Como já noticiamos anteriormente, Kristen é a capa e recheio da edição mais importante do ano da revista Harper’s Bazaar UK e trazemos agora a entrevista traduzida. Confiram as fotos aqui e a entrevista abaixo:

Tanto na moda quanto na vida, Kristen Stewart sempre desafiou as normas de gênero com sua beleza andrógina – o que a torna o rosto perfeito para a nova fragrância da Chanel, Gabrielle, inspirada pela legendária fundadora da casa de moda. Mas ela também é sua própria mulher com espírito autônomo quando se trata de fama e feminismo, como ela enfrentou Donald Trump. Kristen Stewart possui uma fotografia de quando ela tinha cinco anos de idade. Na foto, ela está em uma grade na Disneyland com seu irmão mais velho e ela está vestido jeans Levi’s, Vans preto, um boné de baseball e uma blusa branco com um bolso no peito. Ela olhou para foto novamente recentemente e então olhou para o que ela estava vestindo e percebeu que era exatamente a mesma coisa: jeans, blusa, tênis.

“Eu não mudei meu estilo desde que eu era criança,” ela diz. Para provar seu ponto, hoje a atriz de 27 anos está usando jeans azuis da Levi’s, Vans preto e uma blusa branca cortada com uma imagem monocromática da banda britânica Madness.

“Eu amo Madness,” ela diz. “Ska é uma das minhas músicas favoritas.”

A única diferença marcante daquela foto de infância são as tatuagens em seus braços e seu cabelo, que está cortado perto de seu couro cabeludo com as pontas loiras, dando a ela a aparência de uma delicada elfa mergulhada em ouro.

Algumas horas antes, Stewart estava vestida em um vestido longo cor creme enquanto posava para a sessão de fotos da Bazaar no apartamento de Coco Chanel. Essa era uma Stewart alternativa: como um cisne, elegante, sua imagem refletida e refratada uma dúzia de vezes nas superfícies espelhadas; seu rosto de ossos delicados e frágil enquanto ela olhava para um lado, para o outro e então, com uma franqueza implacável, diretamente na lente da câmera.

Há essa dualidade em Stewart; um magnetismo líquido que a torna fascinante de assistir. Ela é uma atriz que incorpora tudo, desde uma adolescente semi-vampira na franquia Crepúsculo para uma assombrada assistente de moda no elogiado pelas críticas Personal Shopper, dirigido por Olivier Assayas, que ganhou Melhor Diretor em Cannes.

Stewart dirigiu seu próprio curta metragem no começo desse ano e terminou Underwater, seu primeiro filme de ação de grande orçamento. Ela interpreta uma parte de uma equipe de pesquisadores científicos presos em um laboratório aquático após um terremoto e estava “literalmente pingando de suor por dois meses inteiros.” E, ainda assim, com todos esses papéis – desde grande bilheteria ao cinema independente – Stewart imbutilha cada parte com uma intensidade que vem diretamente de um desejo de conexão.

“Tudo o que eu quero fazer,” ela diz, “é ser entendida e expressar sentimentos e saber que, quando eles se encontram com a honestidade, você está apenas se aproximando de outros seres humanos.”

Em pessoa, Stewart é uma mulher a vontade com sua fluidez, que namorou homens (o mais famoso sendo Robert Pattinson, seu co-star na Saga Crepúsculo), está atualmente em um relacionamento com a modelo da Victoria’s Secret, Stella Maxwell, e que no começo desse ano abriu um episódio do Saturday Night Live dizendo que ela era “muito gay.” Quando Stewart raspou sua cabeça em março, a transformação pareceu tão metafórica quanto física, como se ela estivesse deixando suas longas mechas de infância para trás.

Então parece particularmente oportuno que nos encontramos no apartamento de Chanel na Rue Cambon. A designer foi conhecida por desafiar as noções tradicionais de gênero e feminilidade através das roupas. Quando ela começou seu negócio em 1910, as mulheres ainda estavam amarradas em corsets. Foi a Chanel que introduziu a confecção dos homens para o guarda roupa feminino – jaquetas tipo cardigan e saias retas e desportivas- levando as mulheres para uma liberdade e dignidade que anteriormente era exclusivamente dos homens. Chanel usava calças. Ela tinha seu cabelo curto. Ela era desafiadora, empoderada, sem restrições por convenção social.

O quão apropriado, então, que Stewart foi escolhida como o rosto da mais nova fragrância da Chanel, Gabrielle, um aroma destinado a canalizar o espírito rebelde da designer a um público moderno. Stewart recentemente aprendeu a palavra insoumis, que não possui uma tradução totalmente precisa em inglês. A maneira mais próxima de traduzi-la seria insubordinação. É uma palavra que Stewart sente que incorpora tanto sua recusa a se conformar quanto a de Chanel.

Quando criança, crescer em Los Angeles com três irmãos mais velhos, Stewart era “uma completa tomboy.” Ela costumava se vestir como um menino e foi somente na escola que ela percebeu que “não era a coisa mais normal. Nem todas as meninas eram daquele jeito. E aquilo realmente magoou meus sentimentos, bastante. Tipo, eu me lembro de estar na sexta série [com 11 anos] e as pessoas diziam “Kristen parece um homem. Você é um menino,” ou coisa assim, e eu ficava muito ofendida, horrorizada e envergonhada.”

Ela pausa, olha para mim, o olhar marcado por seus olhos verde avelã. “Agora eu olho para trás e penso, “Garota, se orgulhe disso!”

Tudo mudou quando Stewart chegou a adolescência e deixou seu cabelo crescer. De repente, ela foi aceita como uma das meninas bonitas, “e eu fiquei tipo, “Foda-se todos vocês!” Isso lhe deu uma visão do quão instável e superficial a aceitação pode ser. O verdadeiro desafio, ela percebeu, era se manter verdadeira com si mesma.

“Não há nada pior do que crescer e então ouvir alguém dizer, “Oh, digo, todos podíamos dizer desde o começo que você iria namorar garotas,” ela diz. Isso incomoda Stewart porque minimiza a autenticidade de seus relacionamentos anteriores com homens. “Eu estive completamente apaixonada com todos que namorei. Você acha que eu estava fingindo?” Ela balança a cabeça, como se fosse uma gata se livrando de uma mosca. “Eu sempre abracei a dualidade. E eu realmente acredito nisso e nunca me senti com dificuldades ou confusa. Eu só não gostava de ser zoada.”

Então ela namoraria um cara novamente no futuro? “Sim, totalmente. Definitivamente… Algumas pessoas não são assim. Algumas pessoas sabem que gostam de queijo quente e que irão comer isso pelo resto de suas vidas. Eu quero tentar de tudo. Se eu como queijo quente uma vez, eu fico tipo, “Isso foi legal, qual o próximo?”

Ela fala isso literalmente: estamos conversando na hora do almoço da sessão de fotos em uma sala repleta de flores frescas, mobília branca e velas com aroma. Os cozinheiros forneceram várias seleções de alimentos: frango, salmão e tiras de presunto de Parma com melão. Ao invés de reduzir suas opções, Stewart trouxe todas elas consigo, os colocou na mesa na nossa frente e está comendo um pouco de cada pote de plástico enquanto ela fala. Quando ela termina, ela coloca a tampa de volta em cada um dos potes e os leva até a lixeira.

É o tipo de reflexão que imagino que ela herdou de seus pais, ambos trabalharam por trás das cenas em filme e televisão. Seu pai, John, é produtor de televisão, e sua mãe, Jules, é uma supervisora de roteiros e diretora. Stewart começou a atuar aos oito anos, após um agente a ver em uma peça de Natal na escola. Ela realmente nunca pensou em fazer outra coisa porque seus pais sempre pareceram se divertir muito no set.

Seu primeiro papel veio aos 11 anos, quando ela interpretou a filha de Jodie Foster em O Quarto do Pânico de David Fincher em 2002. Mas foi os filmes de Crepúsculo que realmente colocaram Stewart no centro das atenções. Dezessete quando ela estrelou o primeiro e vinte e um quando a série chegou a um fim, ela passou por dificuldades com a atenção da mídia e algumas vezes pareceu uma presença estranha no tapete vermelho. Os comentaristas da mídia a acusaram de ser desagradável e mal humorada. Na verdade, Stewart disse, ela estava sobrecarregada com a atenção.

Ela ainda tem crises de ansiedade, onde suas mãos congelam e ela se encontra incapaz de fazer tarefas simples – quando ela ganhou um César Award (o equivalente francês ao Oscar) por Melhor Atriz Coadjuvante em Acima das Nuvens, ela teve que pedir para o apresentador segurar o prêmio para ela porque suas mãos estavam tão tensas que ela estava com medo de deixar cair.

“A fama é avaliada de um jeito um pouco ridículo,” Stewart diz. “E então existe essa ideia de que você é obrigada a alguma coisa, e eu me magoo com isso. Acaba parecendo que sou ingrata ou algo do tipo, mas na verdade, eu não consigo falar com o público como um todo. Eu posso me relacionar com uma pessoa, com um indivíduo, mas falar com o mundo é algo que me deixa perplexa.”

Eu pergunto se, como eu, ela sofre de Resting Bitch Face – essa aflição quando seu rosto normal e relaxado projeta um involuntário senso de irritação – e ela diz, sem pausar, “Completamente. Eu não sou introvertida, só não estou atuando o tempo todo, o que é como as pessoas esperam que famosos se comportem.” Ela está sendo verdadeira, ela diz. Ela está sendo ela mesma.

Apesar disso, ela odeia a palavra “vadia” porque não há uma palavra equivalente para homens. “Homens não podem mais dizer “vadia”, desculpe. Diga outra coisa. Diga, “Você é grosseira,” ou “Eu não gosto de você,” ou “Você é babaca,” tanto faz. Você não pode dizer, “Oh, aquela vadia,” porque não há nada que eu possa dizer para você, não há uma retórica que seria equivalente a isso, logo é humilhante e literalmente a par de algo homofóbico ou racista.”

Na verdade, Stewart é uma das atrizes mais abertas, reflexivas e simpáticas que já conheci. Ela é extremamente inteligente, cita A Leste do Éden de John Steinbeck como seu livro favorito e claramente passou muito tempo pensando sobre o mundo.

Quando eu pergunto a ela sobre a dificuldade de ser mulher nos Estados Unidos após a eleição de Donald Trump e a regressão nos direitos de aborto, sua resposta é sutil. Sim, ela diz, é obviamente terrível o que está acontecendo mas ao mesmo tempo, é bom fazer parte de uma comunidade feminina maior que está falando por si mesma. Eu nunca senti esse senso de comunidade de um jeito forte. Então isso nos aproximou, com certeza. O catalisador para isso é lastimável, obviamente, é uma merda. Mas ao mesmo tempo, eu acho que você precisa de algo para provocar as coisas para poder juntar as pessoas, definir suas opiniões e força-las a serem ouvidas.”

Stewart tem uma ligação bizarra com o Presidente dos Estados Unidos. Em 2012, ela se encontrou no olho do furacão da mídia após fotos de paparazzi suas com o diretor Rupert Sanders surgirem na imprensa. Naquela época, Stewart estava namorando Robert Pattinson e Sanders estava casado com a modelo Liberty Ross. Trump tomou as dores e tweetou conselhos que ninguém pediu: “Ela o traiu como uma cadela e fará de novo – apenas observem,” dizia um, retweetado mais de 24 mil vezes, “Ele pode conseguir muito melhor!”

“Isso não é louco?” Stewart diz quando eu trago o assunto a tona. “É tão surreal. Eu não consigo nem pensar nisso sem ficar com os olhos de louca, e sorrir sem sorrir. Tipo, parece um sorriso, mas não é.” É uma careta, eu sugiro. “É como rir em um funeral,” ela responde.

Stewart recentemente fez piada com os tweets de Trump quando ela apresentou o Saturday Night Live. Ela estava com medo com a possibilidade de falar dele?

“Não. O que ele vai fazer? Me atacar no Twitter? Eu não tenho uma conta lá. Eu não ligo. E por falar nisso, eu estava esperando que ele adicionasse mais a história. Mas não, de modo algum. O que vai acontecer? Ele vai me prender? Ficar bravo comigo? Que bom. Isso seria incrível. Eu ficaria orgulhosa disso. Entende o que eu digo? Ficaria em boa companhia.”

O incidente com Sanders foi profundamente desagradável para Stewart, que foi ridicularizada e criticada, com o peso do próprio público. Uma das poucas pessoas a sair em sua defesa foi Jodie Foster, que escreveu um artigo de apoio para o The Daily Beast.

“O fato de que ela veio ao meu socorro assim…” Stewart diz. “Os homens não fizeram isso. Eu fui cruelmente julgada pela maioria dos caras na minha vida, na verdade.

Para Stewart, amizades femininas são profundamente importante e ela possui um grupo de amigos que vivem perto dela em Los Feliz, LA, incluindo a atriz Dakota Fanning que descreveu a amizade delas como “um dos laços mais especiais da minha vida.”

“Há um entendimento sem palavras que você possui com algumas mulheres que é muito feminino,” explica Stewart. “E eu realmente dou valor a isso porque reconfortante em um mundo que realmente gosta de colocar as mulheres para baixo. Eu acho estranho quando escuto uma menina dizer, “Ah, eu tenho mais amigos homens. Não me dou bem com meninas.” Tipo, isso é louco! É na verdade muito autocrítico, muito inflexivelmente inseguro. “Eu não gosto de meninas.” Você é uma. Então você não gosta de si mesma.”

Ela se segura, e então pausa. Ela brinca que pode imaginar o jeito que essa parte vai ser manchete, e será uma grande citação dizendo “Eu amo mulheres!” Mas, você sabe, não é uma coisa exclusiva. Eu amo homens também! Eu amo boas pessoas. Eu só acho que desenhar essa distinção é chato.”

Muito como Chanel, Stewart se recusa a desenhar distinções e desafia a categorização simples. Em um mundo de pessoas fingindo serem outras, Kristen Stewart permanece deslumbrantemente e com determinação, ela mesma.

Uma visão que te inspira: “Olhar pela minha varanda em Los Angeles. Eu vivi lá por toda minha vida e nos últimos cinco anos tem mudado todos os dias. Eu já tive dias bons e ruins, mas todas as vezes que olho para Los Angeles, parece que há algo lá para mim.”

Quem você admira? “Karl Lagerfeld. Ele nunca para de pesquisar e não tem medo. Isso é um verdadeiro artista.”

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil