Com o lançamento do filme, vários sites brasileiros publicaram suas críticas (positivas e negativas) sobre ‘Corações Perdidos’ e a atuação de Kristen Stewart. Confira neste post algumas delas.
>>> Atualizado com críticas do msn.com e do Pipoca Moderna
ESTADÃO
Kristen Stewart assume papel mais denso em novo filme
Em ‘Corações Perdidos’ atriz deixa de lado a fama de mocinha indefesa de ‘Crepúsculo’
Com a imagem atrelada à personagem Bella Swan, do megassucesso entre os adolescentes do mundo todo “Saga Crepúsculo” – cuja parte final, “Amanhecer”, foi dividida em duas partes, uma que deve ser lançada em novembro e outra, apenas em 2012 -, Kristen Stewart tem demonstrado interesse em ampliar seu repertório para papéis, digamos, mais densos.
A prova disso estão na escolha da atriz pelas personagens de “The Runaways – Garotas do Rock” (a guitarrista da primeira banda de rock composta somente por mulheres, Joan Jett), de “On the Road”, produção inspirada no livro do autor beatnik Jack Kerouac e dirigida pelo brasileiro Walter Salles, que deve ser lançada no final do ano e na qual ela interpreta Marylou Moriarty, e do drama “Corações Perdidos” (“Welcome to the Rileys”), em que faz a jovem stripper Mallory. Este último, estreia hoje nas cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.
Ainda que interprete uma adolescente, o papel de Kristen em “Corações Perdidos” é bem diferente da romântica Bella.
Órfã de mãe e com 16 anos, Mallory, fugiu de casa e trabalha como stripper em uma boate de Nova Orleans, faz programas com os clientes do clube noturno e vive sozinha numa casa praticamente abandonada, com a luz elétrica cortada pelo senhorio. Como pede a personagem, em cena, a atriz fuma, usa roupas de tamanho mínimo e solta palavrões sem parar.
A jovem chama a atenção de Doug Riley, que está de passagem por Nova Orleans para uma convenção, só que de uma maneira paternal. Doug, interpretado pelo ator James Gandolfini, o gângster Tony Soprano do seriado “Família Soprano”, conhece Mallory na boate, mas recusa-se a usufruir de se seus “serviços”. Abalado pela morte da filha também adolescente, Doug decide ajudar a moça e de algum modo conseguir superar o sofrimento que vive.
A tragédia familiar também afastou Doug da mulher Lois (Melissa Leo). Desde o acidente de carro que matou a filha, Louis fica reclusa em casa, não conseguindo sair dela nem para pegar a correspondência na caixa de correios. A notícia – mal explicada – de que o marido decidiu ficar morando em Nova Orleans a desperta do luto e a faz partir atrás dele. O (re)encontro dos três personagens vai trazer uma nova perspectiva para suas vidas.
“Corações Perdidos” foi dirigido por Jake Scott, que também fez “Plunkett & Macleane – Os Saqueadores” (1999) e foi responsável pela direção de videoclipes de bandas como R.E.M., Radiohead e Smashing Pumpkins. Jake é filho de Ridley Scott e sobrinho de Tony Scott, que são os produtores-executivos do longa-metragem. O filme foi indicado ao Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance do ano passado.
ADORO CINEMA
Kristen Stewart não é uma boa atriz – ao menos ainda não é. O excesso de maneirismos corporais, repetitivos em vários filmes, é algo que incomoda. Entretanto, chama a atenção seu esforço em dissociar a imagem de um mesmo tipo de personagem. Ao invés de repetir papéis como o de Bella Swan na série Crepúsculo, ela tem buscado diversificar. Fez a roqueira Joan Jett em The Runaways – Garotas do Rock e agora a dançarina de striptease Mallory, em Corações Perdidos. Papéis bem diferentes, que exigiram algo além do que está acostumada a fazer. Esta inquietação do artista, ainda mais diante da fama fácil, precisa ser reconhecida. Ainda mais quando resulta em um trabalho onde sua desconstrução, ou ao menos da imagem que possui perante o público, é tão marcante.
Corações Perdidos não é um grande filme, mas não deixa de ter seu valor. Trata-se de um drama sobre a carência, retratada de forma bem clara no trio protagonista. Doug (James Gandolfini) e Louis (Melissa Leo) formam um casal de tristeza absoluta, graças a uma tragédia ocorrida oito anos antes: a perda da filha. O sentimento de culpa fez com que ela saísse cada vez menos de casa, como se estivesse abandonando a vida aos poucos. Doug percebe e sofre, externando em casos ocasionais. Um dia, ele viaja para uma convenção em Nova Orleans. Lá conhece Mallory (Kristen Stewart), a jovem dançarina que se insinua para ele. Ele se afeiçoa e lhe faz uma oferta inusitada: morar com ela, pagando aluguel.
O encontro de Doug e Mallory aos poucos expõe suas fragilidades. Ele quer alguém para cuidar, ela quer ser cuidada. Mesmo que não assuma isto, já que precisa manter a pose de jovem durona e independente. Cada um se apresenta com a educação que a vida lhes ofereceu, o que faz com que haja o esperado choque. Afinal de contas, Mallory é uma stripper, com todo o linguajar chulo e provocante que a função exige. “Quero deixar o cliente satisfeito”, ela assegura. Quando sente-se ajudada por Doug, quer retribuir da única forma que conhece: através do sexo. A recusa dele a deixa ainda mais desnorteada.
A construção de uma personagem tão boca suja e que, aos poucos, tenta se adequar é o grande mérito de Kristen Stewart. Pela ousadia em se atirar neste tipo de papel e também pelas dúvidas, naturais, demonstradas no decorrer da história. Entretanto, não é dela a melhor atuação do filme. O título cabe a Melissa Leo, que consegue transmitir a insegurança de sua personagem e o esforço feito para superar os traumas. A cena em que encontra o marido em Nova Orleans é de uma sensibilidade tocante.
Corações Perdidos vacila em alguns pontos do roteiro, facilitando situações que mereciam um maior desenvolvimento de forma a tornar a história mais verossímil. O início, sem trilha sonora e com um silêncio intencional para demonstrar o estado de espírito vivido pelo casal, é um pouco cansativo. O filme apenas engrena de fato quando Doug conhece Mallory, moldando a insólita união baseada na carência mútua. Bom filme, que merece ser visto por Melissa Leo e por uma faceta até então desconhecida de Kristen Stewart. Ela, enfim, está bem em cena.
IG
Kristen Stewart intepreta prostituta em “Corações Perdidos”
Atriz de “Crepúsculo” está em drama que retrata a difilculdade de casal em lidar com a perda da filha adolescente
Se há um prazer indiscutível no melodrama “Corações Perdidos”, de Jake Scott, é assistir aos atores James Gandolfini e Kristen Stewart saindo do molde de seus papeis de sucesso – respectivamente, o Tony Soprano da série “Família Soprano” e a Bella Swan da saga “Crepúsculo”. E, de quebra, terem como companhia em cena a talentosa Melissa Leo, vencedora de um merecido Oscar de coadjuvante este ano como a mãe dominadora do drama “O Vencedor”.
O roteiro de Ken Hixon tem premissas interessantes, como os dois focos dramáticos envolvendo o vendedor Doug Riley (Gandolfini). Homem maduro, ele tem sucesso em seu negócio com equipamentos hidráulicos em Indianapolis. Casado há 30 anos com Lois (Melissa Leo), ele poderia ser um modelo de estabilidade. Não é. A morte de uma filha criou um trauma entre o casal. E Lois não sai de casa por nada no mundo.
Doug experimenta uma visível sensação de sufocamento, uma insatisfação que tem nome, mas não encontra voz. Ele e a mulher nunca falam da filha morta, nem de nada que os incomoda.
Uma viagem a New Orleans, onde Doug participa de uma convenção de vendedores, tira o homem desta rotina. O novo ambiente parece renová-lo e o coloca diante de outros desafios. A entrada num dos inúmeros barzinhos suspeitos da colorida cidade da Louisiana leva-o de encontro a uma jovem prostituta, Mallory (Kristen Stewart).
A primeira aproximação de Doug com a jovem parece levar a um encontro sexual. Mas logo fica bem claro que o homem procura outra coisa com a jovem – resgatá-la desse tipo de vida. Coisa que a moça, desbocada e raivosa, não parece nada disposta a aceitar.
Se há algo que caracteriza Doug é a persistência. Não demora muito e ele se instala na casa de Mallory – que, na verdade, se chama Allison. Ele vira seu inquilino e, nas horas vagas, conserta coisas. A raiva da menina aos poucos se transforma numa tolerância às vezes amistosa com o intruso paternal, que controla sua alimentação e a arrumação da casa.
O terceiro elemento deste relacionamento inusitado é Lois. Quando entende que o marido está ligado a outra pessoa, ela faz uma tentativa extrema para superar o pânico que a impede de sair dos limites de seu lar protegido. Pode-se compartilhar o tamanho deste esforço na emblemática cena em que a mulher tenta tirar o carro da garagem e dar a partida para colocar-se na estrada.
Lois torna-se um outro dado na tentativa de redenção de Mallory – um processo no qual o mais evidente é a ansiedade do próprio casal para reencontrar-se emocionalmente. Por isso, nada mais falso do que a propaganda do filme, que insinua um romance entre Doug e Mallory, que nunca acontece. A história caminha num rumo bem mais família, o que não é nenhum defeito.
MSN
SÃO PAULO (Reuters) – Se há um prazer indiscutível no melodrama ‘Corações Perdidos’, de Jake Scott, é assistir aos atores James Gandolfini e Kristen Stewart saindo do molde de seus papeis de sucesso – respectivamente, o Tony Soprano da série ‘Família Soprano’ e a Bella Swan da saga ‘Crepúsculo’. E, de quebra, terem como companhia em cena a talentosa Melissa Leo, vencedora de um merecido Oscar de coadjuvante este ano como a mãe dominadora do drama ‘O Vencedor’.
O roteiro de Ken Hixon tem premissas interessantes, como os dois focos dramáticos envolvendo o vendedor Doug Riley (Gandolfini). Homem maduro, ele tem sucesso em seu negócio com equipamentos hidráulicos em Indianapolis. Casado há 30 anos com Lois (Melissa Leo), ele poderia ser um modelo de estabilidade. Não é. A morte de uma filha criou um trauma entre o casal. E Lois não sai de casa por nada no mundo.
Doug experimenta uma visível sensação de sufocamento, uma insatisfação que tem nome, mas não encontra voz. Ele e a mulher nunca falam da filha morta, nem de nada que os incomoda.
Uma viagem a New Orleans, onde Doug participa de uma convenção de vendedores, tira o homem desta rotina. O novo ambiente parece renová-lo e o coloca diante de outros desafios. A entrada num dos inúmeros barzinhos suspeitos da colorida cidade da Louisiana leva-o de encontro a uma jovem prostituta, Mallory (Kristen Stewart).
A primeira aproximação de Doug com a jovem parece levar a um encontro sexual. Mas logo fica bem claro que o homem procura outra coisa com a jovem – resgatá-la desse tipo de vida. Coisa que a moça, desbocada e raivosa, não parece nada disposta a aceitar.
Se há algo que caracteriza Doug é a persistência. Não demora muito e ele se instala na casa de Mallory – que, na verdade, se chama Allison. Ele vira seu inquilino e, nas horas vagas, conserta coisas. A raiva da menina aos poucos se transforma numa tolerância às vezes amistosa com o intruso paternal, que controla sua alimentação e a arrumação da casa.
O terceiro elemento deste relacionamento inusitado é Lois. Quando entende que o marido está ligado a outra pessoa, ela faz uma tentativa extrema para superar o pânico que a impede de sair dos limites de seu lar protegido. Pode-se compartilhar o tamanho deste esforço na emblemática cena em que a mulher tenta tirar o carro da garagem e dar a partida para colocar-se na estrada.
Lois torna-se um outro dado na tentativa de redenção de Mallory – um processo no qual o mais evidente é a ansiedade do próprio casal para reencontrar-se emocionalmente. Por isso, nada mais falso do que a propaganda do filme, que insinua um romance entre Doug e Mallory, que nunca acontece. A história caminha num rumo bem mais família, o que não é nenhum defeito.
PIPOCA MODERMA
Corações Perdidos comprova que Kristen Stewart tem talento
Pouca gente conhece Jake Scott. Muita gente conhece Kristen Stewart. Juntos – ele, diretor e ela, atriz – comprovam que talento nem sempre é nato, mas que, independente do grau de exposição de cada um, pode ser lapidado e reconhecido. “Corações Perdidos” instiga a curiosidade por possuir dois nomes de peso – mas de medidas diferentes – em comprovado desafio criativo.
Jake Scott carrega um sobrenome imponente em Hollywood – é filho do diretor Ridley Scott (três vezes indicado ao Oscar) – e, ao escolher o mesmo caminho do pai, cultivou um hiato de mais de dez anos entre os lançamentos de seus dois únicos filmes. Sua estreia se deu em 1999 com “Plunkett & Macleane”, uma aventura medieval conduzida por trilha sonora eletrônica que foi massacrada pela crítica e ignorada pelo público. Apesar dos videoclipes famosos que dirigiu para bandas como REM, U2 e Radiohead, seu nome nunca foi popular.
Já Kristen Stewart dispensa apresentações, graças ao seu papel à frente da “Saga Crepúsculo”, franquia milionária que a colocou em evidência principalmente entre o público teen. Aqui, a atriz tem a chance de se despir da apática protagonista da série romântica para se expor como uma dançarina de strip tease sem qualquer ideal de futuro a não ser a prostituição – o que poderá ser um choque para sua plateia cativa.
O longa conta a história de Doug Riley (James Gandolfini) e Lois (Melissa Leo), um casal que mantém uma melancólica rotina de silêncio e distanciamento após a morte de sua filha adolescente em um acidente de carro. Enquanto Doug mantem um caso com uma garçonete, Lois se fecha em casa e evita qualquer contato com o mundo externo – sintomas claros de quem desenvolve agorafobia.
Durante uma viagem de negócios, Doug conhece Mallory, uma stripper que vive em condições miseráveis e luta para sobreviver em meio ao caos de uma vida sem rumo. Ao estender a mão à garota, Doug instintivamente projeta nela sua paternidade e, ao decidir ajudá-la, se dá conta de que está lidando – talvez pela primeira vez – com a morte da filha. Como um cliente não convencional, Doug paga pela companhia de Mallory e se instala em sua casa, auxiliando-a a se reerguer enquanto tenta indicar-lhe os caminhos certos para seu crescimento.
A força desta adoção involuntária faz com que Lois saia de casa pela primeira vez em anos e vá de encontro ao marido. A família Riley, resignada ao desequilíbrio nutrido pelo convívio com o adultério, a depressão e algumas mentiras, se vê agora diante de um grande desafio: o diálogo. Maior ainda que a presença de uma terceira pessoa entre o casal, é a dificuldade em manter-se sinceros uns aos outros quanto às suas reais motivações.
Juntos, eles irão se firmar como membros de uma família desajustada onde se força o afeto, e conflitos são gerados a cada frase trocada. O roteiro original, escrito com esmero por Ken Hixon, proporciona diálogos eloquentes que resultam em cenas memoráveis. Scott encontra sobriedade suficiente para manter seus personagens em um tom sereno e realista, promovendo pequenos momentos para seu elenco brilhar.
Brilho, aliás, é o que não falta em “Corações Perdidos”. James Gandolfini, célebre pelo seu personagem Tony em “Familia Soprano”, entrega uma interpretação fascinante. Há uma seriedade e uma tristeza em seu personagem que transporta para o público, sem que o torne piegas ou caricato. Melissa Leo exibe a performance mais sutil e poderosa de sua carreira, notavelmente superior a “Rio Congelado” (pela qual foi indicada ao Oscar em 2008) e a “O Vencedor” (que lhe rendeu a estatueta de melhor atriz coadjuvante neste ano).
O mais interessante é que, ao lado de dois grandes nomes como James e Melissa, Kirsten Stewart não faz feio. Pelo contrário: sua entrega à vulgaridade, ao desespero e a negatividade de sua personagem é tamanha que sua interpretação não pode ser considerada nada menos que espetacular – mas convém dizer que isso não é surpreendente. A garota já provou que é muito mais que aquilo que os fãs da melosa saga vampiresca conhecem – quem a viu em “The Runaways – Garotas do Rock” (2010) sabe o porquê.
Com “Corações Perdidos”, Kristen deixa claro que as duas partes de “Amanhecer” serão seus últimos obstáculos rumo ao reconhecimento de seu real talento. Mallory é não só a alma, como também o corpo e a mente do filme com sua personalidade atrevida, impetuosa e ao mesmo tempo frágil – performance que rendeu à atriz um prêmio no Festival de Milão.
Jake Scott promove uma conexão intensa entre personagens e plateia ao capturar o melhor de seu elenco sem lançar mão de exageros em sua câmera ou ampliar reações e sentimentos de seus protagonistas – o que há de pior em seus personagens revela o que há de melhor em seus atores.
Como filho de um dos cineastas mais reconhecidos mundo afora, seria fácil cobrar de Jake um menor tempo para impor-se em Hollywood e usar seu sobrenome apenas como mera observação na comprovação do seu talento (como fez Sofia Coppola). Prestes a completar 50 anos de idade, ele parece não se importar com a demora em “acontecer” e essa discrição reflete-se em seu trabalho. “Corações Perdidos” é um drama sensível e realista que, mesmo construído sobre um argumento relativamente convencional, consegue se estruturar e manter-se interessante graças a uma notável direção de atores e uma evidente fuga das armadilhas do melodrama.