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Kristen Stewart é capa da edição de primavera da revista Who What Wear e conversou com a amiga e ex-colega de elenco em The Runaways, Riley Keough, para o recheio. Confira abaixo as fotos, vídeos e a entrevista traduzida:

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Riley Keough: Oi!
Kristen Stewart: Ei, e aí?
RK: Minha nossa, estou tão feliz em te ver. Onde você está?
KS: Na minha casa.
RK: Muito legal.
KS: Deixar a responsabilidade de conduzir algo legível em nossas mãos é engraçado. Pensei duas vezes… Tipo: “Legal, posso falar com a Ri por 50 minutos. Parece bom.” Mas então lembrei: “Espera, queremos que as pessoas tenham conhecimento do que foi falado?” Nada de bom sairá daqui.
RK: Tudo bem porque eu tenho pautas, então vou segui-las. Bem, primeiramente… pude ver este filme incrível enquanto estava de cama com COVID, o que foi uma experiência bem maluca porque sonhei que um demônio tinha possuído meu corpo. Estou na Inglaterra. Fui para a cama e liguei para minha curadora de energia quando acordei dizendo: “Literalmente acabei de sonhar que um demônio possuiu o meu corpo e começou a desejar matar pessoas.” Recebi o seu filme nesse dia.
KS: O desejo de matar era um fato, tipo na realidade do sonho, ou você sentiu a necessidade de matar?
RK: Não acredito que estou dizendo isso em uma entrevista. Nunca contei isso para ninguém além da minha terapeuta, mas era como se um demônio tivesse tomado conta do meu corpo, tipo: “Rawrrr!” Ele estava ameaçando pessoas e eu não sabia o que estava acontecendo. Foi muito maluco. Parecia que havia outra entidade no meu corpo.
KS: Como se você estivesse fora de controle.
RK: Totalmente fora de controle.
KS: Tipo ‘Quero Ser John Malkovich’. Que merda!
RK: Eu acordei com COVID, então talvez tenha sido o vírus entrando de maneira agressiva no meu corpo nos meus sonhos. Então tive que assistir Love Lies Bleeding. Foi tão intenso, mas maravilhoso. Pensei: “Isso é ótimo. Pelo menos não estou sozinha.”
KS: Eu ia dizer que é loucura assistir sozinha. É um filme que você gostaria de assistir em um momento agitado com outras pessoas, em vez de ficar parada e sozinha.
RK: É muito bom, e também, você é muito boa.
KS: Obrigada, cara.
RK: Talvez não pareça para você, mas quando eu estava assistindo, você parecia tão livre na sua performance. Não sei se foi assim quando você estava atuando, mas pareceu muito… viva e livre.
KS: É estranho porque a personagem é meio paralisada, então, ao mesmo tempo, ela não é alguém livre ou acho que você não diria necessariamente que ela é.
RK: Não, ela não é, e por isso é tão estranho… Se eu tivesse lido o roteiro, teria interpretado a personagem de maneira muito mais restrita. Não consigo descrever, mas foi muito especial. Foi muito interessante e queria que você falasse sobre isso.
KS: Foi em um bom momento, pois envelhecer e escolher as coisas certas para você contribui para isso, porque me diverti muito. Eu não queria parar de filmar nunca. Queria que ultrapassássemos o cronograma. Tivemos sorte porque tivemos a chance de voltar e fazer “refilmagens”, o que realmente pareceu uma extensão do processo. O roteiro era preciso, mas tudo parecia maleável o tempo todo… [Rose Glass] realmente permitiu que as pessoas entrassem e habitassem este espaço de uma forma que é rara, e eu realmente adorei a oportunidade e fiquei obcecada pela Lou. Ela era alguém que eu realmente precisava defender o tempo todo… Ela é uma protagonista que é tão satisfatória porque todos nós temos esse demônio e esse monstro lá dentro que diz: “Talvez eu possa ser horrível. Talvez eu possa me assustar muito.”
Além disso, em questão de tom, essa pessoa é alguém que não está acostumada com os olhares, então há uma coisa estranha e irônica que acontece nesse filme para mim. Estou tão ciente do fato de que ela geralmente não é a personagem principal. Sempre que a câmera está em mim, e na Lou, penso: “Espera, tá de sacanagem?” Estou me divertindo e provavelmente foi o que você sentiu. Ela é fechada, estranha, bruta e precisa de muita terapia, mas foi tão divertido interpretar a pessoa boa e afável que… não precisa ser moralmente decente ou que passe por algum processo que faz todo mundo se sentir bem em relação aos filmes e histórias que contamos sobre mulheres. Fiquei muito animada com o quanto o papel era diferente, divertido e sexy de uma maneira “foda-se”. Pensei: “Rose, quem é você?!”
RK: Me surpreendi constantemente com esse filme e com a sua personagem. Pensava: “Ok, é isso. Essa é a personagem”, e então era diferente. Você trouxe tanta textura para ela. Sabe quando você assiste algo e pensa: “Ah, não teria pensado nisso. Não teria feito assim”? Amo quando assisto performances desse tipo. Há momentos em que você é tão engraçada.
KS: Me sinto assim em relação a você o tempo todo. Não é sem sentido. É reciprocidade verdadeira. Me sinto assim genuinamente sempre que assisto você em um filme.
RK: Obrigada! Não foi… o que eu esperava, o que eu teria feito ou escolhido, então realmente amei assistir você.
KS: Rose tinha que me lembrar consistentemente do tom, porque eu sempre diminuía e ela dizia: “Não, não.” Ela nos levava em direção ao balístico, tipo, bombástico. O quanto a Anna Baryshnikov é boa no filme?
RK: Minha nossa, eu pensava: “Essa menina é tão doida.” A atuação foi muito boa. Todo mundo era psicótico.
KS: Ela me impressionou tanto ao vivo. Tenho tendência a provavelmente ser irritante para diretores. Levo as coisas de forma muito literal no momento por algum motivo, então depois de alguns dias, digo: “Não sei por que fiquei tão presa naquilo. Sinto muito mesmo. Era um detalhe tão irrelevante.”
RK: Às vezes, a atuação é como se você estivesse bêbada ou algo assim porque você não está completamente dentro de si. Eu me comporto de maneiras que não são normais e fico com a visão totalmente focada. É tipo: “Sinto muito pelo meu comportamento.”
KS: É, você vai dormir de noite e percebe quando acorda, assim como acontece se você foi idiota enquanto estava bêbada.
RK: Como foi a preparação para esse filme?
KS: Bem normal. Lemos o roteiro algumas vezes juntas e provavelmente tivemos conversas diferentes sobre ele ao mesmo tempo. Todos falavam uns com os outros sobre coisas diferentes e não chegávamos em nenhuma conclusão esclarecedora. Na verdade, tive que fazer o contrário… Eu tinha parado de fumar antes das filmagens, então realmente foi uma merda voltar.
RK: Eu fiquei curiosa. Você estava fumando cigarros falsos?
KS: Não, eram de verdade.
RK: Pensei: “Não tem como ela estar fumando cigarros falsos.”
KS: Eca. Não consigo.
RK: São tão nojentos.
KS: São horríveis e eles não fazem fumaça. Entende? Eles ardem, entram nos olhos e você parece uma fracassada. Mas foi horrível. Foi parte da preparação.
RK: Por que você parou de fumar?
KS: Acho que é algo que todos devemos fazer em algum momento de nossas vidas.
RK: Você parou mesmo?
KS: Sim, não gosto de fazer promessas e tal, mas não gosto mais de fumar cigarros. A Lou fuma cigarros pra caralho no começo do filme, e Rose faz takes. Nós não fazemos as coisas três vezes. Foi divertido. Sempre fomos além. Esse filme tirou alguns anos da minha vida, mas valeu a pena. Eu o amo, mas não foi legal.
RK: Ok, vou olhar as perguntas na minha lista…
KS: No que você está trabalhando agora?
RK: Um filme em Londres. Estou ensaiando.
KS: Que legal. É um cronograma de ensaios muito legal e confortável. Que luxo.
RK: Sim, só trabalho oito dias ao todo, então tenho um tempo para relaxar.
KS: Exceto que não é relaxante trabalhar oito dias em um filme, porque então você pensa: “Ok, é melhor eu arrasar.”
RK: Não sei o que é, mas um papel coadjuvante é muito mais estressante para mim. Você sente isso?
KS: Sim, você se tortura porque põe tanta pressão no seu tempo limitado para passar algo. Recentemente precisei sair de um filme que sei que vai ser espetacular. É daqueles em que o roteiro é tão prosaico. É basicamente uma novela, daria para publicar. Os atores são dois dos meus favoritos atualmente, são jovens também. Eles são pessoas emocionantes que são incríveis pra caralho… Detalhes à parte, meu filme [The Chronology of Water] acabou de receber financiamento.
RK: Fiquei sabendo! Devemos falar sobre isso. Que emocionante. Depois de quanto tempo tentando?
KS: Por mais ou menos três anos… Mas estive segurando essa ideia por seis anos. Foi quando começou o processo de adaptação. Fui para a Letônia. Cara, espacial e ambientalmente, essas áreas do planeta estão se abrindo para nós e para a história de uma forma tão viva, e é tão oficial para mim porque faz tanto tempo. Eu vou abrir a porta certa e surtar. Só de saber as pessoas que estão nos ajudando a fazê-lo, a equipe que montamos, o elenco atual, a maneira como está se desenvolvendo… Tudo isso, o quanto a Imogen [Poots, atriz principal] está comprometida há tanto tempo, parece mais pessoal. Sinto que criei um corpo vivo fora do meu. É um clichê tão grande, mas parece um animalzinho levado, e estou tão orgulhosa quanto com medo… tipo, completamente Frankenstein.
Estou com medo de onde pode nos levar, mas também estou incentivando a irmos até o limite. Acho que a Imogen aguenta, ela é forte o bastante fisicamente. Ela está no momento perfeito da vida. Estou tão feliz por ter demorado tanto porque as coisas se abriram de uma maneira que vai criar um filme melhor. Eu acho que é… o timing perfeitamente exato, e estou muito animada. Vai ser rápido. Três meses e acabou.
RK: Vai acabar, então aproveite cada momento estressante. As duas coisas na minha vida que tiveram um timing divino, até agora, foram o nascimento da minha filha e dirigir o meu filme. Realmente acontece quando deve ser e é tão estranho. É uma coisa realmente mágica que não aconteceu tantas vezes em outras partes desse trabalho, como a atuação e tal.
KS: Sim, porque você está colhendo alguma coisa… Outras pessoas geraram a coisa. Você pode encontrar áreas para encaixar sua pessoa, sua personalidade e vida interior, mas é exterior. Você passa por alguma coisa do lado de fora. É um impulso autogerador tão diferente, semelhante ao do útero.
RK: Parece tão simples, mas é tão mágico ver algo sair da sua imaginação e se realizar… Olha, fazemos tantos rascunhos. Às vezes esquecemos o que deixamos e o que tiramos. Você está fazendo o seu trabalho, o que quer que seja como diretora, e então alguém entra segurando uma caneta amarela porque você escreveu: “Ela está segurando uma caneta amarela.” E você pensa: “Uau.”
KS: Uau, escrevi isso seis anos atrás. Obrigada por notar esse detalhe, pessoa.
RK: Essa coisa toda ganha vida e é tipo: “Uau, todas essas pessoas estão transformando minha ideia em realidade, que loucura.” É como mágica.
KS: É tão divertido falar com você sobre isso porque não conseguimos falar quando estamos dirigindo, então é tão louco colocar em termos básicos assim, em que você diz: “Como fiz isso?” Então é tomado e transformado em algo que vive e respira. Eu sei que é apenas um presente, mas realmente testemunhar… Isso é uma citação do livre: “Testemunhe a vontade.” Precisa de tanta vontade e disposição. Dirigir consiste em procurar pelas pessoas certas que querem algo tanto quanto você, e talvez você queira algo diferente, mas canalizar todo esse desejo é tão emocionante. Vocês vão dirigir um novo filme? O que vão dirigir agora?
RK: Estamos escrevendo três filmes porque somos confusas. Me sento e escrevo 10 páginas e penso: “É esse”, e então fico sem inspiração para continuar escrevendo por um mês e volto para o outro. Estou me permitindo ser lírica e emocional no meu processo de escrita porque é o melhor jeito de escrever para mim.
KS: Sinceramente, há muitas maneiras de entrar na história. Para mim, é sempre detalhe versus qualquer coisa abrangente, e isso provavelmente é minha fraqueza e minha força, o que faz sentido porque sou atriz. Acho que é algo que não devemos evitar, especialmente se você trabalha com roteiristas ou está cercada de pessoas que têm uma abordagem mais prática. É fácil ficar com inveja disso, mas também é muito legal poder dizer: “Sim, mas os meus momentos brilham pra caralho.”
RK: Sou roteirista autodidata como você. Não fiz faculdade para escrever roteiros e levei um minuto para aprender… bem, um minuto tem sido dez anos. [Risos]
KS: Você está tipo: “Desculpa, por que estou sendo modesta?”
RK: [Risos] “Na verdade, sou profissional.” Levei muito tempo para encontrar o equilíbrio entre o que funciona para mim e a estrutura. Não consigo escrever com a estrutura em mente. Tenho que escrever do meu jeito, e então…
KS: Encontrar um esqueleto para suporte. Esses momentos que você gosta de sonhar estão todos conectados. Não estão desconectados. Deixe eles livres, então você pode encontrar uma maneira de juntá-los.
RK: Total. Eu sou um pouco disléxica e muitas vezes escrevo o fim primeiro, é o que funciona para mim. Só sigo o caminho que me leva. Não fico sentada pensando: “Ok, vou trabalhar das 15 às 16h, só vou escrever.” Não consigo.
KS: Meu cérebro funciona melhor pela manhã. Eu adoraria viver aquela vida romantizada de escrever durante a noite, mas acordo pela manhã, me comprometo e não digo uma palavra até terminar.
RK: Tenho uma coisa engraçada em que sou um monstro em um avião.
KS: Eu também! Acabei de fazer isso. Li o livro de capa a capa, fiz uma revisão completa e escrevi três cartas de amor para atores.
RK: Eu preciso voar uma vez por semana porque escrevo tanto em um avião. Sei lá. Talvez por estarmos mais perto de Deus.
KS: [Risos] Uau. Enfim, mal posso esperar para encontrar a coisa certa para fazermos juntas. Além disso, penso em nossas empresas como irmãs, é muito fofo. Dizemos: “Vamos ler tudo de vocês. Podem ler os meus?” Sinto que somos novatas… não de um jeito modesto, mas só acho que nós duas vamos longe com essas coisas. Mal posso esperar para crescermos juntas.
RK: Aw.
KS: Eu imagino duas casas e penso: “O que elas estão fazendo para o jantar? O que tem na cozinha?” Estou tão curiosa para saber o que vocês estão cozinhando, cara.
RK: É realmente inspirador assistir seus amigos trabalharem bem. O que nos leva de volta a Love Lies Bleeding porque eu pensava: “Eu amo meus amigos. Eles são tão talentosos!”
KS: Não é o melhor sentimento do mundo? Tenho muita sorte.
RK: Eu amo me sentir dessa forma porque essa indústria pode ser tão competitiva, especialmente quando lembro dos meus 20 anos fazendo testes contra todas essas meninas e como eu me sentia… como era ser comparada a elas.
KS: O palavreado em torno das atrizes era muito mais desagradável naquela época.
RK: Era uma época maluca. Também era uma época em que éramos tão radicais. Cada papel que conseguia, eu pensava: “Não sou essa pessoa.” Todas as personagens eram garotas perfeitas. Todos os papéis eram a garota loira perfeita. Elas eram todas iguais, e eu dizia: “Não posso interpretar isso. Não consigo. Não é minha especialidade.” Eu ficava tão frustrada, porque nunca seria esse tipo de garota.
KS: Bem, esse tipo de garota não existe. É um arquétipo que deixa as pessoas confortáveis, e algumas pessoas na vida real interpretam essas garotas. Em algum ponto, fica muito difícil. Não acho que seja sustentável.
RK: Acho que por isso você era tão emocionante… Você interpretava as personagens principais, mas do seu jeito. Isso é muito mais comum agora. Os papéis para nós são mais complexos, mas é que torna todas as suas atuações tão poderosas e por que elas se conectam tanto… as meninas estavam assistindo uma menina que não viam sempre.
KS: Eu tentei interpretar aquela garota também. Tentei quando deveria.
RK: Sim, mas simplesmente não há uma parte daquilo em você. Enfim, estou feliz por termos mais oportunidades hoje em dia… Quando você vai filmar o seu filme?
KS: O fato de estarmos no telefone agora é tão… Vai me fazer vomitar porque estou ocupada e preciso fazer outras coisas agora. Estou esperando pela neve. Nos meus sonhos, posso escalar atores para os quatro papéis principais muito rápido, vamos fazer uma dança da neve e torcer por uma tempestade antes de entrarmos em preparação completa para que eu possa fazer uma pré-filmagem. Praticamente só preciso de uns quinze filhos da puta no meu set. Podemos fazer tudo tão pequeno. Vamos filmar em 16 milímetros. Quero filmar um pouco do cenário antes de começarmos. Eu quero criar uma vibe e dizer: “Acreditem, é tudo o que precisamos daqui pra frente a menos que tenhamos dias maiores.” Então, torça pela porra da neve… No geral, essas duas sequências vão nos fazer parecer um filme maior, e se não conseguirmos, vamos começar no dia primeiro de abril.
RK: Bem, isso é muito emocionante. Estou muito feliz por você.
KS: Eu sei! Estou muito assustada e animada, parece que estou vivendo em uma simulação. Não é real e nada importa. Além disso, o sentimento muda dependendo da hora do dia. Pela manhã, eu acordo e literalmente: “Me sigam até o inferno, filhos da puta. Posso fazer qualquer coisa.” À noite, se estou sozinha em um quarto de hotel, fico pensando por que disse para todo mundo que deveríamos fazer esse filme.
RK: Acho que esse é o espectro da direção. É tão intenso. Bem, não tenho nenhum conselho para você porque não sei o que estou fazendo, mas estou tão animada porque é uma aventura maluca.
KS: Queria que você estivesse lá. Não quero te contar, quero que você esteja lá. Vai ser divertido pra caralho. Precisamos fazer um filme juntas.
RK: Ok, vamos. Literalmente disse hoje de manhã para a Gina [Gammell]: “Precisamos encontrar algo para mim e Kristen fazermos porque seria muito divertido.”
KS: Sim! Ok, bem, vamos desligar o telefone. Acho que acabamos, né?
RK: Sim.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart é capa e recheio da nova edição da revista Rolling Stone como parte da divulgação de Love Lies Bleeding, novo filme de Rose Glass estrelado por ela e Katy O’Brian. Na entrevista, Kristen fala sobre lidar com a ansiedade no passado, sobre a preparação para The Chronology of Water e seus planos de engravidar no futuro. Confira as fotos e leia a entrevista:

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Kristen Stewart é forte pra caralho, e não digo de forma metafórica. Por exemplo, não estou falando sobre qualquer experiência do passado que ela tenha “superado”, como aquela vez em que fez aqueles filmes de vampiros e lobisomens e foi considerada a Atriz Mais Odiada do Mundo porque não parecia animada o suficiente de se sentar em uma sala rodeada por jornalistas e discutir dar uns amassos nos seus colegas de elenco. Ou a vez em que foi fotografada beijando o diretor muito mais velho (e casado) de Branca de Neve e o Caçador, e, por conta do terror que isso gerou, foi banida da sequência. Não estou falando da coragem que foi necessária para interpretar Joan Jett na frente de Joan Jett. Ou a coragem que foi necessária para interpretar a Princesa Diana na frente do mundo inteiro. Ou a coragem que foi necessária para se assumir no SNL respondendo os tweets maldosos de um apresentador de reality show maluco que virou presidente. Em outras palavras, não estou falando de “força” como uma descrição dada para mulheres famosas que não sucumbem aos rótulos que a sociedade coloca nelas. Não. Estou falando, de forma bem literal, sobre os bíceps de Kristen Stewart.

Ok, vamos recapitular. É o começo de uma tarde de janeiro. Estamos em um grande deck bem situado na encosta de Los Feliz, com uma vista deslumbrante da folhagem tropical. O tempo voltou àquela perfeição meteorológica branda, endêmica em Los Angeles, apesar de uma manhã que estava de pernas para o ar, derrubando uma pequena árvore no quintal de Stewart. “Que porra de energia maluca de bruxa você trouce para L.A.?!!” dizia um email na minha caixa de entrada quando acordei. “O tempo está maluco aqui fora!” Era a mensagem mais recente em uma corrente que começamos para tentar planejar nosso segundo dia juntas, embora a troca tenha regredido (desenvolvido?) para recomendações de livros e artigos e uma confissão de Stewart de que, quando se trata desses tipos de entrevista, “a ansiedade é real.”

Por fim, ela me convida para o que ela já havia planejado fazer de qualquer forma naquela tarde: kickbox com seu treinador Rashad. Supostamente, estamos nos encontrando para que ela possa divulgar Love Lies Bleeding, um thriller romântico dirigido por Rose Glass, em que Stewart interpreta uma gerente de academia que cobiça uma fisiculturista (interpretada por Katy O’Brian) que, como Stewart descreve, “chega e sacode a lata de Coca-Cola, mas explode e todo mundo se suja” (a “sujeira” é a maneira mais estranha possível de descrever o inferno sangrento, suado e movido por identidade que acontece depois). Nesse contexto, kickbox é algo clichê adjacente à divulgação de filmes que Stewart provavelmente recusaria fazer, e portanto, imaginamos, é a coisa mais subversiva que ela poderia fazer. “Menos conversa, mais rock”, aconselha ela.

Por enquanto, está bastante estabelecido que “subversivo” é a praia de Stewart. Imagine-a aos 17 anos se recusando a interpretar Bella Swan de maneira alegre e olhos brilhantes como os adultos tinham em mente, e escolhendo andar triste por aí como se realmente estivesse apaixonada por um morto-vivo. (“O estúdio estava tentando fazer um filme para crianças. Eles não queriam o que realmente estava no livro. Quando é que Bella e Edward sorriam?”) Então, depois de passar cinco anos em uma franquia que arrecadou mais de 3,5 bilhões de dólares na bilheteria mundial, gerou coisas como secadores de cabelo de Crepúsculo e momentaneamente fez de Stewart a atriz mais bem paga do mundo, houve a transição de uma vez por todas (em sua maioria) para os filmes independentes, que ela fazia entre os filmes da saga, às vezes filmando três ou quatro por ano. Houve Acima das Nuvens, pelo qual ela recusou o papel principal para interpretar a assistente um pouco despojada, e que a levou a ganhar um César (o equivalente francês do Oscar), a única mulher americana a conquistar esse feito. Houve Spencer, que a concedeu uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Atriz por sair de sua zona de conforto com tanta habilidade. Depois que nos encontramos, ela viajou para Park City, em Utah, onde foi homenageada com o Visionary Award enquanto estreava seu 11º e 12º filme no festival — Love Lies Bleeding e Love Me, um romance pós-apocalíptico no qual ela interpreta uma boia ao lado do satélite de Steven Yeun (“Basicamente, a internet, o universo que conhecemos, está contido em uma máquina, e eles buscam entender como podem namorar”, explica ela). “Estávamos começando a filmar, e havia possibilidade de ser uma cena muito tensa”, Yeun me conta sobre trabalhar com Stewart em um projeto tão incomum. “Ela só colocou a mão no meu ombro e disse: ‘Ei, eu gosto de você.’ Isso desfez toda a névoa no meu cérebro. Ela é muito profunda e legal dessa forma.”

A profundidade e a frieza fizeram de Stewart uma escolha óbvia para papéis contraculturais, mulheres que se destacam porque estão distantes de qualquer coisa ao redor. Mas também são as qualidades por trás da habilidade de Stewart de fazer personagens parecerem contraculturais pela virtude do fato de que ela os interpreta, levando uma timidez e restrição que parecem ser inimigas em uma franquia em que ela precisa dizer, em voz alta, falas do tipo “Olá, bíceps!”, mas brilha em um nível mais sutil. “Ela entende como as pessoas se disfarçam e consegue interpretar isso, o que torna o trabalho dela tão interessante e diferente”, diz Jodie Foster, que começou a filmar O Quarto do Pânico com Stewart quando ela tinha 10 anos. “Eu me lembro de ficar maravilhada com essa criança.”

Quando chego na casa dela, Stewart, agora com 33 anos, está acordada há muitas horas. Houve uma época em que ela tinha “um relacionamento muito fodido com o sono”, mas agora ela dorme e acorda cedo, trabalhando pela manhã com a noiva Dylan Meyer em um dos muitos projetos encabeçados pela Nevermind, a produtora que as duas fundaram com Maggie McLean em 2023. (Stewart me diz que não foi nomeada em homenagem ao álbum do Nirvana, mas que compartilham o desejo da banda de “mudar as coisas para melhor de alguma forma”.) “Dylan e eu estamos escrevendo uma coisa, então valorizamos as primeiras três horas do dia. Nossos cérebros funcionam bem nesse horário”, diz Stewart. “Quando ela se mudou para essa casa, eu não tinha cortinas, tinha três garfos, nunca bebia café e não dormia. Ela disse: ‘De manhã, você bebe café e trabalha, você está viva, acordada e de noite, você fecha as cortinas.’ Pensando bem, era óbvio.”

Quando Stewart me leva para o lado de fora, Meyer já está no deck, vestindo uma camisa branca do New Order enquanto Rashad arruma os tapetes de ioga e pesos livres. Logo Stewart coloca uma playlist e Rashad está nos fazendo “separar as omoplatas e concentrar no abdômen” ao som de Vivien Goldman enquanto a vira-lata preta de Stewart, Cole, vaga por entre os tapetes. Nos alongamos e treinamos luta, então chegamos no momento sobre o qual Stewart me avisou: a competição de flexão em uma barra fixa em uma engenhoca independente instalada no deck. Eu faço aproximadamente nenhuma. Meyer consegue várias. Stewart faz flexão atrás de flexão, depois troca para uma posição diferente e faz mais algumas, e todos olhamos admirados.

“Você deveria saber que a Kristen é boa em tudo. É inspirador, mas também irritante”, Meyer me diz baixinho sem um pingo de irritação de verdade.

“Vamos, vamos, vamos!” grita Rashad. “Você é forte pra caralho, vamos!”

Stewart finalmente desce da barra, ofegante.

Ela abre aquele famoso sorriso de canto e olha para os protetores corporais: “Vamos para o ringue.”

Foi a subversão da ideia de uma “mulher forte” que levou Stewart até Love Lies Bleeding, ela havia me contado algumas semanas antes, sentada no sofá de couro preto de sua sala de estar embaixo de grandes letras de metal que formam a palavra ASS (bunda em inglês). Nesta tarde, está chovendo e a vista pelas portas de vidro quase não vai além do deck, onde além da barra de flexão, há uma banheira com pés que Stewart tirou de um dos banheiros e colocou do lado de fora (“Quebra muito, mas é bem legal tomar banho aqui fora”). Pouco imponente por fora, a casa desce a encosta de maneira elegante, mas é mobiliada de forma aleatória e um pouco mal cuidada. Do outro lado da sala, onde um manequim de plástico branco está em um banco com vários roteiros e papéis da Nevermind, há uma parede de livros de um lado (Mary Shelley, Jack Kerouac, Kim Gordon, Kathy Acker) e um tipo de sala de jogos do outro, composta por uma mesa de sinuca laranja, uma máquina de pinball da Playboy, uma fileira de armários de metal e uma geladeira com um grande adesivo de risco biológico laranja na porta. Uma sala ao lado da cozinha possui um sofá em desintegração, uma bateria e uma coleção de violões e guitarras. Perto da escada, infiltrações marcam o teto e as palavras “a vida é bonita” estão pichadas em tinta vermelha.

“Só pra você saber, essa pichação… você conhece o Mr. Brainwash?” Stewart aponta ironicamente para a parede. “Ele veio aqui com um amigo meu e fez isso, eu fiquei tipo: ‘Então, eu sei que eu meio que vivo em uma república, mas isso é psicótico.’ Sabe? Pensar que você pode fazer isso na porra da casa de alguém.” Durante a pandemia, Stewart pichou “PRINCIPALMENTE” em letras maiúsculas. “Enfim,” continua ela, dando de ombros, “só para contextualizar que: foda-se esse cara.”

Stewart comprou a casa há 12 anos, como um lugar para “se esconder” durante o término com Robert Pattinson, na época em que ambos tinham que andar nos porta-malas de carros para tentar evitar os paparazzi. Em teoria, ela entende o interesse que as pessoas ainda tem nesse relacionamento, entende mesmo, mas me diz mais tarde: “Rob e eu não podemos continuar falando disso, porque é estranho pra caralho. É como se alguém continuasse perguntando, literalmente por décadas, sobre o último ano da escola. Você responde: ‘Incrível pra caralho, cara! Sei lá!’”

Qualquer que seja sua restrição nos filmes, hoje Stewart é animada e cheia de alegria. Pouco depois de começarmos a conversar, ela começa a perambular, sem avisar, para trocar os sapatos de couro preto por tênis (“Gosto de sapatos macios. Fui em um lugar hoje e me arrumei, mas agora estou aqui pensando: ‘Por que estou com esses sapatos grandes?’”). Alguns minutos depois, ela perambula de novo (“Ela continua andando para longe de mim”, Stewart narra da minha perspectiva), e retorna da geladeira com o adesivo de risco biológico com duas cervejas. “Pode beber se quiser”, ela anuncia. “Eu vou beber uma.”

Abrimos as latas. Ela retorna para o sofá. Stewart está usando uma camisa preta desgastada com buracos nas duas axilas, jeans preto largo e esmalte preto descascado. Seu cabelo está em um rabo de cavalo, com mechas escapando.
“Você já sabe o que vai…” ela para. “Eu sei que os atores ficam na defensiva. Não quero dizer, tipo: ‘Já sabe o que vai escrever?’ Mas você já, sei lá, tem um rascunho ou algo assim?”

Não, digo para ela. Acabamos de nos conhecer. Como saberia os rascunhos da história?

“Ok, beleza.” Ela se inclina na minha direção, as pernas abertas e os cotovelos apoiados no joelho. “Vamos pensar em alguma coisa.”

Há muito para dizer sobre Love Lies Bleeding, então podemos começar por isso. E foi assim que aconteceu: Stewart estava em Londres para a estreia de Spencer. Na manhã seguinte, sem dormir (“Estávamos fazendo coisas inglesas”), ela desceu ao saguão do ostentoso hotel de coletiva de imprensa para se encontrar com a diretora Rose Glass, cujo filme de estreia, Saint Maud, um sonho febril psicológico sobre obsessão religiosa, encantou Stewart. Elas se sentaram em uma mesa ao lado e beberam chá. Glass explicou que o que as pessoas queriam dela a seguir era um filme sobre uma mulher forte, uma personagem principal forte.

“O que isso significa?” Stewart pergunta agora, apertando os olhos. “É besteira. Significa que não estamos deixando as mulheres realmente se definirem. É a suposição de que precisamos ser empoderadas pelas pessoas que decidem quem terá perspectiva, que temos que fornecer algo inspirador. É a coisa mais básica que existe.” Glass revelou que havia pensado em uma maneira de subverter essa expectativa: levando a sugestão de maneira literal. “Ela disse: ‘Garota forte? Fisiculturista. Entendi.’ Simples assim.”

Quando saiu da reunião, Stewart sabia que ficaria com o papel que Glass havia escrito com ela em mente — Lou, a gerente de academia, que é masculina, forte e fechada como um punho, até que a fisiculturista, Jackie, explode o mundo dela — mas não assinou o contrato até retornar para Los Angeles e ler o roteiro. “Eu estava jantando com alguns amigos em casa quando recebi a mensagem”, diz Glass sobre receber a notícia. “Acho que eu já estava um pouco bêbada. Só me lembro de muitos gritos e pulos animados.”

Depois disso, Stewart terminou a campanha esperada de atores indicados ao Oscar (“Começa a parecer que você está dando uma aula sobre o seu filme”) e então viajou para Albuquerque, New Mexico, onde filmaria Love Lies Bleeding, e apareceu na casa de Glass com um cabeleireiro para destruir o cabelo loiro de Diana, chegando até a pegar a tesoura no final para fazer parecer com que Lou tivesse cortado o próprio mullet. “Assim que cortei o cabelo, disse: ‘Tchau, para sempre’” Stewart diz sobre deixar Spencer para trás.

Lou era uma história muito diferente, uma personagem cujo mundo decadente e musculoso não poderia ser mais diferente da gaiola dourada da Princesa Diana, cujas cenas de sexo eram apenas sobre o prazer feminino e sobre o corpo feminino, que não era inspiradora ou estava partindo em uma jornada de autodescoberta e que não era o tipo de pessoa que é personagem principal em um filme. “Foi divertido pra caralho ter a irmãzinha masculina como a protagonista de um filme”, diz Stewart. “Esse nunca é o tipo de personagem principal em um filme. Nunca é a pessoa com quem você quer transar. Quer dizer, algumas pessoas querem, mas não é o que é prescrito.”

Como uma estrela de cinema assumida — “e não há muitas” — pareceu pessoal de uma forma que Stewart não esperava: um filme queer que não envolvia a narrativa de “sair do armário”, e no qual o elemento queer era menos um enredo e mais um estilo. Ela já havia falado sobre seus papéis não como uma forma de escapismo, mas como maneiras de explorar facetas diferentes de sua identidade — imaginar quem ela talvez fosse se sua “natureza” tivesse sido exposta a uma “criação” totalmente diferente. Mas ela me contou que interpretar a Lou foi como voltar para sua “primeira configuração”. “É um retorno muito estranho e um pouco emocionante de alguma forma. Tipo como você é aos 11 anos — fisicamente, as roupas que você escolhe usar — antes de ser atingida pelas expectativas masculinas.”

Ela dá um gole na cerveja e se encosta no sofá. “Nunca senti que apresentei uma feminilidade para colher os benefícios como se fosse mentira”, continua ela. “Eu sou muito fluida e nunca senti que tipo: ‘Ah, uau, menti por tanto tempo para conseguir trabalhos.’ Isso seria errado. Me diverti brincando com todas as qualidades tonais, mas há muito mais espaço para o sucesso quando você escolhe o feminino. Não há espaço para o outro.”

Ok, vamos recapitular de novo. Porque a criação é importante, aqui estão alguns traços gerais.

Stewart cresceu em um bairro nobre de Los Angeles em Woodland Hills. O pai dela era gerente de palco e trabalhou em programas como o Oscar e Fear Factor, e Stewart odiava quando ia trabalhar com ele por conta de toda a correria e alvoroço (“Eu me escondia na sala de mixagem de som e tocava baixo com eles”). A mãe dela era supervisora de roteiro e trabalhou em filmes como Mortal Kombat e O Pequeno Grande Time, e Stewart amava ir trabalhar com ela — o silêncio e a calma, o sentimento de que todos estavam trabalhando juntos para elevar uma bolha frágil de faz de conta. Quando ela tinha 8 anos, e porque havia percebido que a atuação era o único trabalho que as crianças podiam fazer que permitia que faltassem as aulas, Stewart pediu para a mãe levá-la em um seminário de testes, uma daquelas lojas de departamento em que você é fotografado e prometem te conectar com alguns agentes se não for tão ruim. Stewart, cuja experiência com atuação naquele momento consistia em reencenar cenas de Titanic no parquinho da escola, descobriu que não era.

Ela conseguiu um comercial da Porsche. Depois, conseguiu Encontros do Destino. Então, David Fincher assistiu ao comercial da Porsche e pediu para seu pessoal encontrá-la, e assim ela conseguiu O Quarto do Pânico. “Todo mundo disse na época: ‘Olha, se essa criança quiser continuar fazendo isso, ela com certeza tem a sagacidade e a sensibilidade’”, Fincher me conta. “Mas quando você está ao lado de Jodie Foster, e a pergunta sendo feita para uma criança de 10 ou 11 anos é: ‘O que você quer fazer pelo resto da vida?’… a Jodie é extremamente protetora com pessoas que não são capazes de tomar esse tipo de decisão. Jodie dizia: ‘Ela não precisa pensar nisso. Precisa pensar no que vamos fazer antes do almoço.’”

Enfim, Foster não podia fazer muito: quando o momento chegou para Stewart, as perspectivas de carreira não tinham nada a ver com isso. Era a puberdade. “Foi assim que eu comecei a querer transar”, Stewart especifica o momento na sexta série em que tudo passou de “tudo está maravilhoso” para de repente se sentir como “não consigo encontrar palavras e quero que meu rosto esteja na parte de trás da minha cabeça ao invés da frente.” Ela bebe mais um gole de cerveja. “A puberdade é uma merda.”

Há algumas lembranças importantes aqui: a época em que ela foi para a escola sem depilar as pernas e alguém disse: “Ecaaaa”; quando ela acidentalmente bateu no saco de um amigo e ele grunhiu: “Ai, seu homem de merda!”; a maneira como os meninos tratavam sua amiga feminina Britni em relação a como tratavam ela. “Eu estava ciente de que os meninos que eram meus amigos não me viam como uma pessoa para transar”, diz ela. “Minha sexualidade é totalmente fluida. Estou por todo o mapa, e acho que era naquela época. Mas eu também queria ser normal e gostosa, então pensei: ‘Beleza, vou fazer o possível para tentar entender como parecer uma menina para esses meninos gostarem de mim.’ É isso. Uma história totalmente normal.” Exceto que não aconteceu de forma normal porque naquela época ela estava a caminho de gravar filmes como Na Natureza Selvagem, Férias Frustradas de Verão e, como parte de seu teste para Crepúsculo, acredite se quiser, rolar na cama da diretora Catherine Hardwicke com Pattinson.

O que quer dizer que enquanto Stewart ainda estava entendendo quem ela era e o que ser “transável” significava, o mundo estava ocupado ensinando as duas coisas para ela. Stewart não podia sair de casa sem o olhar masculino a seguindo na forma dos fotógrafos do TMZ e não podia se expressar sem se tornar o significante cultural de cada mulher que já ouviu: “Você é tão mais bonita quando sorri.” Além disso, era da época (“Os anos noventa e o começo dos anos dois mil eram péssimos para jovens mulheres. Você não acha?”) A ansiedade dela piorou tanto que ela deitava no chão dos banheiros, sem conseguir abrir os punhos — ficou tão ruim que, em um momento, ela precisou ser hospitalizada (“Eles diziam que eu estava desidratada. Eu não estava desidratada, estava surtando. Me deram uma intravenosa e um sedativo fraco, então comecei a me acalmar e meus punhos começaram a se abrir porque você atrofia, porra”).

Durante muitos anos, ela não conseguia entrar em um lugar sem verificar as saídas e precisava saber onde o banheiro estava o tempo todo (“Eu sempre pensava: ‘Quem sabe? Eu poderia entrar em combustão espontânea e virar uma poça de vômito agora’”). Houve um período em que ela não conseguia dormir, então ficou viciada em não dormir, pensou que ia morrer por conta disso, mas então, de alguma forma, não morreu. “Eu amava ficar triste e tal”, ela me conta. “Minha nossa, fiz disso um projeto de arte completo: minha vida.”

É claro, tudo isso foi há muito tempo. Stewart vai até a geladeira e pega mais uma rodada. Acontece que: ela cresceu, não é mais quem ela era. Mas ao mesmo tempo, de alguma forma, ainda é. Como uma mulher queer no olhar público, ela teve a oportunidade de pensar sobre sua identidade e o que tudo isso significa. Ela considera o seguinte arco das coisas: “É assim: Jodie [Foster], eu, boygenius”, diz ela, simplesmente, sobre as posições que ela imagina que todas ocupam no continuum celebridade queer. “Estou no meio, sabe? Jodie passou por momentos muito difíceis [como atriz gay], e não estou falando por ela, estou analisando objetivamente a época e o lugar em que Jodie estava sendo ela mesma, e isso não é fácil. Diria que é quase impossível se você quisesse continuar fazendo o que ama.”

“Para mim, não foi um problema”, continua ela. “Mas isso é provavelmente por conta do espaço que eu habito, das parte que me sinto atraída, os cineastas que se atraem por mim e o público que existe para os filmes. Se eu realmente quisesse conquistar mais um espaço comercial e mantê-lo, não sei se teria funcionado.”

Mesmo assim, ela aponta que, para ela, se assumir não foi um processo árduo. Ela estava muito “fisicamente assumida para o meu corpo” muito antes de se assumir publicamente no SNL. E até mesmo aquilo foi “um momento muito espontâneo”, diz ela. “Não pareceu esse derramamento de sangue.” Nem foi algo que ela havia planejado com antecedência. Stewart estava apenas sentada com os roteiristas do SNL, pensando: “Esse é o monólogo mais chato do mundo. O que vamos fazer? Que porra é essa?” quando alguém mencionou os tweets de Trump sobre ela. “Ele está com raiva de mim por trair o meu namorado?” respondeu ela. “Mal sabe ele…” Assim que as palavras saíram de sua boca, ela soube que tinha que usá-las. (E quanto aos pensamentos dela em relação ao Trump? “É claro que ele tinha que opinar sobre a minha humilhação pública. Foi tipo: ‘O que essa mulher de 20 anos que não faz ideia da vida está fazendo com esse homem?’” E: “Ele é um bebêzão.” E também: “Vai se fuder, filho da puta!”).

Ela diz que Foster tem sido como uma mentora para ela, um número que sempre estará guardado em seu celular, mesmo que não mantenha contato consistente, e está ciente de que a honestidade sobre sua identidade queer provavelmente tem sido um exemplo para outros. Mas ela também sabe o quanto os tempos mudaram, pelo menos no “cantinho especializado” do mundo em que ela vive. Stewart dirigiu The Film da boygenius, um clipe musical de 14 minutos que termina com as três artistas se beijando, e consegue ver a evolução entre elas, como ela tem uma consciência de conformidade de gênero que parece muito “millennial” em comparação ao que é oferecido agora. “Olho para essas crianças que estão tão confortáveis em todas essas posição e que podem ter o gênero como um acessório, podem realmente brincar com essa novidade. Ter feminilidade em um dia, não ter no outro.” É uma fluidez psicológica que Stewart cobiça: “Tenho muita consciência dessas coisas.”

Então ela fez o que pôde: se apoiou nessa consciência. Stewart começou a ler principalmente obras escritas por mulheres (“Eu era muito obcecada com escritores homens. Só recentemente que pensei: ‘Que merda eles estão fazendo?’”). Começou a se aprofundar na teoria de gênero, dando para si mesma a educação universitária que, em outra vida, poderia ter tido. Passou a pensar no corpo feminino não só de forma física e sexual, mas de forma metafórica (“A parte mais legal de nós é que temos essa abertura sempre presente e impossível de ser fechada, e andamos com ela o tempo todo. Fingimos que ela não está ali, mas é a nossa maior força”). Ela começou a questionar a “violência da dinâmica” quando se trata de gênero, se alguém teve um momento #MeToo ou não (ela diz que não teve). “A violência e a vergonha que as mulheres internalizam e então usamos como gatilhos de prazer? Não podemos fugir disso”, diz ela. “Pensar que sabemos o que queremos de uma forma que é remotamente distanciada do patriarcado é impossível. Nunca saberemos. E estou muito mais interessada em me aproximar disso do que me distanciar.” Em outras palavras, ela começou, como a própria diz: “Fazer Os Monólogos da Vagina em todos os lugares.”

Alguns anos atrás, Stewart leu um livro de memórias que parecia descarregar magicamente na página tudo o que estava sendo consistente em sua mente. Antes mesmo de terminar The Chronology of Water, ela enviou um email para a autora, Lidia Yuknavitch, perguntando se poderia adaptar sua história, um sucesso cult sobre a vergonha, a fúria e a arte feminina, BDSM entre mulheres e muitas outras coisas “tão tabu que quase dá tesão.” Enquanto trabalhava no roteiro durante muitas semanas, ela acampou em uma van do lado de fora da casa de Yuknavitch no Noroeste Pacífico. Depois, ela leu o roteiro para Yuknavitch, em voz alta, na sala de estar da escritora. Então, ela contratou Imogen Poots para interpretar Yuknavitch. Depois, foi buscar financiamento para fazer o filme, o que provou ser quase impossível porque, afinal, a vergonha, a raiva e a arte feminina e o BDSM entre mulheres são tópicos que não parecem ser adequados para um sucesso de bilheteria. O que só ressaltou como cada pedacinho do livro era verdade.

Estávamos bem relaxadas até o momento, mas de repente Stewart se levanta e anda de um lado para o outro na frente da estante de livros. Ela sabe que seu roteiro é “radical em milhões de maneiras.” Ela sabe que nunca dirigiu A Árvore da Vida, mas também conhece a misoginia incorporada no sistema e sabe que poderia fazer algo subversivo, bonito e verdadeiro se tivesse a chance. “E isso me deixa irritada pra caralho. Não de uma forma, tipo: ‘Estou fazendo isso há tanto tempo, portanto eu mereço.’ É mais: ‘Se eu fosse um homem, vocês acreditariam em mim, porra!’”

O tom de voz de Stewart aumenta a ponto de estar gritando agora, lá com os livros. Por fim, ela caminha até a mesa de sinuca e começa a arrumar as bolas.

“Quer jogar uma partida?” pergunta ela. “É o truque de festa de qualquer lésbica inexperiente.” Vale a pena mencionar que não estamos completamente sóbrias no momento. Do lado de fora da janela, está escuro demais para dizer se ainda está chovendo.

Stewart aplica giz no taco, se inclina sobre a mesa e dá uma tacada. Logo fica claro que ela é a melhor jogadora: quando acerta a bola, é rápida e decisiva. Mesmo assim, ela se distrai com a conversa. Se eu já li Jeanette Winterson? Ou Kate Zambreno? E o livro de memórias de Genesis P-Orridge? Foi uma experiência extrema! Será que eu percebo que estamos nos preparando para o fracasso com essa história de capa? Que é impossível definir qualquer momento no tempo, qualquer identidade fixa? Mesmo assim, ela quer que a capa envie uma mensagem clara: hipersexualidada, andrógina e invertendo o roteiro do gênero. “Se eu passei pela Saga Crepúsculo inteira sem uma capa da Rolling Stone, foi porque os meninos eram os símbolos sexuais”, aponta ela. “Agora, quero fazer a coisa mais gay que você já viu na vida. Se eu pudesse deixar crescer um bigodinho, um caminho da felicidade e desabotoar minhas calças, faria isso. Os homens, desculpa, mas os pelos pubianos deles estão no meu rosto constantemente, e eu penso: ‘Hmmmm, vamos nessa.’”

A propósito, ela quer que eu saiba que não vai desistir de Chronology. Stewart tem falado sobre o filme com jornalistas por anos, a ponto de estar ficando vergonhoso, mas agora esse é seu único plano para o futuro. Ela vai continuar a escrever com Meyer, vai continuar procurando por outras histórias que elas possam contar e que sentem que não estão recebendo atenção, mas ela não está aceitando outros papéis. O próximo filme que Stewart quer filmar é o dela.

Acerto a bola com uma tacada e ela me olha fingindo estar assustada: “Sai da minha casa agora.”

Quando nos sentamos de novo na sala de estar dela algumas semanas depois, Stewart parecia mais relaxada, e não só por conta das endorfinas liberadas por suas milhões de flexões. Uma semana antes do nosso primeiro encontro, ela viajou para a Letônia para explorar locais para Chronology, e ficou maravilhada com a beleza e diversidade do lugar — praias que pareciam a Flórida, a poucos quilômetros de florestas que pareciam o Noroeste Pacífico. Ela agora calculava que o filme poderia ser filmado lá por metade do custo, e embora seja estranho considerar fazer um filme fora do sistema de Hollywood, ela estava se acostumando com a ideia. Com essas localizações, ela sente que pode manter o projeto pequeno e íntimo e pode elevar aquela bolha frágil de faz de conta. “Não quero oitenta pessoas no set”, diz ela. “Vou surtar se eu vir um trailer.”

Ao longo dos anos, os relacionamentos mais íntimos de Stewart tendem a ser com pessoas que ela vê como parceiros criativos, o que, ela admite, “não tem sido muito bom para os relacionamentos.” Quando se trata de Meyer, ela diz: “Não fazemos essa separação. Encontrei a pessoa certa porque posso ser tão obcecada pelo o que eu faço. E, por sorte, minha namorada, minha parceira, gosta das mesmas coisas que eu. Pegamos as coisas nas quais queremos investir tempo e as interligamos, e somos muito mais inteligentes e fortes juntas. Você pensa: ‘Isso é bom pra caralho.’”

As duas se conheceram no set de American Ultra, se conectaram imediatamente (“de uma forma que você não sabe se quer transar ou pensar em um aperto de mãos secreto”), e então se desconectaram imediatamente por conta de outros relacionamentos românticos (“Estávamos enroladas fodendo outras coisas, literalmente”). Seis anos depois, elas se esbarraram de novo. Stewart perguntou por que não mantiveram contato. Meyer disse que havia enviado um email. Stewart zombou e então, opa, verificou todas as mensagens que havia ignorado. “Foi minha culpa, com certeza”, disse ela. “Mas então eu fiz esse relacionamento acontecer. Foi intenso, porque eu fiquei otimista.”

O que ela descobriu ser uma coisa interessante. Por boa parte de sua vida adulta, Stewart se sentiu insegura. Anos foram gastos “vivendo com muita tensão e aproveitando os altos e baixos das coisas”, entrando de cabeça em “relacionamentos horríveis pra caralho” e buscando experiências que eram “emocionalmente psicotrópicas” porque então você pode “colocar tanto na sua arte.” E resultou mesmo em arte. Arte da qual às vezes ela até se orgulhava, arte em que conseguiu “colocar desejo nas pessoas” e fazer de seus sentimentos os sentimentos deles — e, sinceramente, o que é melhor do que isso? “Nunca houve um momento em que eu pensei: ‘Cara, o que estou fazendo com o tempo que tenho na Terra?’” diz ela. “Não sei o que mais estaria fazendo. Eu amo.”

E, olha, tem sido ótimo provar todas essas facetas de si mesma, experimentá-las e entender como ela gostaria de se apresentar na vida real, o que, sejamos honestos, é o que fazemos o tempo todo: “Fazemos escolhas todos os dias em relação a quem seremos. Não de uma forma controladora, mas de um jeito que reconheça: ‘Essa sou eu. É a mais fácil. É aquela que me sinto mais confortável, é a que escolhi.’”

Mas também — e tenha paciência com ela agora pois Stewart sabe que está prestes a se contradizer — ela está ciente de que pode haver algo tão fundamental em quem somos que pode ser perdido e difícil de recuperar. “Sinto que só agora estou voltando a ser aquela criança de 11 anos”, diz ela. “É preciso um longo período de crescimento para voltar para quem você era quando criança.” Ela sabe que essas coisas “podem parecer uma contradição, como se estivesse apresentando algo que não combina.” Ela recusa o conceito de “autenticidade” (“Tá de sacanagem? Somos todos tão maleáveis”). Mas ela ainda acha que talvez exista algo essencial que você sente falta quando é negado a você, algo que pode te ajudar a crescer, ser quem era e a destacar esse elemento, porque “do contrário, é entediante. Não é evolução. Agora, estou realmente criando um lar em que sou uma pessoa adulta.”

Alguns anos atrás, Stewart e Meyer se mudaram para uma casa no fim da rua, mantendo essa para ser usada como escritório da Nevermind e como um refúgio para amigos passando por términos ou outras situações difíceis, assim como Stewart estava passando quando comprou a casa (ela a chama de “Hotel do Coração Partido”, adicionando que do contrário é “maluquice manter uma mansão secundária no fim da rua em que você mora”). Desde que Meyer a pediu em casamento em 2021, elas brincaram com ideias de como querem se casar, fazendo piada (nem tanto? não era piada?) uma vez dizendo que gostariam que Guy Fieri oficializasse o casamento. Desde então, elas perceberam que o foco principal das duas precisa ser os dois projetos do coração — Chronology de Stewart e The Wrong Girls de Meyer, em que Stewart irá estrelar e o qual ela descreve como “uma comédia de amadurecimento sobre duas amigas maconheiras e preguiçosas.” É o único filme que Stewart diz que faria se tivesse recebido o sinal verde antes de Chronology. Com tudo isso se espalhando, Stewart explica: “Não queremos um casamento grande. Provavelmente vamos casar em breve. Só estamos ocupadas tentando fazer filmes porque são nossos bebês.”

E então, elas já conversaram sobre a possibilidade de bebês de verdade. “Não sei como será minha família, mas não há nenhuma maneira de eu não começar a ter filhos”, Stewart me contou no nosso primeiro encontro. “Além disso, em algum momento em breve vou querer ter um bebê. Realmente quero que isso aconteça.” Tendo visto esse desejo se solidificar em tantos amigos, Meyer e ela começaram a se preparar para as possibilidades de como querem engravidar e discutiram carregar os embriões uma da outra. “Não tenho medo de engravidar e nem de ter um bebê”, Stewart me conta. “Mas tenho medo pra caralho do parto, é loucura. Você já ficou drogada demais e precisou ficar de quatro de repente?” ela pergunta em relação à sensação de seu corpo estar operando além do seu controle. “Eu odeio isso. Quer dizer, fumo muita maconha, obviamente me automedico, mas não gosto de drogas pesadas. Já experimentei, e muito. Só não consigo lidar.” Mesmo assim, a ideia da gravidez é tão “radical” que ela acha que poderia enfrentar esse medo.

Agora, no entanto, ela não consegue pensar em criar nada, ou ninguém, antes de Chronology. Stewart espera estar na Letônia em março para as filmagens, ela adoraria chegar a tempo para gravar algumas cenas na neve. Ela me mostra o baralho de locações que montou, e então me pergunta se quero ver os vídeos, depois passa vários minutos mexendo em um controle remoto (“Sabe quando você está muito fora de si e fica tentando fazer a música tocar? Estou assim.” Finalmente, o vídeo começa, o enredo é resumido em uma montagem, o tom estranho, obscuro e exuberante. Ela é assim, é o que Stewart está tentando dizer. Ela só quer poder falar. Menos conversa, mais rock.

Então, desligo meu gravador. Bebemos mais algumas cervejas, o céu de Los Feliz escurece. Por fim, Meyer envia uma mensagem para saber o que está acontecendo e vamos para um bar alguns minutos na mesma rua e nos sentamos em uma cabine, comemos asinhas de frango e ninguém se aproxima além da mulher que anotou nossos pedidos. Stewart se senta ao lado de Meyer, que fala durante a maior parte do tempo (sobre livros, sobre escrever, sobre como essas são as melhores asinhas de Los Angeles ao ponto de não estar mais interessada em outras asinhas). De tempo em tempo, Stewart estica a mão para tocar gentilmente no pescoço de Meyer. Em um momento, elas vão para o lado de fora dividir o baseado que esteve atrás da orelha de Stewart e retornam sorridentes e carinhosas. Quando terminamos as asinhas e as cervejas, chamo um carro, e elas esperam do lado de fora comigo até ele chegar. As duas são boas de abraço.

Antes de nos despedirmos pela última vez, Stewart me pergunta de novo se eu sei o que vou escrever sobre ela, o que, é claro, não sei. Ela está certa: estamos nos preparando para o fracasso com essa coisa de história de capa. Identidade é tão maleável, uma série de escolhas feitas repetidamente para servir algo vago. Pode ser necessária muita força para abafar todo o barulho e chegar em um ponto em que você sabe fazer essas escolhas de uma maneira honesta. Então, é, acho que o que eu tenho a dizer é: Kristen Stewart é forte pra caralho — seja lá o que isso signifique.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Prestes a ir para o Sundance Film Festival estrear dois filmes, Kristen Stewart aparece na capa da Variety Magazine falando sobre Love Lies Bleeding e Love Me, os dois filmes presentes no festival. Ela também fala sobre como se tornou confortável com sua própria identidade queer. Além da entrevista, Kristen também brincou com a revista em um vídeo em que tenta adivinhar de quais filmes são as falas de suas personagens. Confira:

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“Eu vou sair da porra da indústria.”

Kristen Stewart está cutucando o sofá em que estamos sentadas, falando com uma rapidez e intensidade sobre o que a deixou no limite. Ela passou cinco anos tentando sem sucesso conseguir financiamento para o que ela espera ser sua estreia como diretora, o filme The Chronology of Water, baseado nas memórias da autora bissexual Lidia Yuknavith. Ela está tão chateada com isso que está prestes a arruinar a mobília.

“Não vou fazer outro filme até dirigir esse”, declara ela. Depois, ela encosta no sofá e solta uma risada nervosa. “Mal posso esperar para os meus agentes lerem isso.”

Stewart claramente entrou na fase “foda-se” de sua carreira.

Não se preocupe: ela não vai a lugar algum ainda. Na próxima semana, Stewart colocará as botas de neve na mala para sua oitava viagem ao Sundance Film Festival, onde já estreou filmes como The Runaways e Marcados pela Guerra. Nesse ano, ela tem dois filmes no festival, o romance existencial de ficção científica Love Me e o suspense de crime queer Love Lies Bleeding.

Sentada com ela em uma tarde ensolarada de dezembro em Los Angeles, começo a entender a próxima fase de Stewart. Seu cabelo castanho adorna sua cabeça em um corte mullet bagunçado, e ela está usando uma blusa cinza simples e amarrotada e uma calça jeans rasgada. Ela parece masculina, confortável, ela mesma.

Para chegar nesse ponto, ela passou por mais de uma década de escrutínio implacável da mídia, primeiro sobre seus relacionamentos héteros, depois sobre seus relacionamentos gays, enquanto entendia a própria identidade. Ela aproveitou a fama global da franquia Crepúsculo não para se tornar uma super-heroína ou uma guru de estilo de vida, mas para abastecer uma série surpreendente de filmes independentes aclamados, incluindo Acima das Nuvens, Para Sempre Alice, Certas Mulheres, Personal Shopper e o drama sobre a princesa Diana que a concedeu uma indicação ao Oscar, Spencer.

“Sempre que escuto que ela está fazendo algo novo, fico tão curiosa para saber o que é porque vai ser um filme que nunca foi feito antes”, diz Clea DuVall, que dirigiu Stewart em um de seus poucos filmes em Hollywood durante esse período, Alguém Avisa?, a primeira comédia romântica lésbica apoiada por um grande estúdio. “Ela é tão autêntica e acho que é por isso que muitas pessoas respondem a ela dessa maneira.”

A autenticidade sempre foi crucial para Stewart. Sua habilidade de abrir caminho pela verdade de qualquer cena em que está interpretando a fez ser uma das atrizes mais originais e cativantes de sua geração, e ela lidou com sua vida pública com um charme convincente e estranho, que fez tudo parecer natural. Mas não foi. “As pessoas dizem para mim: “Ah, você se libertou.” E eu respondo: “Bom, sim, tenho 33 anos. Foi muito difícil’”

Quando entrou nos 30 anos, algo profundo mudou para Stewart. Ela é sincera sobre tudo agora, desde se assistir aos 11 anos atuando ao lado de Jodie Foster em O Quarto do Pânico até a defesa pública de Foster durante seu término com Robert Pattinson; desde por que ela se assumiu no Saturday Night Live em 2017 até subcorrentes queer nos filmes de Crepúsculo. E embora Love Me e Love Lies Bleeding não pudessem ser mais diferentes um do outro, os dois filmes alimentaram sua necessidade de explorar os limites de sua identidade.

Esses filmes são o 11º e 12º de Stewart no Sundance; ela vai ao festival desde os 13 anos. Mas dessa vez, em vez de passar só alguns dias em Park City, Utah, subindo e descendo a Main Street para uma procissão de eventos promocionais, Stewart planeja ficar para o festival inteiro.

“Posso conhecer cineastas novatos e realmente ter a experiência do Sundance como ele é conhecido, um terreno fértil para conexões, e sei lá, ficar bêbada e gritar com outras pessoas, tipo: “O que você achou daquele filme de verdade? Não tem jornalistas por perto,’” diz ela, depois faz uma pausa para me garantir: “Vou ser verdadeira com você.”

Quando Stewart subiu no palco do Saturday Night Live em fevereiro de 2017, ela havia passado dois anos tentando convencer a imprensa de que estava tudo bem escrever sobre seus relacionamentos com mulheres, em vez de recorrer à prática irritante de se referir à namorada dela como “amiga”.

“Eu não estava nem escondendo”, diz ela. “Eu estava namorando há anos naquele ponto. Tipo, eu sou uma pessoa bastante conhecida.”

Mas mesmo com essa postura, a palavra “amiga” vindo da mídia desencadeou uma história mais profunda e dolorosa de curiosidade intrusiva sobre a orientação sexual de Stewart: “Por tanto tempo eu pensei: “Por que você está tentando me restringir? Por que está tentando acabar com a minha vida? Sou uma criança, não me conheço o bastante ainda.” A ideia das pessoas falando: “Eu sabia que você era uma criança queer desde sempre” me deixava tipo: “É? Bom, você deveria ter me visto transar com o meu primeiro namorado.’”

Vale a pena insistir nesse ponto: por quase toda a história de Hollywood, atores queer temiam que o público descobrisse quem eles eram, e esse medo manteve as portas do armário fechadas com força. “Por ser gay, eu era muito isolada”, diz DuVall, que se assumiu publicamente em 2016. “Mesmo fazendo um filme pequeno como Nunca Fui Santa, as pessoas imediatamente falavam: “Ela é gay, como podemos tirá-la do armário?” Eu queria me encolher.”

Stewart, no entanto, se assumiu em grande estilo em um monólogo no SNL sobre como o presidente Donald Trump, em 2012, tweetava obsessivamente sobre seu relacionamento com Pattinson. “Donald, se você não gostava de mim naquela época, provavelmente não vai gostar de mim agora porque estou apresentando o SNL e eu sou, tipo, muito gay, cara”, disse ela com grandes aplausos do público.

“Foi legal colocar em um contexto engraçado porque podia falar tudo sem ter que me sentar para fazer entrevistas”, disse Stewart antes de repassar os tipos de perguntas que atores queer precisam considerar antes de se assumirem publicamente: “‘Então, em qual plataforma vai ser feito? E quem vai lucrar com isso? Quem vai ser a pessoa a dar a notícia?’ Fui eu, sozinha.”

Alguns dias depois, menciono o monólogo de Stewart no SNL para Foster no telefone e ela solta uma risada alta. “Nunca soube disso,” diz ela. “Que jeito moderno, engraçado, irônico e maravilhoso de ser honesta com o mundo. Isso é incrível.”

Enquanto Stewart fala sobre sua experiência no SNL, penso como nenhuma celebridade da idade e do tamanho dela se assumiu quando eu era criança nos anos 80 e 90. Então, a carreira dela não sofrer com isso parece um verdadeiro progresso.

Quando conto para ela, Stewart leva a conversa para uma direção inesperada. “Porque eu sou atriz, eu quero que as pessoas gostem de mim e quero certas partes,” diz ela. “Tenho muitas experiências diferentes que moldam quem eu sou e que estão muito, muito longe de serem binárias. Mas sou boa na qualidade heteronormativa. Eu interpreto bem esse papel. Vem de um lugar real, não é falso. Mas é uma merda que se eu fosse mais gay, esse não seria o caso.”

Tento esclarecer o que ela quer dizer: “Então sua carreira teria sido prejudicada se você não tivesse agido com uma feminilidade performática…”

“… que eu sei que me beneficia,” ela admite, concordando. “Por isso que estou tão animada com Love Lies Bleeding.”

No momento em que Stewart assistiu ao filme de estreia de Rose Glass, Santa Maud, um suspense psicológico sobre uma cuidadora cuja obsessão por salvar a alma de seu tutorado assume um fervor angustiante e alucinatório, ela quis conhecer a cineasta inglesa: “Eu não conseguia acreditar que uma jovem mulher que nunca havia feito um filme fez um como aquele”, diz Stewart. “Poder encontrar sua voz dessa maneira não é uma tarefa fácil, e foi um filme ambicioso, engraçado e assustador.”

A atriz organizou uma reunião durante uma viagem para Londres e perguntou para Glass qual seria seu próximo filme. “Ela me contou que era sobre uma garota muito forte,” diz Stewart. “E eu disse: “Tá, acho que é o que vamos fazer.” E ela respondeu: “Sim, mas é diferente.’”

Love Lies Bleeding estreia nos cinemas dos Estados Unidos em março e conta a história de Jackie (Katy O’Brian), uma aspirante a bodybuilder com um físico de matar, que chama a atenção de Lou (Stewart), uma lésbica tímida e masculina que trabalha na academia em que Jackie malha. A atração é mútua e imediata — e complicada depois que Jackie começa a trabalhar para o pai de Lou (Ed Harris), um traficante de armas assassino.

Glass ri quando pergunto como Stewart reagiu ao roteiro. “Ela me disse: “Às vezes, oferecem alguns papéis que você duvida se consegue fazer. Quando li seu roteiro, pensei: ‘Bem, quem mais ela vai encontrar para interpretar esse papel?’”

Como atriz, Stewart ocupa uma categoria: uma jovem estrela de cinema queer cuja presença evoca um grande apoio financeiro. Glass tinha grandes ambições para seu segundo filme, mas não foi até Stewart entrar para o elenco que “a A24 e a Film4 decidiram de repente confiar em mim com todo esse dinheiro.”

Stewart teve um efeito catalisador semelhante em Love Me, que está em competição no Sundance e procura distribuição. Quando os roteiristas e diretores de primeira viagem Andy e Sam Zuchero, um casal, a procuraram para falar do filme, “ela leu em um fim de semana e imediatamente retornou e disse: “Vamos nos encontrar agora,’” diz Sam.

“Estivemos apresentando esse filme sobre uma boia e um satélite que se apaixonam e a maioria das pessoas dizem: “O que? Quem?” adiciona Andy. “Mas Kristen imediatamente respondeu: “Ah, legal, tipo, é uma história de amor pós-apocalíptica que fala sobre ir além das formas e amar a si mesmo acima de tudo… tô dentro. Posso ser a boia?’”

Stewart ficou impressionada com a abordagem do filme sobre como uma pessoa define sua própria identidade enquanto luta contra a maneira como ela acha que deve se comportar. O filme começa muito depois da humanidade ter deixado a Terra e tudo o que restou foram duas IAs: uma boia, chamada Me, criada para catalogar o oceano, e um satélite, chamado Iam (interpretado por Steven Yeun), que está carregado com cada megabyte gravado na história. Eventualmente, Me e Iam adotam avatares humanos baseados em um casal de influenciadores nas redes sociais (também interpretados por Stewart e Yeun) que Me descobre dentro do mainframe de Iam.

Enquanto ela fala sobre filmar com Yeun, Stewart começa a mexer timidamente no cabelo. “Steven e eu interpretamos papéis muito binários, o que foi surpreendente em um filme sobre identidade,” diz ela com uma mistura de irritação e admiração pela facilidade em que entrou na “qualidade heterormativa” mais uma vez. “Eu sentia esse desespero de garota muitas vezes e o Steven era tão pragmático com tudo. Eu pensava: “Minha nossa, a biologia realmente existe.’”

Em um contraste nítido, o que mais interessou Stewart em Love Lies Bleeding foi apenas o quanto o filme parecia assumidamente queer, e como Lou é radicalmente diferente — masculina, briguenta e com muito tesão — dos papéis femininos que construíram a carreira dela.

“Sempre quis que a Lou tivesse esse charme melancólico, que fosse masculina e andrógina de uma maneira que muitas atrizes do perfil da Kristen não são,” diz Glass. “É estranho, mas não consigo pensar em muitos papéis assim que ela tenha feito, e mesmo assim, para ser sincera, parece que talvez seja um pouco mais próximo de quem ela é.”

É difícil não notar como Stewart brilha quando fala sobre as qualidades mais masculinas de Lou. “Havia algo especial em fazer as coisas que eu achava atraentes serem glorificadas,” diz ela. “Era muito sexy. E eu não digo de uma perspectiva externa, eu estava excitada e era legal que as pessoas presenciassem isso.”

Ela quer dizer isso literalmente. Lou e Jackie tem muitas cenas de sexo em Love Lies Bleeding, incluindo uma no banheiro de Lou que vai deixar o público do Sundance excitado e escandalizado. “Elas não tiram as roupas, mas vai chocar as pessoas.”

Stewart e Glass acreditaram que o sexo em Love Lies Bleeding precisava parecer real. “Tudo o que costuma ver é um vestido subindo e a cabeça descendo,” diz Stewart. “Acho que até o sexo hétero no cinema é tão repetitivo. Você pensa: “Ok, eu sei como isso acontece nos filmes, então é o que vamos fazer,” porque ninguém mais quer realmente se revelar.”

E é precisamente o que Stewart queria fazer em Love Lies Bleeding: revelar mais do que nunca em um filme como ela se vê.

Antes das gravações começarem, Stewart visitou a casa de Glass em Albuquerque, Novo México, com o amigo e cabeleireiro para começar a transformação para Lou. “O cabelo dela ainda estava meio grande e loiro,” adiciona Glass. “Ela disse: ‘Ai, tira isso de mim.’” Em um momento, Stewart pegou a tesoura e finalizou o cabelo de Lou, enquanto seu cabeleireiro olhava nervosamente.

“Quando eu assisti ao filme, pensei: “É bem legal me ver assim de novo,” diz Stewart. “Eu não tinha aquela aparência desde O Quarto do Pânico.”

Pela maior parte de sua vida adulta, Stewart evitou assistir ao filme que a colocou no radar do público. Ela completou 11 anos enquanto filmava o filme de David Fincher em 2002, interpretando a filha moleca de Foster, que se mobiliza para ajudá-la quando a casa em que moram em Manhattan é invadida, e ela diz: “Coisas de quando eu era criança me deixam com muita vergonha.”

No entanto, recentemente, O Quarto do Pânico estava passando na TV de sua casa enquanto ela estava com os amigos. “Todo mundo disse: “Vamos, esse filme é tão legal, cara. Você precisa se lembrar,” diz ela, contraindo-se com a memória. Ela concordou em assistir só uma cena, mas acabou ficando para o filme todo, imersa na performance física intensa de Foster e a direção precisa de Fincher. Foi forte o bastante para Stewart superar sua autoconsciência e realmente enxergar o que tantas pessoas queer sentiam nela desde o começo.

“Eu já estava dizendo: “Não fode.” Ela começa a rir. “Eu era gay.”

“Não é interessante?” diz Foster sobre a revelação de Stewart. “Você leva tantas coisas conscientes para um papel, coisas coreografadas e que você pensou. E há coisas com as quais você trabalha que são completamente inconscientes, que você não vai entender até anos depois, ou talvez nunca.”

Foster fala comigo em uma manhã de dezembro dentro do carro “porque todo mundo ainda está dormindo e todos os quartos da casa estão ocupados” e sua perspectiva de Stewart é transmitida pelas lentes da preocupação e do carinho maternal. “Ela é como uma filha pra mim,” diz. “Eu me preocupei que este emprego sugaria tudo de bom nela, porque tive essa preocupação comigo mesma. Havia uma semelhança inconsciente entre nós duas. Acho que por isso sempre fui muito protetora com ela, porque queria que ela crescesse e se tornasse a pessoa que deveria ser.”

Em 2012, depois que Stewart foi flagrada por paparazzi beijando o diretor de Branca de Neve e o Caçador, Rupert Sanders, enquanto ainda estava em um relacionamento com Pattinson, Foster escreveu um artigo para o The Daily Beast em sua defesa.

“Foi um ato muito gentil,” diz Stewart. “Eu realmente precisei que Jodie explicasse o que aconteceu para outras pessoas antes mesmo que eu pudesse entender.”

Foster ainda está frustrada com o alvoroço. “A situação toda foi muito idiota,” diz ela. “Quando você tem 20 anos, faz todo tipo de coisa estúpida. Eu senti muito por ela. Espero que ela tenha tido o espaço e a privacidade para poder se explorar e se tornar um ser humano completo.”

Stewart não deixou aquele escândalo, por mais intenso que fosse no momento, sufocá-la. Em vez disso, ela abraçou completamente sua queerness em sua vida pública — como levar a namorada, a roteirista Dylan Meyer, ao Oscar em 2022. “Não é que não estava com medo,” diz Stewart. “Era que não havia outra maneira de viver.”

Ela até passou a reconhecer que o filme mais ostensivamente heterossexual que ela já fez, Crepúsculo, tem uma faísca queer. “Eu só consigo enxergar agora,” diz ela. “Acho que não começou necessariamente desse jeito, mas também acho que o fato de eu estar no filme já torna uma coisa infiltrada. É um filme muito gay. Digo, Jesus Cristo, o Taylor [Lautner], o Rob e eu, está tão escondido e nada certo. Uma mulher mórmon escreveu esse livro. Ele fala sobre opressão, sobre querer o que vai te destruir. É uma tendência gótica e gay que eu adoro.”

Pergunto para Stewart se ela compreende o quanto sua decisão de se assumir também a transformou em um exemplo para a comunidade LGBTQ. Ela ri. “Você não faz ideia,” diz. “Toda mulher que já conheci na minha vida e que já beijou alguma menina na faculdade diz: “Sim, eu também.” Eu brinco constantemente com a minha namorada. Ficamos sentadas sussurrando: “Ela também é gay. Todo mundo é.”

Pode ser fácil esquecer o quanto isso ainda é raro, uma estrela de cinema gigante vivendo uma vida tão abertamente queer. “Parece uma coisa de geração, onde estou assistindo alguém completar as voltas que achei que não seriam possíveis para mim,” diz Foster.

Depois de proteger sua privacidade por décadas, Foster se assumiu publicamente no Golden Globes de 2013, e só agora interpretou a primeira personagem gay no filme Nyad de 2023. Falar sobre Stewart deixou Foster com uma aura reflexiva. Quando nossa ligação está chegando ao fim, ela apresenta um pensamento espontâneo. “Me perguntam muito sobre quem eu era e o que eu representava na indústria e eu… não sei.” Ela suspira. “Será que eu fui útil em termos de representação? Tenho certeza de que havia uma pessoa de 12, 13 ou 14 anos quando eu era jovem que dizia que eu tinha algo a oferecer para eles na vida como uma pessoa queer. Eu tive que fazer do meu jeito. Tive pioneiros para ajudar no caminho, aos quais sou grata. E agora as pessoas podem ser gratas a Kristen por ser uma pioneira. Eu só… Eu sou grata a ela.”

Esse sentimento de união da comunidade LGBTQ é o motivo pelo qual Stewart se dedicou para abraçar quem ela é como uma mulher queer masculina em seu trabalho como atriz e, aconteça o que acontecer, como diretora.

“Eu gostaria de estar nesse time porque precisamos um do outro,” diz Stewart. “Eu não queria mais ser isolada. Era um mundo que eu não sabia que podia explorar.”

Ela dá aquele suspiro típico de Kristen Stewart e sorri, pronta para embarcar no próximo capítulo de sua vida… começando no Sundance.

“Quero fazer amigos,” disse ela. “Quero ser uma jovem cineasta, preciso encontrar minha galera.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart compareceu ao desfile da Chanel na última Semana de Moda de Paris ao lado de sua noiva Dylan Meyer. A atriz também foi parte do curta-metragem da coleção primavera/verão, que foi dirigido pela dupla Inez & Vinoodh. Confira fotos, o filme e a entrevista concedida ao WWD abaixo:

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EVENTOS > EVENTOS E PREMIAÇÕES > EVENTOS E PREMIAÇÕES EM 2022 > (04/10) DESFILE DA CHANEL NA PARIS FASHION WEEK

Kristen Stewart esteve trabalhando em seu primeiro roteiro e mostrou um pouco de sua habilidade com a escrita no desfile da Chanel. O desfile começou com um curta metragem estrelando Stewart como ela mesma, com falas dubladas, incluindo: “É importante queimar o seu melhor ontem, todos os dias, para que você possa começar de novo.”

“Eu escrevi”, Stewart disse depois do desfile. “Sou melhor escrevendo do que falando de forma espontânea. Digo, posso pelo menos chegar perto de me expressar quando tenho um minuto sozinha.”

A atriz disse que isso reflete sua filosofia de constantemente se desafiar, e que se alinha com o clima cultural atual.

“Agora todos somos permitidos nos transformar diariamente e evoluir e acho que isso é muito importante, não necessariamente queimar, mas nunca se sentir aterrado ou orgulhoso de alguma ideia fixa porque o mundo muda todos os dias”, disse ela.

O filme, dirigido por Inez & Vinoodh, é uma pequena brincadeira sobre paparazzi e sobre viver a vida nos holofotes, com fotógrafos seguindo Stewart enquanto ela deixa um restaurante. Nele, ela também diz que o mundo está “sob tanta pressão” e movendo-se de forma tão rápida que ela sente “chicotadas”.

“Você nem sempre vai estar na linha de frente da mudança em progresso porque você envelhece”, disse a atriz de 32 anos de idade. Ela comentou que embora seja difícil de se definir, especialmente na era das redes sociais e convenções morais que mudam o tempo todo, se você não se definir, outra pessoa fará isso por você. “E isso é doloroso. Meio que destrói vidas”, declarou ela sobre a cultura dos tabloides.

A ex-atriz mirim refletiu sobre crescer na década de 2000 quando a mídia tratava jovens mulheres de modo cruel e esperava uma hiper feminilidade. “Era uma época muito, muito difícil para as mulheres, tão intolerante e inacreditavelmente rígida, em termos do que nos permitiam ser. Agora, parece muito livre.” Ela disse que embora tenha crescido em frente às câmeras naquela época, ela nunca esteve nas redes sociais, o que deu para ela uma capacidade de se distanciar do burburinho que a seguia constantemente.

Para esse efeito, a estrela foi ao desfile com sua noiva Dylan Meyer e apresentou um novo corte de cabelo no estilo mullet.

“Quando eu era pequena, as pessoas diziam: “Ah, você parece um menino.” Ninguém mais diria isso… Estamos abrindo as palavras de um modo que para mim parece uma libertação”, completou ela.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Kristen Stewart e sua estilista Tara Swennen estão na capa da revista The Hollywood Reporter que destaca os profissionais e seus clientes que mais se destacaram em 2021. Confira fotos e leia uma rápida entrevista com as duas abaixo:

PHOTOSHOOTS > PHOTOSHOOTS 2022 > THE HOLLYWOOD REPORTER

Faz 17 anos desde que Tara Swennen começou a trabalhar com Kristen Stewart e a vestiu para seu primeiro grande tapete vermelho em uma colaboração para o Toronto Film Festival em 2007. “Ela é da família”, diz Swennen, que teve um ano excepcionalmente ocupado com a agenda da estrela de Spencer na temporada de premiações. “Foi particularmente divertido porque tivemos muitas oportunidades de brincar. Kristen é um camaleão fashion em constante mudança e amamos ir além dos limites.” A estilista de Los Angeles, que também veste Mattew McConaughey, estima que organizou 50 looks para a turnê de imprensa de Stewart, incluindo os casuais para o Zoom e inúmeras amostras da Chanel para o rosto da grife há muito tempo. Stewart diz: “Nós duas amamos a facilidade que nossa história dá ao nosso trabalho.” O mais memorável? A indicada ao Oscar trocou o tradicional vestido de gala em favor de minishorts da Chanel, reescrevendo as regras da vestimenta apropriada para a maior noite de Hollywood. “Queria me sentir de um jeito muito específico naquela noite”, diz Stewart. Swennen adiciona: “Gerou burburinho simplesmente porque foi original e sem precedentes. Fico feliz que foi bem recebido.” A estilista deu início à turnê de imprensa de Stewart no Festival de Veneza com um macacão de tweed similarmente curto da Chanel. “O estilo da Kristen no tapete vermelho é unicamente dela. Ela é sempre autêntica e carrega uma confiança que é magnetizante.”

“É um processo divertido e colaborativo que se desenvolve conforme crescemos juntas”, diz Swennen. Stewart adiciona: “Começamos a trabalhar juntas quando eu tinha 14 anos! Ela tem uma experiência rica que informa seu olhar e seu gosto. Tara é leal e gosta de ajudar pessoas se sentirem bem.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil