Arquivo de 'JT Leroy'



Kristen Stewart e Laura Dern conversaram recentemente com o site de variedades Refinery29 sobre seu novo filme, JT LeRoy, que está sendo exibido nos cinemas americanos. Confira:

De um jeito, vocês duas compartilham o papel de JT LeRoy. Como vocês trabalharam juntas para criar JT?
Kristen Stewart:
Tínhamos vídeos e fotos de suas aparições, assim como entrevistas e as impressões das pessoas da época do documentário. Mas eu tive que pegar o papel de Savannah. Eu ouvi Laura Dern ler uma história como JT, não necessariamente Laura Albert. Tínhamos que fazer isso juntas.
Laura Dern: O que é incrível. Eu quase me esqueci disso, que nós duas interpretamos a mesma pessoa. Algumas dessas cenas foram muito difíceis de fazer e refinar, mas também fascinantes – parecia que estávamos trabalhando em uma peça de teatro juntas – como a cena do escritório onde Laura está empurrando Savannah para dentro.
Stewart: E JT para fora.
Dern: Havia um desespero para ter um avatar e para encontrar uma musa para manter esse avatar vivo. Eu acredito que isso era realmente verdade para Laura.
Stewart: Eu acho que ela viu uma energia deslocada em Savannah, e ela disse, ”Hey, vou fazer você se sentir melhor sobre ter isso, porque eu também tenho.”

Savannah e Justin disseram que eles estavam interessados no porquê, não no como, do esquema das mulheres. Vocês chegaram em suas conclusões independentes sobre o motivo pelo qual Laura e Savannah sustentaram JT por seis anos?
Stewart:
Como isso aconteceu é uma opinião crítica. Para dizer como: Como pessoas iriam querer mentir sobre algo tão pessoal para outras pessoas? Como isso tudo aconteceu? Mas o motivo faz muito mais sentido. Dados todos os detalhes, você entende por que Savannah queria estar ao redor de uma artista tão compulsiva e uma pessoa tão contagiosa – ela estava tentando achar a si mesma em um mundo que não estava realmente ouvindo, em um mundo que a deixou confusa e quando ela mesma se confundiu. Ela encontrou Laura, uma talentosa escritora que também é namorada do seu irmão, que estava disposta a dizer ”Você pode tirar sua atitude do seu próprio pescoço se quiser.” Ninguém tinha dito isso para Savannah até aquele momento. Eu sei totalmente por que Savannah teria se envolvido nisso e perdido o controle no meio do caminho. É fácil não julgar facilmente quando você conhece Savannah.

O que estava envolvido no disfarce de JT?
Stewart:
Foi louco. Como Laura Albert e Speedy [disfarce de Albert como agente de JT], o rosto da Laura estava aparecendo bastante. Eu senti que estava sendo John Malkovich. Eu só podia ver um pouco pelos óculos e perucas. Eu reclamei um pouco. Savannah falava sobre a ansiedade imensa que ela sentia quando as pessoas falavam com e ela, e ela tinha que falar como JT. Ela ficou melhor conforme o tempo progrediu e conseguiu desenvolver alguns aspectos de JT. Tipicamente, ela estava nessa simulação, e eu senti isso também.

Foi legal, também. Tínhamos muitos figurantes no filme e de vez em quando, se eu ficasse muito auto consciente ou tímida ao redor de tanta gente, era bom ter o disfarce. Realmente funciona. Eu desaparecia, não existia mais.

Esse disfarce pode ser seu novo estilo quando estiver em público.
Stewart:
Sim, sim. As pessoas vão achar super normal. Isso seria realmente bom para mim.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart e Laura Dern conversaram com a Vulture sobre o relacionamento que desenvolveram no set de seu mais novo filme, JT LeRoy, e sobre fama, sexualidade e o curioso segundo emprego de Kristen no set: babá do filho de Laura. Confira:

Há muitos níveis para cada uma de suas performances nesse filme. Vocês interpretam pessoas que estão interpretando pessoas interpretando pessoas. Como vocês não se perderam nessa toca do coelho?
Kristen Stewart:
Eu acho… o ponto era ficar um pouco perdido na toca do coelho. De um jeito moderado, obviamente, para que a história faça sentido e você não perca a cabeça. [Risos] A história é da perspectiva de Savannah, sobre uma mulher contando sua história que precisa de outra pessoa para contar sua história de uma perspectiva alterada. Trazer alguém para se encontrar através de algo que não é verdade, mas no fim das contas acaba sendo – Deus, persegue sua cauda em uma tempestade do diabo da Tasmânia.

Isso não foi muito bem articulado, mas eu não sei um bom jeito de colocar! Eu senti uma proximidade e um parentesco com Savannah por muitas razões. Eu me senti totalmente vista por Laura [Dern], e eu pensei que isso realmente refletiu o jeito que Savannah e Laura Albert se relacionaram. Apesar de termos um relacionamento bem mais saudável, comparativamente.
Laura Dern: Sim!
KS: Mas quem sabe, não tem muito tempo.
LD: Nos dê um tempo. [Risos]

Kristen, você pode falar mais sobre esse parentesco que você sentiu com a Savannah? Porque acompanhando sua carreira, ela parece com você de muitos jeitos. Você falou anteriormente sobre seu desconforto com a imprensa, tapetes vermelhos, a vida pública e sobre sua própria sexualidade.
KS:
Enquanto estávamos fazendo esse filme, Savannah se identificava como “ela” e agora se identifica como “iles”*. Em termos do processo e da evolução de ser uma pessoa, eu posso me relacionar com essa natureza não articulada de não ter respostas para perguntas muito exigentes. É algo que eu sempre fui um pouco estranha – não contra, porque isso fazer soar como se eu tivesse articulado isso. Mas eu tive uma aversão física a explicar as coisas de um modo que seja consumível para outras pessoas. Existe uma concepção errada que, se você consegue descrever algo como simples, fácil e confiante, você é mais segura de si ou mais realizada. Isso não é verdade. Somente recentemente me tornei confortável com essa ideia.

* iles – substituição dos pronomes pessoais “ela(s)” ou “ele(s)” pelos pronomes não-binários “ile(s)”

E, caramba, graças a Deus – eu acho que isso só aconteceu no nosso tempo, também. É mais fácil ter uma conversa longa que requer paciência ao invés de cinco anos atrás, quando as pessoas exigiam que eu me assumisse como gay. E eu ficava, ”Cara, como você sabe? Nem eu sei!” Era loucura. Para mim e Savannah, eu não me relaciono com a ideia de que são uma pessoa complexa que nunca vão parar de mudar. Não mudar como em, “se tornar o que você deve ser.” Você sempre é quem você deve ser, só há uma evolução. Não é tão fácil conhecer pessoas, e eu acho que estamos todos desenvolvendo melhores intenções em termos de conhecer um ao outro. Estamos ganhando paciência com isso. Não é uma coisa fácil. Eu tenho uma relação fácil com a identidade, eu só não tenho uma relação fácil com expressar essa identidade para a massa.
LD: Esse foi um diálogo incrível e articulado.
KS: Estou realmente lacrimejando. [Risos.] Meu processo tem sido retroativo. Talvez eu fosse realmente frustrada [no passado], tentando conduzir entrevistas onde eu estava claramente falhando miseravelmente. Mas eu acho que as crianças assistindo aquelas entrevistas e pensavam – e a razão pela qual eles me admiram hoje – ”Somos uma geração que não precisamos nos identificar com uma coisa se não quisermos.” Eu estive envolvida nessa narrativa que eu não estava ciente. E eu me sinto desse jeito sobre Savannah. Eu admiro de uma forma fundacional. Se você consome alguma arte, ou segue no Instagram, você vai saber o motivo. São contagioses*, autêntiques*, uma pessoa única. Nem sempre foi desse jeito.

* palavras alteradas para o sistema não-binário.

Eu não acho que as coisas mudaram drasticamente nos últimos cinco anos do jeito que você está falando, Kristen. É muito mais fácil existir nesse espaço no meio. A sua carreira, também – você está interpretando vários papéis onde mulheres são ou abertamente ou sutilmente queers. O que está por trás dessa escolha?
KS:
Não é consciente ou intencional, mas acho que é natural. Somos atraídos pelas coisas que nos identificamos. Eu não liguei para o meu agente e disse, ”Todas as minhas escolham precisam refletir a minha – preparada? – VERDADE!” [Risos.]
LD: Mas isso também fala sobre a coragem da Kristen, o que é um dom raro. Você sabe melhor do que ninguém como jornalista de cinema – é raro quando o artista encaixa com o ser humano. Por isso me apaixonei pela Kristen. Ela se encaixa dizendo, ”Essa é quem eu sou. Essas são coisas que me interessam. Vamos ter uma conversa, vamos fazer um filme para fazer mais perguntas, mas não porque precisamos enfiar a moral pela garganta das pessoas.” Ela se expressa como indivíduo, e isso é uma coisa bonita e rara.
KS: Essa é a Laura Dern. Eu levo ela para onde eu for. [As duas riem.]

Vocês podem falar como desenvolveram essa amizade? O que vocês faziam quando não estavam no set filmando?
LD:
Nós falávamos sobre o filme quando não estávamos filmando! E quando tínhamos tempo social, Kristen adotava meu filho adolescente, que é obcecado por ela. Eles se tornaram melhores amigos, o que foi mais fácil. Eu tinha uma babá, co-star, interesse amoroso – tudo em uma só. O filme é uma história de amor; é complexo, sobre intimidade e tem amor e ódio. Mas na vida real, somos amigas. E também tem a parte da babá. É um filme pequeno e independente, então eu não podia viajar com uma babá. [Risos.]

Laura, quantos anos tem o seu filho? E por que ele é tão obcecado com a Kristen?
LD:
Ele tem 17 agora, então ele tinha 15 anos na época. Quase 16.
KS:Eu viajo com a minha melhor amiga [Suzie Riemer] quando ela pode, e a Laura também. Então tínhamos uma pequena galera e ficávamos, ”Ellory, venha até aqui!” Eu sei o que é crescer em um set porque a minha mãe era supervisora de roteiro, e você quer que alguém te agarre e faça você parte do grupo, porque estamos todos presos lá. E também, falando nisso, Ellory é incrivelmente legal pra caralho. Quando eu tinha 16 anos, eu era uma idiota. Nós ficamos obcecadas com ele, para ser honesta. Suzie e eu ficamos maravilhadas em como ele era legal para a idade dele, e como nós éramos estranhas. Agora ele é mais legal do que nossos amigos.
LD: Meu elogio para a Kristen é que ela é honesta. Ela deixa que ele seja o adulto na sala. Não é tipo, ”Oh, do que você gosta?” Ela ficou tipo, ”Cara, o que você está sentindo? O que está acontecendo?”
KS: E ele respondia tudo!
LD: Ele gosta de ir fundo, também.
KS: Foi uma experiência incrível. E pudemos usar perucas o tempo todo.

Estou curiosa para saber se a performance inerente do filme é similar a performance da fama. Vocês sentem que são mais uma personalidade do que uma pessoa, ou que o público está tentando criar uma narrativa para você?
KS:
Eu sempre lutei ferventemente contra isso. Mas eu sinto em uma quantidade enorme. Eu já tive pessoas próximas a mim dizendo, ”Por que você não torna isso mais fácil para você? Quando você vai para um dia de imprensa, ou para uma entrevista, ou um tapete vermelho – você é atriz! Você não pode fazer coisas para que as pessoas não escrevam merda sobre você, ou tenham conversas difíceis?” E eu fico, ”Não, eu prefiro tê-las.” Eu preferia não ser atriz se tudo fosse uma grande mentira.
LD: Sinto o mesmo. Interessante, foi assim que a nossa amizade se desenvolveu porque nos conhecemos fazendo entrevistas. Nós nos conhecemos em um filme da Kelly Reichardt, Certas Mulheres, e no filme são histórias diferentes, mas ficamos juntas na divulgação. E ficamos tipo, ”Whoa! É alguém que quer responder do mesmo jeito, e tenta ser disponível, e até mesmo vulnerável para a imprensa.” Dez anos atrás era mais fácil estar em uma entrevista e ver um ator fazer o que a Kristen disse. ”Hey, você precisa divulgar, apenas crie sua história.” Mas agora os atores e a imprensa estão no mesmo time. Não que não estivéssemos, mas temos uma missão. O artista e a imprensa estão igualmente nessa categoria “fake news”, e queremos que a verdade seja exposta através da arte e do jornalismo. Temos uma oportunidade de falar sobre coisas reais, então vamos usar isso. Parece que somos parte de uma comunidade unida agora. É um sentimento lindo que você não tinha antes.

Vocês conseguiram identificar quando sentiram essa mudança, quando sentiram que podiam ser vulneráveis com o público?
LD:
Eu prefiro não identificar! [Risos.] Não, estou brincando. Estamos em um jogo.
KS:Você jogava mais quando era mais nova? Ou sempre foi a mesma?
LD: Eu literalmente estive encarando minha publicista desde que tinha 19 anos. E eu acho que ela está animada que eu finalmente comecei a ter um pouco mais de autopreservação. [Ambas riem.] Eu fui criada por atores hippies para apenas dizer a verdade, sua verdade política, falar sobre aquecimento global. Eu fiz uma comédia sobre aborto! Eu não preciso de uma movimentação, mas eu acho que eu pensava que precisávamos responder todas as perguntas, até sobre relacionamentos. Agora eu não respondo essas perguntas. Me tornei adulta. Para mim, bastou ter filhos. Eu não acho que era tão esperta quanto a Kristen. Agora, estou protegendo eles, então eu crio narrativas falsas para fazer as coisas soarem um pouco mais gentis às vezes. Eu amo todo mundo que eu já amei e trabalhei! [Risos] Além disso, eu falo a verdade sobre tudo.
KS: Isso volta para o que estávamos falando sobre a porra da sexualidade, essa coisa de gênero! É a mesma coisa – relacionamentos, coisas pessoais. Você sente a responsabilidade de não ser essa coisa falsa, sentada em frente às pessoas, pensando que você tem qualquer coisa interessante para dizer além de tentar vender um filme. Pessoas fazem perguntas para você, e é sua responsabilidade responder, não é? Porque eu não estou aqui para ser famosa. Então, sim, eu quero me dar para você. Mas quando as pessoas começam a pedir por coisas que não são você, para que eles possam pegá-lo e moldar em uma comodidade para vendê-lo? Isso não é sua responsabilidade, dar renda a eles. Tipo, vai se foder! Mas quando você é pequena, como você sabe quais perguntas responder e quais não? Você precisa crescer e pensar, ”Eu sei o que importa para mim e o que eu me importo.”
LD: Para ir mais fundo – porque estamos lacrimejando! – e sobre o fato de que somos as únicas meninas no filme? Estávamos com cinco caras fazendo entrevistas, e eles não recebiam as mesmas perguntas. Eu já namorei músicos e atores, e eu ficava tipo, ”Meu Deus, esse jornalista fez tantas perguntas sobre nós.” e ele dizia, ”Eles não me perguntaram nada.” Mas agora estamos trabalhando juntas como uma comunidade de atrizes.
KS: Estamos todas conversando, gente!
LD: Todas tivemos as mesmas experiências. Se um homem dissesse, ”Oh, você não gostaria de saber?” O jornalista diria, ”Oh, isso não é adorável.” Mas então se disséssemos, ”Oh, não estou confortável com esta pergunta,” o jornalista diria, ”Sério? Por que?
KS: ”O que você está escondendo?”
LD: Era bullying de um jeito diferente.

Falando dessa ideia de personalidade, vocês seguem o discurso da internet sobre vocês?
LD:
Não. Ai meu Deus, você vai me contar?
KS: Você está brilhando! Tudo o que eu vejo sobre você é muito legal.
LD: Eu compartilho coisas sobre minhas visões ou coisa assim, mas eu não leio nada. Não estou ciente. Você está ciente do que falam de você?
KS: Eu costumava ser quando eu era mais nova porque era muito, muito ruim.
LD: Até eu sabia! Estava em todos os lugares.
KS: Eu estava muito curiosa. Eu precisava que as pessoas não soubessem coisas de mim que eu não sabia. Em certo ponto, eu parei com isso porque, se tivesse um jeito de me virar do avesso, ou dizer isso enquanto estou fazendo um raio-X, você saberia que eu estou sendo honesta. Eu parei de me importar, e ficou muito mais fácil. Eu parei de me importar de verdade sobre o que eram as manchetes e os artigos. E agora, se eu pesquiso meu nome e leio as coisas, eu vejo como se fosse arte absurdista. ”Oh, legal, olha essa coisa estranha!” Eu não estou dizendo que tudo é mentira. A opinião e percepção de todos é deles, e se você vê uma foto minha andando na rua, isso aconteceu. Mas eu costumava ficar ciente porque eu me importava e eu queria controlar isso. E agora eu controlo não me importando. O que é irônico, mas funciona.

Quando e por que essa mudança?
KS:
Acho que uns anos atrás. Fiquei ocupada. O quanto mais longe fico de ser criança, fica mais fácil. E isso soa muito babaca, mas eu sou famosa há muito tempo. Nos primeiros anos, eu não conseguia entender quantas pessoas existiam na sala. Quando eu coloco todos eles em uma sala, eu percebo que posso ser eu mesma.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart conversou com o IndieWire durante o dia de entrevistas do seu novo filme J.T. LeRoy e falou sobre a falta de vozes queers em Hollywood e também sobre seu próximo filme como diretora, confira:

Como muitas atrizes, Kristen Stewart está pronta para uma mudança em Hollywood. Após sua saída do armário no Saturday Night Live em 2017, Stewart fez alguns dos seus melhores trabalhos, mas somente durante os últimos anos ela interpretou personagens queers. Em Lizzie, Stewart interpretou a impressionante amante da assassina Lizzie Borden de Chloë Sevigny. Ela interpreta outro personagem real em J.T. LeRoy, que aproveita a nostalgia da dramatização de uma farsa literária que fascinou o mundo.

Stewart serviu no júri de competição do Festival de Cannes em 2018 ao lado de Cate Blanchett e Ava DuVernay; naquele ano, as mulheres de Cannes condenaram em voz alta a falta de cineastas mulheres no festival. A atriz nunca teve medo de falar o que pensa, especialmente quando se trata de representação em Hollywood. Quando questionada sobre como Hollywood está lidando com histórias queer durante uma recente entrevista ao IndieWite, Stewart disse, ”É animador,” mas que vê espaço para melhora.

”É estranho, porque muitas pessoas criando o conteúdo são queer ou não são héteros,” disse Stewart, avisando que ela não queria generalizar. ”Ainda assim, eu acho que muitas pessoas que cresceram e não são tão jovens, que estão tentando fazer sua arte e ter isso consumido em um cenário comercial… uma reação prevalente bem comum tem sido quieta. Eu acho que a vergonha deles tem sido engolida de volta. Então, só agora estamos – ‘Oh, espera, tudo bem, fazemos nosso trabalho muito bem, mas podemos contar nossas próprias histórias? Porque fazemos isso o tempo todo.’ E somos muito bons nisso.”

Tropeçando um pouco nas palavras, ela adicionou: ”Novamente, não quero generalizar, mas é como a nossa indústria é, somos todos um monte de pessoas gay!”

Enquanto os filmes de época, incluindo Lizzie, Colette e o vencedor do Oscar The Favourite, apontaram uma luz para as vidas queers, Stewart nota que os dramas de época são um dos pontos cegos de Hollywood.

”Também é louco se você pensar nas histórias que já existem. Até dramas de época,” ela disse. ”Coisas que são baseadas em fatos reais. Essas histórias estão sendo contadas de um modo bem limitado porque as pessoas queers existem desde sempre. Só agora que estamos falando sobre isso. E realmente… começamos a falar sobre essa história há pouco tempo. Eu adoraria voltar no tempo e escolher todos os nossos filmes favoritos e ficar: Onde estão os gays? E o que eles estão fazendo, onde estão se escondendo, e o por que não estão falando deles nessas histórias? É desagradável.”

Stewart terá a chance de corrigir a balança quando ela fizer sua estreia com um longa metragem como diretora, A Cronologia da Água. Baseado na biografia de Lydia Yutkavich, o filme está atualmente em pré produção. Então, como esse filme irá contar as outras histórias queers?

”Chronology of Water é, em termos, um forte nadador e é inteiramente fluido,” Stewart disse.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen conversou com o The Hollywood Reporter durante a premiere de J.T. LeRoy, que aconteceu ontem (24) em Los Angeles, e falou sobre identidade de gênero e como o filme ajuda no assunto, confira:

Kristen Stewart diz que seu novo filme J.T. LeRoy, que estreia na sexta feira, pode ajudar sobre a jornada da identidade de gênero.

O filme, baseado em uma história real, segue a autora Laura Albert (interpretada por Laura Dern) que escreve livros com o pseudônimo de J.T. LeRoy, o filho de uma prostituta de estacionamento de caminhões. Quando a popularidade dos livros cresce, Laura contrata sua cunhada Savannah Knoop (Stewart) para fingir ser o garoto e fazer aparições públicas. (Knoop, que usa os pronomes they/them (pronomes de gênero neutro), lançou uma biografia em 2008 chamada Girl Boy Girl: How I Became JT Leroy, que é a base do filme).

”É uma jornada e requer paciência e importância por outras pessoas,” Stewart contou ao The Hollywood Reporter na premiere do filme, na quarta feira, sobre a história. ”Eu acho que se você fica confuso e então indignado que está sendo julgado por não entender, só significa que você não quer. Se você realmente quer entender e se importa com outras pessoas, pode levar uns minutos, mas talvez tenha mais de uma palavra para isso. Talvez requer 10 frases, e tudo bem, também.”

Stewart adicionou que a reviravolta para entender a fluidez de gênero e identidade só se tornou “moda” nos últimos anos. ”Deus, eu respondia perguntas que negavam esse ponto dois anos atrás e sentia que tinha que respondê-las, quando eu ficava tipo, ‘Cara, podemos não chegar no ponto em que podemos não fazer isso?” Stewart contou para o THR.

”Você precisa ter espaço para descobrir por si mesmo,” Dern adicionou. ”Talvez seja o indivíduo que não saiba. É uma coisa linda.”

O diretor Justin Kelly enfatiza que é “bizarro” e esclarecedor como Savannah está aprendendo mais sobre “quem ela é como pessoa” interpretando um personagem masculino fictício. ”Se alguém visse o filme e pensasse que eles podem ser quem quiserem ser – esse não é o ponto do filme em termos de mentir para as pessoas, mas em termos de abraçar quem você é como ser humano – então isso pode ser uma ótima lição,” Kelly contou ao THR.

”Tudo é mais fluido e mais cinza do que o que as pessoas querem acreditar,” adicionou o co-star Kelvin Harrison Jr., que interpreta Sean (Harrison descreve o personagem como ”meio queer… Eu queria que ele tivesse uma masculinidade feminina.”)

Stewart disse que ela percebeu após ler o roteiro o quanto mais “selvagem” e “insana” e “sensual” a história poderia ter sido sem o olhar de fora. ”Obviamente, era essa história elaborada que não era necessariamente representada pela verdade em preto e branco, mas eu encontrei tanta verdade na concepção da história envolvendo a Savannah e a Laura,” Stewart disse. ”É um conto épico e realmente vale a pena porque trata sobre identidade e encontrar sua própria agência como um artista.”

Dern concordou: ”É sobre encontrar a si mesmo e encontrar sua verdade entre as mentiras é uma jornada fascinante.” Ela acredita, no caso de sua personagem, que ela está criando véus para ser a artista que ela queria ser e para expressar que ela foi traumatizada e abusada – ”e ela não sabia como fazer isso por si mesma, como se ela não tivesse o direito ou seria julgada por isso. E ela aprendeu sobre identidade e liberdade na arte de um jeito através dessa musa que se tornou o corpo e o ser que falava com essa invenção que era sua dor.”

No tapete vermelho da premiere, Dern e Stewart mostraram sua amizade, cumprimentando uma a outra com um abraço e fazendo entrevistas em duplas. ”Ela é muito brilhante e eloquente,” Dern elogiou Stewart. ”Foi uma experiência muito íntima e incrível para fazer com uma outra atriz e amiga.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen concedeu uma entrevista para a revista espanhola Yo Dona onde fala sobre JT LeRoy, As Panteras e mais. Confira:

Kristen Stewart (Los Angeles, 1990) protagoniza o filme sobre a maior provocação literária desse século. De 2000 a 2006 a nata da cultura pop se rendeu ao carisma de um adolescente transexual, filho de uma prostituta, soropositivo, gigolô, viciado em drogas e vítima de abusos, que tinha desabafado em três livros cult: Sarah, Maldito Coração e Harold’s End.

Madonna, Tom Waits, Courtney Love, Bono, Lou Reed, Marilyn Manson, Calvin Klein ou Winona Ryder, eram alguns dos ilustres admiradores do retraído escritor, que respondia pelo nome JT LeRoy, e só concedia entrevistas por e-mail ou por telefone. Na realidade, era tudo invenção de uma autora do Brooklyn de 30 anos chamada Laura Albert, que disfarçou sua cunhada, Savannah Knoop, com óculos escuros e peruca loira, para que se passasse por seu alter ego em eventos públicos.

Durante seis anos, as revistas literárias de prestígio, as editoras e os famosos acreditaram na mentira. Savannah chegou inclusive a pisar no tapete vermelho do Festival de Cannes na estreia da adaptação do segundo livro de seu personagem. A complexa história agora virou filme, Jeremiah Terminator LeRoy, na qual Stewart dá vida a mulher que se passou por jovem transgênero. Conversamos com ela sobre este jogo de espelhos e identidades fluidas, do remake de As Panteras e da sua estreia como diretora.

YO DONA – Você conhecia essa história tão ardilosa e fascinante?
Kristen Stewart: Não. Quando eu li o roteiro, a primeira coisa que me veio à cabeça foi: “Espere, isso aconteceu de verdade?”. E pensei que talvez tinham tomado a liberdade de inventar algumas coisas para tornar o filme mais interessante. Sério, as pessoas não podiam acreditar por tanto tempo.

Então, o que te convenceu para que você concordasse em ser protagonista desse filme?
Essa história pode ser vista como um experimento artístico enorme e estranho, que combinou montagem e performance. Eu adoro o personagem, mas também o ser humano. Savannah é uma pessoa generosa, inteligente, afetuosa e genuína. Me chama atenção que uma garota tão jovem, imersa nesse fenômeno midiático, torrencial, conseguiu se manter fiel a si mesma e criar uma identidade.

Ao se passar por JT Leroy, Savannah descobriu coisas sobre si mesma. O que você aprendeu?
Eu descobri que me sinto muito feliz por ser mais velha. Há dois anos eu me encontrava em um momento vital que eu me sentia esgotada, até o ponto de não saber com quem eu gostaria de compartilhar o meu tempo. Aconteceu comigo o mesmo que com Savannah: não estava claro se se encaixava, com que aparência queria se apresentar ao mundo.

De fato, o filme expõe o contraste entre a pessoa pública e a privada, assim que imagino que você se identificou.
E muito. Essa luta interna, essa exposição contínua… Sei o que você sente quando a forma como você se apresenta em público não se alinha necessariamente com como você se sente por dentro.

Qual tem sido o aspecto da fama mais difícil que você tem de enfrentar?
Quando eu era jovem, outros colegas de trabalho diziam: “Vai, relaxe, dê ao público e a imprensa o que eles querem. Sorria.” Mas eu não posso. E é assustador. Você está sentado em um cômodo na qual todo mundo te considera a estranha e o verdadeiro estranho é quem está ao seu lado, dando a impressão de ser o mais simpático. Conheço muitas pessoas que fingem dando a impressão de serem encantadoras. São tão previsíveis… Dizem o que se espera deles a todo momento. Todo mundo os adora. E acaba sendo irônico, porque muitas vezes o que mostram e o que dizem não é verdade.

Você ter superado essa etapa de confusão e se sentir mais madura são as motivos para você ter decidido dirigir seu primeiro filme?
Por eu ser mais velha? (Risos) Não, eu sempre senti essa vontade em meu interior. Fazer um filme é um processo precário e delicado, onde é necessário muitas mãos. E chegar até o final dessa experiência é como fazer malabarismo com um conteúdo precioso. É a melhor sensação que já experimentei. Desde criança tenho sido estimulada por essa comunhão de pessoas que compartilham uma ideia até o ponto de fazer qualquer coisa para realizá-la. E eu quero liderar essa comunidade, porque isso me animou no passado, me fez ser quem sou. Eu me sinto tão sortuda que quero compartilhar isso.

Laura Dern, que en Jeremiah Terminator LeRoy, interpreta Laura Albert, confirma o talento de Kristen Stewart como diretora: “Há poucos atores que transmitem essa qualidade, mas nesse filme, no qual tivemos que nos apoiar, eu vi como ela olhava tudo com olhos de diretora.”

Sua obra prima é um drama bisexual intitulado The Chronology of Water, baseado na autobiografia homônima da escritora e professora norte-americana, Lidia Yuknavitch.

Kristen, que em sua vida sentimental alternou os parceiros de um e outro sexo, está exultante sobre a complexidade dos projetos que lidera. “Não foi apenas a minha viagem de autodescoberta que me levou a interpretar personagens com fluidez de gênero. É que agora estão criando mais. É uma vitória. E eu me sinto feliz defendendo e contando essas histórias”, afirmou em entrevista a revista online de cinema IndieWire. Entre o leque de filmes que ela tem para chegar ao cinema, estão o suspense de época, Lizzie, onde deu a vida a amante de sua companheira de elenco, Chloë Sevigny, e a comédia romântica, Happiest Season, na qual ela descobre que sua namorada ainda não saiu do armário. Também há espaço para a cinebiografia: em Against All Enemies ela encarna a atriz Jean Seberg. E não dispensa os filmes de ação – em Underwater lidera uma equipe de investigadores submarinos que confronta um terremoto – ou o puro entretenimento, com o remake feminista de As Panteras, filme sobre o qual ela disse: “Foi uma filmagem na qual as mulheres se apoiavam, não nos limitamos a chutar bundas. A única razão para fazer uma nova versão era conectar a esses tempos de conscientização, sem que nenhuma mulher fosse considerada um objeto.”

Você falou com Savannah sobre a frustração de ser rotulada por sua orientação sexual?
Sim, eu adoro falar com ela sobre isso. Colocamos rótulos porque queremos dar nome às coisas para assim poder entendê-las. Também acontece comigo. Mas é pela falta de referências. A medida que o tempo passa eu me dou conta de que há muitas histórias inacabadas. Quando vejo um filme de época, me pergunto onde estão os homossexuais. Não estão contando sobre a vida deles. É por isso que ainda não desenvolvemos o vocabulário correto para estes tempos, mas chegaremos nisso.

Que mudanças você vê nas novas gerações no que se refere a aceitação da sua sexualidade?
Eles não dão muita importância a isso. Eu cresci cercada por meninos que se chamavam entre si de desajeitados sociais e diziam porra sempre antes de alguma frase, mas a nova geração mudou muito. Eu não acredito em grandes diferenciações, em reduzir tudo a homem e mulher, porque temos tanto no nosso interior. E eles assumem isso de maneira natural.

Falando sobre reducionismo, qual você acha que será a minha impressão sobre você depois de 20 minutos de conversa?
Cada um tem uma percepção das coisas segundo sua própria experiência, assim que você está no direito de escrever o que você honestamente pensa. Se você tenta dominar as coisas, pode ficar louca e não focar no que importa. Antes eu ficava nervosa e era uma obcecada por controle, mas agora, sinceramente, eu gosto de manter uma conversa sobre coisas que me preocupam, assim que você faz o que acreditar.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil