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Kristen Stewart conversou com o AP Entertainment durante sua passagem pelo Festival de Cannes para divulgar Crimes of the Future, novo filme de David Cronenberg. Leia:

Em Crimes of the Future, de David Cronenberg, em que um artista interpretado por Viggo Mortensen tem órgãos e tumores sendo arrancados de seu corpo em performances artísticas, Kristen Stewart interpreta uma tímida burocrata rapidamente transformada em devota apaixonada.

No filme de Cronenberg, a personagem de Stewart, animadamente sem fôlego pelo que está testemunhando, se transforma em uma fã e, talvez, uma artista.

É um filme literalmente angustiante repleto de significados metafóricos sobre arte, com o que Stewart se conecta profundamente. Também é apropriado que o filme a levou de volta para Cannes, uma plataforma principal para a própria transformação de Stewart durante a última década.

“Há um certo comprometimento com o que se parece com arte radical em Cannes que é tão descarado, audacioso e um pouco arrogante de uma maneira bonita”, diz Stewart em um terraço com vista para a rua Croisette em Cannes. “Ninguém precisa ceder e dizer: “Bom, acho que o que estamos fazendo não salva vidas.” Tipo, sim, salva! Arte realmente salva vidas.”

Em uma entrevista, Stewart refletiu sobre como os temas de Crimes of the Future resumem e se encaixam em sua própria jornada artística.

A atitude sobre cinema “radical” que você está descrevendo certamente aplica a Crimes of the Future, mas Cronenberg possui dificuldades em conseguir financiamento para os filmes. Você já se sentiu frustrada por como Hollywood é diferente de Cannes?
Sim, é uma indústria. É motivada pela quantidade de dinheiro que você faz. Em Los Angeles, chamamos de negócios de cinema. Eu gosto porque quero que todos vejam o que fazemos, mas é sobre perspectiva. Se você não foca nisso, então não te afeta. Mas, ah, me magoa profundamente [risos].

Sério?
Sim, mas também reconheço que é algo abrangente. Isso é legal. Não há como evitar em uma sociedade capitalista. É bom realmente reconhecer como você é obcecado por algo em vez de fingir que não é nada demais. E sentir que cada entrevista que você está fazendo está com aparência de conversa, mas o que você está realmente fazendo é divulgar a data de estreia e o estúdio está ouvindo cada palavra que você fala, dizendo: “Não fale essa palavra. É provocante.” Tipo, o que?

Você viu sua personagem no filme como uma fã? Como você se conectou com ela?
Uma das questões que o filme levanta é quem tem o direito de julgar arte como “arte” ou não? O que estamos fazendo agora pode ser arte para alguém. Mas existem pessoas que se tornam tão frenéticas ao redor de outros seres humanos que são obrigadas a colocar para fora este sentimento interno e existe uma inveja que deixa as pessoas malucas. É bonito conhecer-se e mostrar-se para o mundo. Nem todo mundo faz isso e nem todo mundo é capaz disso. Mas definitivamente é algo que os seres humanos se sentem atraídos. Foi divertido interpretar alguém que é tão auto-reprimida e que quer fazer um bom trabalho. Ela acredita no mito, acredita no governo. Ela acredita em todas essas coisas que inventamos. (Stewart balança os braços apontando para tudo ao redor.). Nós inventamos tudo isso! Quando ela vê alguém fazendo algo diferente, seu coração começa a sair pela boca. E há esse desejo de ter uma experiência indireta. Pensei que seria legal interpretar alguém que tem um despertar completo.

Alguma versão do que aconteceu com ela já ocorreu com você?
Eu costumava pensar “para atuar, você só precisa ser um ótimo mentiroso.” Acho que fiz 13 anos e percebi que me emocionava tanto com certas experiências e me atraia tanto por certas pessoas. Eu saía com memórias que aconteciam nas cenas e sentia que eram minhas. Eram tão pessoais. Realmente não sei onde parei e onde tudo isso começou. Pensei: “Oh, sou uma artista.” Então, comecei a me tornar o oposto. Eu sempre estava com muita vergonha. Dizia que se você pode andar e falar, você pode atuar. Ainda penso assim. É apenas a disposição de se entregar. Mas absolutamente tive um momento. Foi como uma experiência religiosa. Você pode tirar a teologia desta palavra e é bastante intercambiável com fé. Comecei a crer. E realmente, de verdade, mudou a minha vida.

A metáfora principal do filme é sobre tirar a arte de dentro de si, algumas vezes de forma dolorosa, frequentemente de forma bonita, mesmo que seja grotesca. Você se identifica com essa ideia?
Definitivamente. Em retrospecto, eu não entendia que Saul Tenser (Mortensen) era o David. Eu acho que o David vai sobreviver mais do que todos nós e fazer muitos outros filmes. Mas há essa coisa sobre o último suspiro que um artista pode sentir até mesmo nos 15 anos de idade. Isto é a última coisa que vou conseguir fazer? Ainda vou fazer algo? Alguma coisa ainda vai sair de mim? Quando o Viggo está modificando os órgãos, pensei: “David, você nunca vai conseguir parar.” Obviamente, você se doa, você sente que está tirando pedaços para apresentar como oferta. Mas você recebe tanto em troca. É tão recíproco.

Você nunca sente que se doou demais?
Não, a dor é o prazer mais libertador. Esta coisa sobre ter que cortar um ao outro para sentir… Eu realmente iria até qualquer ponto. Recordo os momentos mais difíceis da minha vida pessoal, momentos que estive em um caos absoluto, com os olhos brilhando. Tipo: “Uau, eu estava em uma viagem corporal.” Existe euforia na dor, então é legal compartilhar. É realmente horrível passar por um momento doloroso sozinha.

Na conferência de imprensa do festival, Cronenberg falou sobre a possível anulação dos direitos de aborto para mulheres sendo o “verdadeiro terror corporal.” Você concorda?
Pensamos sobre o corpo em relação à legislação quase que exclusivamente sobre aborto e gênero. Basicamente tudo é sobre a fisicalidade. É difícil colocar em palavras porque esse provavelmente não é o melhor formato para começar a gritar aqui, neste balcão. Talvez isso seja tão ingênuo e tão estadunidense, mas eu realmente não achava que as coisas iriam ladeira abaixo de forma tão violenta e rápida. Tudo o que levaram adiante está sendo desmontado. A aceleração é tão avassaladora que é difícil compreender. É assustador pra caralho. Se eu tivesse crescido em outro lugar, talvez me sentisse diferente. Não estou tentando dizer para ninguém que estão errados. Tudo isso é tão estúpido e desnecessário.

Você está se preparando para dirigir seu primeiro filme. Como está indo?
Estive trabalhando neste projeto por cinco anos. Não queria me apressar, ele ainda não queria ser feito. É baseado em uma biografia e a beleza dela é que parece uma verdadeira memória de forma que há uma inteligência emocional e cronologia… Se chama A Cronologia da Água. É realmente sobre uma enxurrada de memórias que não parecem estar conectadas por algo lúcido, mas sempre por algo emocional. É muito difícil de fazer visualmente. Eu também não queria aplicar uma estrutura mais formal. Não seria a mesma história. É o texto mais físico que já li. A forma como ela fala sobre o corpo é algo que preciso ver em um filme. É como Lírios d’Água (de Celine Sciamma) e O Romance de Morvern Callar (de Lynne Ramsay). Minhas coisas favoritas são sempre a forma como artistas encontram suas vozes porque meio que grita para você encontrar a sua. Mesmo que você não se considere artista, você escreve sua própria história.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Durante o Festival de Cannes, Kristen Stewart conversou com o site Vulture para falar sobre Crimes of the Future e sua personagem, Timlin. Leia:

Por volta da metade de Crimes of the Future, de David Cronenberg, Kristen Stewart coloca as mãos diretamente na boca de Viggo Mortensen e observa como se fosse um túnel escuro. É uma tentativa de sedução – ela diz que quer que ele “a corte”, depois massageia os lados de seu rosto e mergulha de língua em sua mandíbula aberta. Ele fica excitado com a parte mais clínica, mas educadamente se opõe quando a situação se transforma em algo vagamente parecido com um beijo. “Não sou bom no sexo antigo”, diz ele de modo arrependido. Em um rooftop na manhã seguinte da estreia do filme em Cannes, Stewart me conta que teve a ideia de inspecionar a boca dele durante as filmagens. “Estou orgulhosa para caralho”, disse ela. “Não contei para ninguém que faria aquilo.”

O novo sexo, como a personagem de Stewart coloca no filme, é a cirurgia. Crimes of the Future se passa em um futuro distópico próximo em que humanos estão criando órgãos espontaneamente, são incapazes de sentirem dor ou de se infectarem e estão começando a fundir-se com o ambiente sintético. Como resultado, estão todos cortando uns aos outros, alguns como um ato sexual e outros como arte performática. A Timlin de Stewart é descrita como um “inseto burocrático” no Registo Nacional de Órgãos, uma entidade governamental secreta que rastreia e controla novos crescimentos de órgãos para conter a síndrome de “Evolução Acelerada” que está tomando o mundo. Quando conhecemos Timlin, ela tem a voz estridente e trêmula, é um fantoche do governo, mas durante o filme, ela cai em um tipo de obsessão luxuriosa com Saul Tenser, personagem de Viggo Mortensen, um artista performático clandestino que está criando órgãos e removendo-os cirurgicamente no palco com a ajuda de sua parceira, Caprice (Léa Seydoux).

É uma performance esquisita e fascinante de Stewart, ficando ainda mais rica porque reflete sua própria vida como artista e um objeto de longa data de bajulação pública. A vida através do espelho que Stewart leva é ainda mais aparente em um lugar como Cannes: depois da estreia do filme na noite de segunda-feira, como tradição, um cameraman apontou suas lentes diretamente para o rosto de Stewart enquanto ela reagia à reação do público sobre o filme, transmitindo essa reação em uma tela gigante para todo o público, que então reagiu à reação dela. Na conferência de imprensa na manhã seguinte, Stewart foi cercada por fãs dentro e fora da sala de imprensa enquanto falava sobre interpretar uma personagem desesperada por um pedaço do objeto de sua própria fixação maníaca. Minutos depois do fim da conferência, encontrei Stewart – parecendo calma e elegante no estilo Cannes em um macacão vermelho da Chanel e grandes óculos de sol amarelo – para falar sobre fazer um filme sobre o consumo público enquanto é consumida pelo público.

Amei sua roupa. Como veio da conferência de imprensa e se trocou tão rapidamente?
Não me troquei, na verdade, o que é muito incomum para mim. Nunca fico tão arrumada por mais de cinco minutos.

Sim, eu a vi na festa ontem à noite e você tinha trocado sua roupa da estreia para jeans e um crop top.
Na verdade, eu tinha uma roupa que deveria trocar para assistir ao filme, e trocar para jeans depois, mas eu perdi. Fiquei com muita raiva de mim mesma. Fiquei sentada completamente sem conseguir respirar. Aquele top era muito pequeno para mim. Pensei: “Por que fiz isso comigo mesma?” Eu saí do cinema com uns cortes vermelhos na minha barriga. Combinou com o filme. Me cortei.

Então, como você acabou nesse filme?
David e eu nos conhecemos neste festival 12 anos atrás. Quando ele me ligou, ele disse: “Oi, querida, como vai?” Eu tinha acabado de ler o roteiro e tinha muitas perguntas sobre a origem dele e por que agora, porque parecia tão urgente e vital. Ele disse: “Na verdade, escrevi em 1996.” E eu disse: “Ah, legal, legal, então você é um oráculo, caralho.” Não querendo dizer que não estivemos nesse caminho por um bom tempo, em direção a uma certa destruição. Sem querer soar muito pessimista, mas é verdade. O filme se passa em um futuro que está em ruínas e não estamos muito distantes.

Não, é verdade.
Fiquei muito animada para interpretar a Timlin porque acho que ela é… mesmo que eu só tenha alguns minutos para entrar e contar uma história, é muito divertido ter apenas três cenas. Se você não acertar, vira um papel de parede. Timlin é tão fechada, auto oprimida, quer ser boa no trabalho dela e totalmente representa rigidez do governo em que estão vivendo. E ela passa por um despertar em um segundo. Uma grande declaração do filme é que a arte triunfa. Salva. É algo que não morre porque é algo que deixamos para trás, está fora do corpo, mas parece reflexivo. Então, foi muito divertido libertar meu lado esquisito. Raramente me pedem para interpretar personagens estranhas assim. Geralmente é tipo: “Venha interpretar a mulher forte enfrentando adversidades.” Eu penso: “Foda-se isso!”

A voz e maneirismos da Timlin… isso estava vindo diretamente de você ou foi algo discutido com David?
Realmente acho que ele escreveu dessa forma. Não sei se ele fez alguma referência para algum tipo de voz estridente, mas ela foi descrita como um pequeno gnomo esquisito e burocrático. Então, pensei: “Ok, acho que ela fala dessa forma.” Tentei mudar minha voz ao longo das filmagens. De início, estava completamente presa e, quando comecei a ficar obcecada por esse artista, tentei falar de forma mais completa para que ele pudesse achar sensual ou algo assim, tentando fazer uma imitação da Caprice. Léa Seydoux, ela é uma propaganda viva de sensualidade. Então, eu estava tentando ser ela no final.

Se não foi isso, que tipo de direção David te deu?
Muito pouco. Massagens pequenas e gentis. Tipo, se ele sentia que algo não estava certo, ele dizia: “Não faça isso. Não vá por aí. Não está muito certo.” Ou, se ele gostava de algo, dizia: “Está no caminho certo! Vá mais fundo!” Foi um apoio sutil. E ele nunca fazia mais de dois takes de nada, o que é muito assustador porque você pensa: “Calma!” Mas ele só quer seu primeiro instinto. Ele não quer que você se force. Há algo sobre a força ou pressão que é desonesto. E ele também não tem mais paciência. Ele diz: “Nope! Acabamos.”

A cena em que você coloca a mão na boca do Viggo como uma forma de seduzi-lo é tão estranha e boa. Estava no roteiro ou vocês criaram juntos?
Então, aquilo não estava no roteiro. Estou orgulhosa para caralho. É minha parte favorita do filme – pelo menos da minha parte no filme. No roteiro, era descrito com um “pas de deux”. Eles estavam meio que dançando juntos. E eu levei de forma muito literal, então fiquei com medo naquele dia. Pensava: “Como vamos aprender esse pas de deux?” E havia tanto diálogo. São coisas muitos estranhas de falar e, portanto, não são as mais fáceis de lembrar. O vocabulário em si era muito rico.

Então eu estava com medo! Eu disse: “Não vou conseguir dançar e continuar conectada com você.” Mas acabou sendo apenas eu correndo atrás do Viggo na sala. E no roteiro diz que em algum momento eu me encontro “entrelaçada com ele e enfio a língua em sua garganta”. É tão difícil se aproximar de alguém por quem você está obcecada. Minhas mãos tremiam porque só fizemos a cena uma vez. Então, pensei: “Se quero ser a Caprice, quero que ele me corte e quero cortá-lo, quero chegar o mais perto possível de sentir algo… Se eu não puder fazer isso, talvez possa deslocar a mandíbula dele, chegar o mais perto possível de sua cabeça e examinar a anatomia verdadeira de sua boca.” Então, não contei para ninguém que faria isso. Apenas disse: “Tudo bem se eu tentar fazer uma coisa e você me acompanhar?”

Massageei a mandíbula dele por um segundo para abri-la e então fui com tudo, tipo: “Como consigo mais de você?” E não precisamos fazer de novo. David entrou e disse: “Bem, esse foi um take extraordinário para caralho!”

Qual foi a reação do Viggo quando você fez isso?
Nos divertimos muito. Porque estávamos ambos um pouco intimidados com a cena, quando o David entrou e disse aquilo, literalmente olhamos um para o outro, tipo: “Acho que acabamos!”

Quando conversei com o David ontem, me surpreendi com o quanto ele é normal e gentil, o que ele diz acontecer bastante. Você se surpreendeu com ele no set?
Praticamente desde o início, sim. Até mesmo a forma como ele respondeu as perguntas na conferência de imprensa. A resposta mais simples vem de um lugar de sabedoria. Você não precisa complicar certas ideias. Tipo, “o corpo é uma realidade”. No começo, eu estava tentando enfiar esse conceito na minha cabeça: o que significa para mim e para o mundo, em cada nível? Mas ele disse: “Eu filmo pessoas.” É isso! É um corpo. Tudo isso é surpreendente. São conceitos realmente elevados, mas ao mesmo tempo nem tanto.

O relacionamento dele com a dor é um tanto admirável. Sinto que compartilhamos um certo instinto de gostar da dor. Não de um jeito masoquista, mas a dor anda de mãos dadas com o prazer. E não estou nem falando de forma apenas sexual. Digo que se você pode gostar da natureza excruciante de ter um corpo, significa que você também é capaz de aceitar as partes boas de uma forma profunda. Ele tem uma abordagem destemida e tolerante à vida que é contagiante. Parece que é seu pai ou avô dizendo: “Olha, estamos nisso juntos. E não há outra forma de sair daqui. É isso. [Ela bate nas coxas.] Então… aproveita.” É profundo e assustador. Mas há algo muito bonito nessa filosofia.

Eu sei. Eu perguntei se ele já tinha feito terapia e ele disse: “Não!”
Caralho. Você ficou tipo: “Estamos todos na terapia!”

Você disse na conferência de imprensa que o elenco voltava para o hotel no final do dia e dizia: “Que porra estamos fazendo?” Como eram essas conversas? O David chegava em alguma conclusão?
Acho que nunca chegamos em nenhuma conclusão. A parte mais legal de fazer um filme é que você descobre o motivo pelo qual está fazendo durante o filme ou depois. Eu tinha lido Sapiens: Uma Breve História da Humanidade e Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã [livros do autor israelense Yuval Noah Harari] antes de fazer esse filme, então eu já estava tentando entender por que penso do jeito que penso. Tipo, eu sou um completo produto do meu ambiente. Se eu fosse do Kentucky, talvez fosse pro-vida. A forma como os humanos chegaram aqui é uma loucura. Então, pensei: “Esse filme é sobre basicamente tudo o que você já considerou.” Como chegamos aqui? Somos capazes de mudar? Há alguma forma de nos unirmos?

A única maneira de como chegamos aqui é através de mitos compartilhados. Você acredita em uma coisa, portanto, é verdade. A única coisa que nos mantém unidos como sociedade é que contamos mentiras uns para os outros e falamos: “Concordo! Baby, estou com você. Acredito em você.” Nós inventamos tudo isso! Dinheiro, Deus, tudo. Quando digo Deus, quero dizer sexo, poder, arte, tudo isso. São palavras intercambiáveis para mim. Então, sim, tínhamos esse tipo de conversa o tempo todo. O que é preciso para fazer arte? O que toma de você e o que te devolve? Todos são artistas ou existem apenas algumas pessoas que são obrigadas a externalizar sua vida interna? Existem pessoas que só querem estar próximas disso? Ou tudo o que fazemos é arte? Tudo o que fazemos é político? Tipo, agora, o que estamos fazendo talvez seja arte. Quem está definindo o que é isso, porra? Quem é o dono? Faz total sentido que a arte seja radicalizada porque assusta as pessoas. Tudo isso é o que falávamos o tempo todo.

Então, conversa casual!
Sim! Também é muito engraçado. Eu li o roteiro e amei, mas não achei engraçado. Depois, no set, não tinha como não rir de tudo. O que David diz é realmente verdade: algumas das coisas mais difíceis que você faz, você dá risada. Porque essas emoções são paralelas.

Quando eu estava na premiere na noite passada e na conferência de imprensa hoje, as pessoas estavam me empurrando para tirar fotos de vocês. Fiquei chocada como tudo isso se relaciona com o filme, sua personagem e essa ideia de um fandom bajulador. Estou interessada em ouvir sobre sua experiência de estar aqui e ter as câmeras no seu rosto em relação à personagem que você interpreta.
Sempre fico dividida entre querer ser exibicionista, estar em público, aberta e mostrando tudo sobre mim, e ser protetora. Pensar que você é mal interpretada é super narcisista porque as pessoas estão apenas tendo suas próprias experiências com o que você está mostrando. Mas eu tenho uma aversão física que não consigo controlar. Eu estava no PGAs e estava me divertindo muito. Steven Spielberg estava atrás de mim! Era um lugar cheio de pessoas que tipo… eu era como uma criança em uma loja de doces. Então, esse cara com uma câmera fez assim [imita uma câmera no rosto]. O que é completamente normal. Sou atriz e estou em uma premiação. Tudo bem. E meu corpo literalmente fez assim [levanta os dois dedos do meio de forma sarcástica]. Eu não entendi. Pensei: “Kristen…” Mas não era como se eu estivesse com raiva por ele ter tirado minha foto. Foi apenas uma reação física estranha e imediata por estar sendo observada em um momento em que não esperava.

Em Cannes, só preciso focar nas coisas boas. Você pode olhar para as merdas ou pode olhar para as coisas bonitas do mundo. Então, pensei: “Ok, foca no David.” Esse filme é tão pessoal para ele. Precisei assistir ao filme para perceber que Saul Tenser é o David. Ele está escavando esses órgãos e tossindo-os, pensando: “Por quanto tempo vou poder continuar a fazer isso?” E eu pensei: “Duh, Kristen. Óbvio que é ele.” É um testamento para tudo o que ele já fez. Ele disse na conferência de imprensa que tudo o que faz é íntimo, mas esse filme parece pessoal de um jeito novo. Então, foquei nisso.

Depois, a câmera focou em mim e eu pensei: “Cara, volta para o David!” Também, por que tão perto? Minha nossa! Só um pequeno zoom seria ótimo. É literalmente um zoom microscópico. Fico tipo: “Sai!”

Como você se sentiu depois da premiere?
Antes dos créditos rolarem, estava um silêncio. Eu pensei: “Oh, as pessoas não sabem o que sentir. Não sabem se devem aplaudir ou não.” Parecia aquela porra do momento do Will Smith em que todo mundo pensou: “Sim? Não? Não. Ok, na verdade, não!” Tipo, as pessoas precisam olhar para a esquerda e para a direita para saber se batem palma? É muito para digerir de início, eu acho. Mas, para mim, o filme é simplesmente tão doce. Sim, estamos indo em direção a uma certa morte, com certeza. Mas há uma delicadeza no filme que, mesmo nas coisas nojentas, fiquei encantada com ele. Todos estavam falando sobre as saídas no meio da sessão e como foi intenso, mas eu estava: “Não é intenso! É muito bonito.”

Há um efeito de distanciamento e uma elegância nele.
Sim. É meio como visualizo o interior do meu corpo. Não é real. Parece tão delicado e sensível.

Existe uma parte no filme sobre uma “competição de beleza interior” e tanto você quanto seu colega de trabalho, Wippet, estão obcecados para Saul Tenser participar, inicialmente em nome da “beleza”, mas também pelo “poder de popularidade” dele. Quase parece uma crítica às premiações e festivais como Cannes. É essa a sua experiência em ser “consumida” como uma celebridade?
Parte de mim realmente ama isso – o romance que David escreveu chamado Consumed. Nós queremos digerir uns aos outros. É o mais perto que você pode chegar de alguém. Há partes ruins e as pessoas se perdem nisso. É legal quando você não se perde. Se você realmente consegue ser, tipo, presente no seu desejo e obsessão, é uma coisa. Mas deixar isso cair no esquecimento? Wippet é tão obcecado com o poder de popularidade de Saul e, naquele momento, ele realmente sabota todo o trabalho: “Oh, a beleza, a beleza, não consigo me afastar!” Eu penso: “É a beleza ou você está entrando em um frenesi por conta da popularidade?”

Você sabe claramente quais atores gostam de atuar e quais só gostam de ser famosos. É tão óbvio, tão claro. Por que não dizemos logo? Digo, eu falo, mas as pessoas que só querem estar no centro das atenções poderiam dizer: “Eu amo! É por isso que comecei a trabalhar nisso.” Em vez de falar: “Oh, é a arte!” Eu penso: “É mesmo?”

Mas, novamente, o que estou fazendo é sentar aqui e tentar definir o que é arte para outras pessoas. O problema sobre fazer essas entrevistas por 20, 30 minutos, é que você começa a pensar: “Tudo o que eu disse está errado. Na verdade, sinto o oposto de todas as formas.”

Você está tipo: “Desconsidere tudo isso.”
Eu fico correndo atrás do meu próprio rabo.

Mas você parece ter desenvolvido um entendimento e relacionamento saudável com tudo isso, estando nesse mundo – e em Cannes – por tempo suficiente para chegar em um nível de igualdade. É uma avaliação justa?
Sim. Não me deixa mais com tanto medo porque nunca nada de ruim realmente acontece. Mesmo quando o pior acontece, você pensa: “Ah, estou bem.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Durante o jantar celebrando os 75 anos do Festival de Cannes, Kristen Stewart conversou brevemente com o IndieWire sobre o status de seu primeiro filme como diretora, a adaptação da biografia de Lidia Yuknavitch, The Chronology of Water. Confira:

O jantar, realizado em um local parecido com uma tenda normalmente reservado para eventos de mercado, lembrou muitas reuniões luxuosas de Cannes com grandes talentos conversando sobre novos projetos. Kristen Stewart ainda estava radiante com sua experiência trabalhando com David Cronenberg, dois dias depois da estreia de Crimes of the Future em competição, embora admita que as visões do filme sobre microplásticos a levou a parar de comer peixe.

Depois de Cannes, ela quer seguir em frente com sua estreia como diretora, The Chronology of Water, uma adaptação da biografia de Lidia Yuknavitch. “Se eu não fizer esse filme antes do fim do ano, vou morrer”, disse ela. Financiamento completo continua sendo um desafio, em parte porque ela queria filmar com uma pequena equipe de cinco pessoas e um cronograma livre pela costa de Oregon. Com tudo isso acontecendo em adição à turnê promocional de Crimes, a cinéfila declarada não conseguiu assistir muito do festival deste ano. “Para ser honesta, prefiro links”, disse ela. “Tenho um projetor ótimo.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Durante a conferência de imprensa de Crimes of the Future no Festival de Cannes, Kristen Stewart revelou que ela e os outros atores do filme não faziam ideia do que o longa se tratava. Leia:

Até mesmo Kristen Stewart foi mantida no escuro durante a produção sobre o enredo enlouquecedor de Crimes of the Future.

O mais recente drama body horror distópico de David Cronenberg foca em dois cirurgiões artistas performáticos, interpretados por Viggo Mortensen e Léa Seydoux, que exibem publicamente a metamorfose dos órgãos humanos em instalações avant-garde. Stewart interpreta uma investigadora do Registro Nacional de Órgãos que fica fascinada pela performance deles e acredita que a inovação artística levará à próxima fase da evolução humana.

“Disse ao Cronenberg que não fazia ideia do que esse filme se tratava, mas que estava curiosa e que talvez pudéssemos descobrir”, disse Stewart durante a conferência de imprensa no Festival de Cannes sobre aceitar o papel.

A atriz indicada ao Oscar continuou: “Nós, atores, passávamos todos os dias depois de trabalho nos perguntando que porra estávamos fazendo. Mas assisti ao filme ontem à noite e ficou claro para mim. Ficou tão exposto. Realmente parece que você está modificando órgãos quando está fazendo algo, e se não for dessa forma, não vale a pena.”

Como Cronenberg esperava, a estreia do filme foi recebida com pessoas saindo no meio da sessão, bem como aplausos de pé por sete minutos.

“Todos amam falar sobre como os filmes dele são difíceis de assistir e é divertido falar sobre as pessoas saindo de uma exibição em Cannes”, disse Stewart. “Mas cada hematoma exposto e estranho em seus filmes me deixa de boca aberta. Você fica atraído. E nunca me deixa com repulsa. A forma como me sinto é completamente por desejo visceral e é a única razão pela qual estamos vivos. Somos sacos de prazer.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil

Em Cannes para a exibição de Crimes of the Future no festival, Kristen Stewart conversou com a revista WWD durante um jantar oferecido pela Chanel. Ela fala sobre sua relação com a grife, seu futuro casamento e sobre o filme. Confira:

Desafiadora da moda, ex-atriz mirim, ícone queer, estrela de cinema. Não há apenas um jeito de definir Kristen Stewart, que conseguiu transcender os rótulos colocados nela no início de sua carreira.

Também é quase impossível definir o estilo dela. Seu visual na pré-festa da Chanel na segunda-feira era uma blusa transparente enfeitada, calças de alfaiataria e saltos nada apropriados para a praia. Ela mudou de um jeans rasgado que usou quando chegou em Cannes mais cedo e estava a caminho de se trocar a premiere de Crimes of the Future, de David Cronenberg: um top multicolorido com enfeites em relevo e uma saia com um laço da coleção couture de primavera da Chanel.

O filme, do diretor de Crash, que tem uma reputação por brincar com body horror, é um dos mais aguardados do festival. Somente o trailer já causou controvérsia, embora na praia da Chanel, Stewart mantenha que não é sobre o sangue que está destacado.

“As pessoas associam o David ao body horror e ao olhar crítico do mundo em que vivemos. Mas o que está sempre presente é o desejo e a sensualidade, há sempre uma razão pela qual ele vai em direção ao medo”, disse ela ao WWD. “Neste filme, parece um testemunho a sua vida inteira. Ele dá tanto de si em todos os filmes que faz.”

Ela estrela ao lado de Léa Seydoux e Viggo Mortensen interpreta o personagem principal do filme, um artista performático que cria órgãos para prender em seu corpo. “Ele está quase ao ponto de morrer por sua arte. Então, parece com uma mistura de alegria e dor.”

A ideia ressoou com Stewart, disse ela. “Sim, é claro, você sempre deve chegar perto desse ponto. E a verdade é, isso vai soar dramático e negativo, mas se você der tudo de si, o que você recebe em retorno é tão bom quanto, se não melhor.”

A atriz se entregou em vários papéis desafiadores nos últimos anos, entre eles, o da Princesa Diana em Spencer, no ano passado, que deu a ela uma indicação ao Oscar.

Ela é motivada inteiramente por instinto e menos por um grande plano de marketing, ela diz. “Você vai em direção a algo porque te intriga, deve haver uma razão intelectual por trás, mas você nunca sabe realmente como articular até fazer o filme. É apenas sobre ter esse ponto de interrogação dentro do seu corpo dizendo: “Oh, isso quer sair.”

Crescer na frente das câmeras – ela conseguiu seu primeiro papel em um filme aos 11 anos – e na bolha de Los Angeles pode inibir outros atores. Mas Stewart conseguiu um grande marketing inicial e cresceu completamente sozinha. Na verdade, ela pensa que o olhar público é motivador.

“Acho que é uma evolução. É um pouco legal ser desconfortável em público porque realmente te força a confrontar seu eu interior e você não consegue ignorar quem você é. É como iluminar algo e ser obrigado a olhar”, disse ela. “Fiquei confortável em ser desconfortável. Você só precisa encontrar um jeito de existir em qualquer espaço.”

“Provavelmente nunca teria feito isso se não fosse atriz, meio que me contentaria para sempre. É legal sempre estar pensando: “Fique na ponta dos pés e tente alcançar as estrelas.” Sei que parece totalmente clichê, mas se você não é forçado, encorajado ou receber apoio durante o processo, você não vai conseguir.”

Stewart dá créditos aos trabalhos com diretores que a deram liberdade criativa e apoio para se expressar verdadeiramente. “Poucas pessoas recebem essa oportunidade. É assustador, mas é bonito.”

Ela reconheceu que agora há mais oportunidades para mulheres tomarem as rédeas de projetos em Hollywood e que a maré está mudando da narrativa convencional: “Digo, provavelmente porque as pessoas querem biscoito por serem progressistas, mas agora podemos colher os benefícios de ocupar mais espaço”, ela deu de ombros. “Desde que mude.”

Stewart famosamente tirou seus saltos no meio do tapete vermelho de Cannes em 2018 – que se danem as regras do festival – e usou shorts muito curtos para o Oscar desse ano. Quando a maioria das pessoas está tentando entrar para a lista de mais bem vestidos, Stewart se arrisca. O que está por trás da coragem?

“Eu me sentiria pior se não fizesse”, disse ela. “Me sentiria mais assustada sendo domada.”

Todos eram Chanel, é claro, já que ela trabalha com a grife por quase uma década. Mas se a despreocupação for lida como descaso, essa não é a verdade. É mais sobre curiosidade, experimentação e autenticidade.

“Pude construir minha própria história dentro das histórias contínuas da Chanel”, disse ela, notando que há várias premiações no ano com diferentes visuais e temas, e ela procura por peças, não tendências. “A realidade fora da narrativa é interessante porque, quando assisto um desfile, parece um filme. Sempre que fico curiosa sobre algum look ou me oponho, eles sempre me encorajam a ir pelo meu próprio caminho. Nunca sinto que fui vestida por outra pessoa ou como se estivesse vendendo um produto. Sempre me sinto encorajada a me encontrar, sabe?” disse ela sobre seu relacionamento com a grife.

Embora trabalhe com a estilista Tara Swennen, ela diz que Swennen apenas leva um monte de opções porque ela nunca sabe qual será seu humor no dia. “Eu deixo eles loucos”, brincou ela, dizendo que gosta de cortar as peças pela metade ou experimentar do avesso. “Mas ninguém fica com raiva de mim, sempre me encorajam a fazer o que quero.”

Sobre suas núpcias em breve com Dylan Meyer, Stewart famosamente comentou que queria que o chefe de TV, Guy Fieri, oficializasse o casamento – uma proposta que ele aceitou com bom grado. Mas, por agora, isso está suspenso. “Acho que vamos apenas nos casar. Temos todos esses grandes planos, mas honestamente acho que vamos manter tudo pequenininho. E então, quem sabe, talvez ano que vem façamos uma grande festa de casamento. Mas, no momento, acho que vamos apenas nos casar.”

Na praia, ela estava usando um anelzinho da Chanel no formato de uma folha de palmeira, que lembra o prêmio do festival, o Palme d’Or. “É o que estamos buscando”, brincou ela sobre as expectativas para o festival, que ela diz ser o seu favorito pelo jeito que promove diálogo ao redor do cinema, arte e atuação.

“É muito mais sobre os motivos pelos quais você fez o filme, com quem você está e quem você ama, e subir as escadarias com seu elenco e equipe em vez de ser apanhado e isolado como uma comodidade de celebridade. É tão diferente de qualquer outro lugar no mundo”, disse ela, declarando que o Festival de Cannes é sobre cinema, não sobre celebridades. “O que amamos é o que esse lugar ama. E mesmo que exista um elemento de frenesi, o que se destaca no topo é sempre a pessoa que realmente possui uma voz.”

Ela foi recebida com com Acima das Nuvens, de Olivier Assayas, o que fez dela a primeira atriz americana a ganhar um César Award, e seu curta Come Swim já foi exibido no festival.

“É incrível perceber que você está se encaixando em um lugar que reverenciou durante toda sua vida. Aqui estão as pessoas que sempre admirei e pensar que agora, de repente, nessa retórica, eu faço parte do vocabulário.”

Ela vai para atrás das câmeras novamente com a adaptação de The Chronology of Water, de Lidia Yuknavitch, a qual irá dirigir no fim deste ano. “Se virá para Cannes ou não é um óbvio ponto de interrogação, mas é o objetivo.”

Ela não tem medo de tentar alcançar as estrelas.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil