primeiro! Eu sei o quanto você ama perguntas de ‘tapete vermelho’. O que você está usando agora?
Eu não estou usando meus pijamas, estou orgulhosa de mim mesma. Que horas são? Meio-dia?
É hora de conversar! Você sabia que mudamos nosso jeito de entrevistar só por sua causa?
Legal. Eu amo ler entrevistas de pessoas que acho interessante. Quando elas jogam para valer, você não pode trapacear. Você sabe que você ama isso! Vá em frente, é sua coisa!
Nós não vimos muito de você nesses últimos dois anos, mas você vai fazer muito barulho com todos esses filmes vindo por aí. Eu vi o primeiro ontem, ‘Sils Maria’ de Olivier Assayas. Francamente, eu não achei que iria gostar tanto. Pensei que eu ia ficar entediada e é totalmente o oposto. Eu fui transportada. É uma reflexão real das limitações da vida e da arte uma com a outra. Algumas vezes eu me perguntei se você inspirou o roteiro.
É meio louco. Algumas vezes você tem que procurar pelo personagem. Esse estava aos meus pés, eu me diverti muito interpretando.
Há também um aspecto ‘America VS Europa’ no filme. Passado contra o presente. Os valores do antigo mundo contra o mundo digital, onde tudo acaba no Twitter, Instagram… Mas o jeito que o filme reflete a vida real é fascinante. O que você pensou quando você leu o roteiro?
Eu fiquei apavorada com a ideia de não conseguir o papel, porque Olivier já tinha dado para outra pessoa. Mas não era possível que eu não fosse conseguir. Graças a Deus, os planetas se alinharam.
É engraçado porque o papel da jovem atriz (interpretada por Chloe Grace Moretz) parece ter sido escrito para você, mas para alguém que te conhece de verdade, a personagem da assistente parecer ser destinado para você. Correu tudo bem com Olivier Assayas?
Nós nos conhecemos em um restaurante em Paris. Foi a primeira vez que ele falou sobre o projeto, não exatamente no silêncio porque até quando ele não revela muito, ele fala muitas coisas significativas. Mas nós não conversamos muito. Nós ficamos assim, sentados, e imediatamente pensamos que poderíamos trabalhar juntos nesse filme. Nós só trocamos algumas palavras e estava feito.
Fale-me sobre sua personagem…
Eu interpreto Valentine, a assistente pessoal de Maria Enders, uma famosa atriz (interpretada por Juliette Binoche). No filme, essas duas mulheres estão em estágios diferentes da vida. Os pontos de vista são totalmente diferentes, mas ao mesmo tempo elas são quase as mesmas e possuem muito que dividir. Tudo o que as faz ficarem juntas, as separa ao mesmo tempo. É aquela porra emocional na qual elas não podem botar o dedo. Elas não são amigas, não são colegas e nem amantes. Não são mãe e filha. Elas são tudo ao mesmo tempo e é estranho. É por isso que eu queria o papel. Sou parceira dela em todos os sentidos do termo.
Toda essa coisa de assistente pessoal é um campo minado. Você já viu alguma relação entre assistentes e celebridades?
Como uma atriz, nós tendemos a terminar isolados, estamos no limite e isso limita a troca com as pessoas. Parece normal para mim contratar amigos ou pessoas para nos dar apoio, mas as linhas podem ficar muito borradas porque eles trabalham para você. Você os contrata, mas eles também são seus amigos ou parceiros criativos. Depois, você se torna dependente ou obsessivo. É realmente desestabilizadora, pouco saudável, única e bastante comum. Eu sei disso de coração.
Juliette Binoche realmente entra de cabeça em seus papéis e o filme mostra de verdade as complicações da relação entre celebridades e suas assistentes, porque não há limite claro. O show-business é uma ação cultural real para este tipo de situação, porque muitas vezes é 24/7 longe de casa, família, amigos.
É interessante porque uma porque uma pessoa tem que querer estar a serviço de outra. E quando as linhas estão borradas, você pode sentir como se você estivesse sendo usada, ou que você vai ser dispensada muito facilmente. No filme, Valentine chega no meio da separação. O fato de não sabermos nada sobre ela me agradou muito.
Porque o narcisismo inerente nessa relação faz isso, então nós sabemos tudo sobre a atriz famosa e nada sobre sua assistente anônima?
Exatamente. Foi o procurado. Nós realmente queríamos que acontecesse desse jeito. Eu queria jogar dicas sem dizer o resto, como as tatuagens por exemplo. Ela vem de algum lugar, ninguém sabe de onde. Ela tem interesses, mas nós não conhecemos.
Além disso, como foi interpretar ao lado de Juliette Binoche? Você ficou intimidada? Animada? Nada disso?
Eu estava mais do que estressada com a ideia de conhecê-la pela primeira vez. Ela tem essa habilidade louca de empurrar os outros, de revelar algo sobre você que você nem sabia que tinha. Ela se parece com o que imaginei, algum tipo de filósofa excêntrica, aberta, um pouco como um cuckoo*. Tipo Juliette Binoche, você sabe. (Nós ouvimos cães latindo) O que está acontecendo, pessoal?
(*: Cuckoo é um pássaro europeu e Kristen compara Juliette a ele.)
Nomes?
Bear, Bernie e Cole. Meus verdadeiros seguranças são eles.
Você usou a palavra ‘cuckoo’ para descrever Juliette Binoche?
Sim. Eu não acho que seja totalmente pelo fato dela ser européia, porque seria diminuir este enorme mérito que ela tem, mas ela é exatamente como eu queria que ela fosse. Em vez de dizer: “Porra, eu estou com tanta fome” que é o que eu diria, ela vai dizer: “Eu estou sentindo essa necessidade de comer, no fundo de mim, no mais profundo…” Você vê o que eu quero dizer? Ela não pode dizer algo tão simples como “eu estou com fome.” Ela não está com fome. Ela tem uma profunda necessidade de comer.
Vamos falar sobre sua sede de trabalhar com pessoas que se esforçam. Desde o começo você trabalhou com diretores e atores que importam. Você tinha apenas 11 anos quando você filmou com Jodie Foster em ‘Panic Room’ (2002), 16 quando Sean Penn dirigiu você em Into the Wild (2007) e 21 quando você fez ‘On the Road’ de Walter Salles (2012)… De primeira, podemos pensar que é sorte, mesmo que haja uma orientação verdadeira e não é um acidente. Até em ‘Twilight’, seu parceiro Robert Pattinson era um ator já estabelecido, e há muitos rumores sobre como vocês lutaram bastante contra o estúdio para manter parte do risco, da melancolia, emoção e autenticidade da história. É como você tivesse escolhido seus inimigos com cuidado.
Oh, sim, totalmente. Eu não sou o tipo de atriz que pode interpretar sem um espelho. Todo mundo sabe que você é melhor com atores que realmente estão ali, com alguém que você pode compartilhar, e funcione ou não, isso me faz mais forte ou mais fraca. Se eu tenho que trabalhar com alguém, alguém que não me empolgue ou com alguém que eu tenha que fingir, é triste e eu atuo mal.
Isso já aconteceu?
Absolutamente. Eu não ferrei tudo, mas eu tive que me esforçar para não fazer isso. Eu tive que pensar: “Graças a Deus nós só temos poucas cenas juntos (as).” Como você disse, eu tive muita sorte e melhores experiências do que as menos eufóricas, mas sim, eu sei a diferença. Porra, é tão bom, é como droga.
O que você faz quando é ruim? O que acontece com você?
É realmente desconfortável. Demora alguns dias ou algumas cenas. De primeira, você diz para sim mesmo que é só porque há um problema ou ritmo, mas uma vez que você está exausta de tentar achar o porquê, você se põe em modo padrão e age com uma merda. Não é engraçado e não é bom. Quando eu olhei novamente para aquelas cenas, eu fiquei tipo ‘ew’. Eu não gosto de ver isso.
Isso me lembra do que Elizabeth Taylor me disse um dia. Eu tive a chance de entrevistá-la algumas vezes antes de sua morte. Nós estávamos falando sobre ‘Butterfield 8’ (1960), um filme pelo qual ela recebeu o Oscar de Melhor Atriz, ela disse algo como: “Eu achei esse diretor um babaca e eu o odiava tanto que nós acabamos não nos falando e eu terminei dirigindo a mim mesma.” Louco, não?
Wow. Isso realmente diz muito. É louco quando as coisas acontecem em um set e nós, o público, não sabemos de nada.
Elizabeth era alguém incontrolável. As atrizes de hoje em dia são monumentos de calma perto dela. Por causa da internet, os escândalos perderam todo o seu glamour. Em Sils Maria, você faz tudo contra isso. Na verdade, você defende a jovem atriz cuja vida é uma bagunça completa e as pessoas não fazem nada além de olhar, como um acidente de carro. Fale-nos sobre a personagem interpretada pro Chloë Moretz.
Chloë interpreta uma jovem atriz, Jo-Ann Ellis, que está no limite de algo grande, mas também no meio de um escândalo. Ela tem esse frescor um desejo e uma coragem ingênua que atrai as pessoas. Há algo cru na personagem de Chloë, a honestidade juvenil. É uma jovem menina com um ponto de vista diferente.
Esse papel pode não ter sido baseado em uma pessoa em particular mas parece com um retrato do presente. Essa personagem poderia ser o resumo de todas essas atrizes americanas que terminam no olho do furacão da mídia por algum motivo. Um dos pontos fortes do filme é quando você corre para defendê-la. Você diz algo como: “Ela é jovem, mas pelo menos ela é corajosa o suficiente para ser ela mesma. Na idade dela, é valente, na verdade, eu acho que é super legal. No momento, ela é provavelmente a minha atriz favorita.” Eu sendo americana e ter seguido o que aconteceu nesses últimos anos, não posso deixar de pensar que esse diálogo que Assayas te deu descreve sua carreira. Não de uma forma egoísta, mas como um aceno para o público. Quero dizer, quantas vezes você já ouviu; “Oh, Kristen Stewart nunca sorri”, ou, “Kristen Stewart nunca é feliz.” Ao ver essas palavras deixarem sua boca, eu ri. Eu escutei tanto sobre você!
Eu tenho que admitir que em certas partes, eu tive que me acalmar porque eu estava tão feliz em dizer essas palavras. Olivier não as escreveu paa mim, mas foi tipo o destino que me empurrou para fazer esse papel. Eu tenho reagido a isso de um jeito mais familiar do que eu deveria, mas é assim mesmo. É louco. É uma coincidência estranha e engraçada.
Isso nos trás de volta, não somente para os rumores, os quais sempre foram parte do sistema das estrelas, mas também para o impacto da internet, os tablóides e sites de fofoca, bloggers, twitter, as milhões de pessoas que reclamam na web mundial, você sabe. O filme mostra o que acontece quando todos se entrelaçam, quando a jovem atriz aparece em um restaurante com um escritor casado e que você, a assistente pessoal que sabe de muitas coisas, prevê que ‘quando isso sair vai ser como um tsunami’.
A melhor parte é quando a personagem de Juliette diz: “Oh, sim, em qual planeta?” e eu respondo: “Esse planete tem um nome, é chamado de mundo real.” Isso me fez me sentir bem. Tudo diz que isso não importa, é uma coisa muito fácil de dizer.
É atraente…
Ninguém quer ouvir alguém como eu repetir continuamente o quão difícil pode ser.
Você quer dizer, repetir o quanto a fama é difícil de lidar?
Sim, exatamente.
Sim, é realmente irritante escutar as pessoas se lamentarem sobre esse assunto. Foi por esse motivo que as pessoas ficam loucas quando Gwyneth Paltrow diz o quão difícil é para ela reconciliar seu trabalho e cuidar das crianças, porque isso a força a levar as crianças para o set. Não é fácil simpatizar com ela quando você compara a sua vida à das mulheres comuns que vão trabalhar todos os dias.
Eu sei disso, acredite. Não há problema se você fala sobre isso levemente. Não me incomoda quando as pessoas dizem que não é importante ou que não tem nada a ver com a realidade. Eu concordo que é tudo coisa da mídia, quando você está nisso, isso não deveria te afetar fisicamente ou te incomodar e tudo isso. Ainda assim, tecnicamente, isso tem um impacto na sua vida. Como em um sonho, mas na mente de outras pessoas, é estúpido e isso é como deve ser percebido por todos.
Você se encontrou do outro lado desse tsunami algumas vezes. Eu me lembro da última vez que te entrevistei em Paris, no ‘Le Duc’. Quando abrimos a porta do restaurante para ir embora, merda. Foi no meio da loucura de ‘Twilight’, um pouco antes de o quinto filme ser lançado e muito paparazzi estavam no local. Nós corremos para dentro do restaurante de volta. Eles ainda estavam lá algumas horas depois. É como se uma grande onda tivesse caído sobre você. E quando aquelas fotos saíram um tempo atrás, foi totalmente louco. Então você está no lugar certo para saber como é e isso é uma coisa real.
Sim, isso é verdade. Eu tenho obrigações de manter conexões com a mídia, porque ninguém me forçou a me tornar atriz. Mas seria louco negar que esse demônio é diferente, ninguém assinaria para viver desse jeito.
É uma fera na qual a face não é a mesma do passado. Vamos dizer em 1930 ou 1940, quando os estúdios controlavam a imprensa.
Eu nunca articulei um plano de carreira para mim. Eu nunca tentei influenciar a opinião das pessoas sobre mim, mas é o que muitas pessoas fazem. Alguns artistas, alguns atores, fazem de tudo para se encaixar na imagem de certo tipo de ator ou artista e eu não sou desse jeito. Eu passei por muitas situações, muitas experiências mais ou menos criativas, com instinto. Então eu não posso me deixar ser esmagada por arrependimento. Quando se trata do que as pessoas tomam de você ou se lembram para formar uma opinião sobre você, nada é totalmente errado. É algum tipo de coleção de sabores que eles pegaram em lojas, cinema ou online. Eu não inventei essa mistura de coisas minhas e não me incomoda, mas eu não vou adicionar nada nessa pilha de merda que inventam sobre mim e não tem nada a ver com a realidade. Terminar no meio disso já é estranho o bastante e sem eu ter comentado sobre isso. Mas estranhamente, eu me sinto capaz de sair disso e dizer: “Não é tão fácil?” Digo, é “engraçado”, como Valentine diz em ‘Sils Maria’, as histórias são engraçadas, mas você sabe que todas elas contêm pessoas que interpretam papéis fabricados pela mídia e por pessoas que compartilharam a fofoca para o site postar. Não é nada mais do que novela. Eu estou tentando muito não deixar isso me afetar, preservar a minha vida real. As pessoas podem achar que sabem de tudo, mas porra, quem sabe da verdade? Ninguém. Você vai morrer. Você vai estar deitada ao lado da pessoa que você mais conhece no mundo, a pessoa com quem você vai ficar velha. E você vai estar ao lado dessa pessoa no meio da noite e vai estar se perguntando milhões de perguntas, porque ninguém nunca sabe da verdade.
Mas vamos voltar para o momento em que você começou a ir para as audições quando criança com a sua mãe. Eu lembro que quando nos falamos sobre isso anos atrás, você me disse que as pessoas encarregadas dos comerciais tentavam fazer você toda sorridente e isso parecia falso para você. Ou eles reclamavam que você parecia muito com um menino. Como você acha que essa experiência te formou?
Eu atribuo meu início precoce com a minha capacidade de fazer este trabalho. Exige estar confortável dentro de uma quantidade insana de atenção. Se eu não tivesse começado quando eu era pequena, eu acho que não teria feito quando fosse adolescente ou jovem. Não é só botar maquiagem e ficar no meio de uma sala. Mas eu realmente queria ser atriz e eu queria fazer filmes. Eu queria imitar meus pais.
Eles estavam no negócio, certo? Sua mãe é uma supervisora de roteiro e seu pai, um gerente de palco, e pelo o que eu me lembro, eles levavam você com eles.
Eu olhava para eles e pensava que o que eles fizeram foi a coisa mais legal que uma pessoa poderia fazer pela outra. E porque eu não me encaixava no molde de ator mirim, ou não queria ser uma pessoa/atriz famosa, ou uma pessoa no estilo ‘vamos satisfazer a massa’, consegui entrar para o elenco dessa maravilhosa diretora/roteirista, Rose Troche em The Safety of Objects como quem eu era, que seria um moleque total. Você não conseguia me diferenciar do meu irmão.
Eu era meio que uma criança arrogante, então quando você vai para a escola e você não é aceita como essa menina que teria que se parecer com uma menina, isso me afetou. Eu odiava quando as pessoas ficavam tipo ‘ew, você sabe, você não se parece com uma… ’ Eu era chamada de homem e todas essas coisas. Houve um tempo bem curto em que isso me incomodava e então acabou porque quando eu comecei a trabalhar, eu não era mais considerada estranha. Eu era legal e gostava de mim mesma. Eu me senti muito sortuda. Eu me sinto muito sortuda de ter sido uma criança que esteve nessa área, porque se você acha o caminho certo mais aceitável, é o ambiente mais aberto que eu poderia imaginar. É um campo que atrai as pessoas mais diversas, desafiando as mais progressivas e subversivas em um grande número e querem perguntar e se expressar. É um ambiente bonito pra caralho, é maravilhoso e eu amo. Sinto-me muito feliz e orgulhosa de ser parte disso.
Atores são estranhos, são pessoas questionadoras. Eles estão dispostos a calçar sapatos diferentes por um longo período, não importa o quando doa ou qualquer coisa, só para ter a experiência de contar uma história.Por que você acha que trabalhar quando criança significou tanto para você?
A raiz disso, como eu disse antes, é que eu amava como meus pais entravam pela porta no final de um dia de 16hrs em um set de filmagem.
Você não me disse ante que você costumava cheirá-los?
Sim. Se eu pegar uma mochila que eu usava em certo filme, mas não tenho usado desde aquela época, eu posso sentir o cheiro do lugar, do set. Eu posso literalmente sentir o cheiro de todas as coisas que estiveram naquelas experiências. Minha mãe é uma supervisora de roteiro e ela tem uma sacola com roteiros e sempre cheirava como serviço de artesanato, café derramado e fumaça dos efeitos do set, tipo poeira de explosão. Então isso foi o que me interessou de primeira. Foi como se você tivesse andado muito hoje. Onde você esteve e o que te fez levantar e ir? Eu apenas sabia que era algo interessante. Eu sabia que meus pais só iriam levantar e trabalhar 16hrs por dia se fosse algo legal e fascinante. E então eu tive o sentimento de descobrir e compartilhar isso. Não é fácil de achar, mas você tem que procurar por esse sentimento e então você compartilha com os outros. É trabalho duro e leva fé. Você tem que se colocar na linha de algo que pode não se apresentar imediatamente para você. E quando você acha, é a parte mais emocionante – é tipo o combustível da minha vida. Eu nunca deixaria de trabalhar por isso. Eu gosto dessa busca. Essa busca é a melhor parte, essa procura, encontrar algo e cavar, cavar e cavar.
O que é interessante é que quando você está trabalhando, ninguém descreve você como inquieta o tempo todo, mas quando estão te descrevendo para um artigo, geralmente fazem isso.
Há definitivamente horas em que estou vibrando no set e eu amo esse sentimento, mas é uma sensação diferente. Eu fico confortável com esse mal-estar.
Você não trabalhou por dois anos…
Sim, demorou uma eternidade.
Clouds of Sils Maria foi o seu primeiro filme depois de todo esse tempo?
Camp X-Ray foi o primeiro.
Qual foi o que veio antes de Camp X-Ray?
Breaking Dawn Part 2
Por que demorou dois anos depois para você concordar em fazer um filme?
Eu estava procurando. Algumas coisas começaram e pararam sem sair do chão, e eu gastei muito tempo nessas coisas que não foram para lugar nenhum, o que acontece. E depois disso – isso poderia totalmente dizer algo sobre onde eu estava – levou uma coisa especial. Quem sabe se eu fosse olhar agora nessa pilha de roteiros que eu passei por aquele período? Eu me pergunto se havia algo que eu ficaria ‘oh, como eu deixei isso passar?’ Sério, eu acho que depois de ‘Twilight’e ‘Snow White and the Huntsman’, que foram filmes muito grandes, eu senti que não queria procurar pela “próxima grande” coisa. Algo que as pessoas fazem com dois filmes enormes é pensar que essa é a área delas agora, fazer grandes filmes e surfar nessa onda. Eu saí dessa onda e disse ‘eu vou sair um pouco.’ Eu vou voltar mais tarde. Aquilo foi bom, eu precisava de um tempo, precisava encontrar meus amigos e voltar para a minha vida. Eu precisava viver em minha própria casa e estar rodeada das minhas merdas, tocar violão e escrever.