Durante a press junket de Personal Shopper em Los Angeles, Kristen e Olivier Assayas, diretor do filme, conversaram com vários veículos da mídia, entre eles o site Morbidly Beautiful. Confira a entrevista abaixo:

Seguindo sua performance vitoriosa em Clouds of Sils Maria, Kristen Stewart se junta novamente com o aclamado diretor Olivier Assayas para uma história de fantasmas. De dia, a americana vivendo em Paris, Maureen (Kristen Stewart) trabalha como personal shopper, andando com sua moto pela cidade comprando roupas de luxo para sua famosa cliente. De noite, ela tenta se comunicar com os mortos, esperando fazer contato com seu irmão gêmeo morto recentemente. Quando Maureen começa a receber uma série de mensagens sinistras, ela parece estar fazendo contato – mas com quem? E o que querem?

Esse sedutor thriller psicológico é um espetáculo fascinante para uma das atrizes mais aventureiras desta geração.

Eu fiquei imensamente feliz quando fui convidado para entrevistar Kristen Stewart e Olivier Assayas antes da premiere do filme em Los Angeles. Os dois foram graciosos e bons de conversar. Para aqueles que dizem que Kristen não é amigável, estão completamente errados. Ela foi maravilhosa, inteligente, doce, engraçada e um pouco tímida.

Em Personal Shopper você trouxe o senso da solidão, o processo de luto. Olivier, como esse projeto começou pra você como um contador de histórias?

Olivier: No meu caso eu tinha essa imagem na minha cabeça de uma mulher solitária em Paris, tentando achar alguma consolação em seu espaço pessoa. Fazendo um trabalho que ela não gosta na indústria da moda, isso é parte de seu personagem. É alguém que trabalha em algo que é muito superficial isso é frustrante, isso não lhe da nenhuma satisfação, que procura alguma proteção em sua arte, sua própria imaginação. De alguma forma, eu acho que a tensão entre esses dois lados dela se tornou acentuado. No processo de escrever a história, de repete isso se tornou um trabalho alienado, vestir outra pessoa, e tentar se conectar com algo que tem a ver com outra dimensão. Tem a ver com se conectar com seu próprio subconsciente.

Foi importante para mim – a chave quando eu estava escrevendo, era a primeira cena do filme. Eu gosto da ideia, que somos apenas jogados na história. Nós não sabemos quem é a personagem. Ela está nessa casa estranha, em um espaço estranho, e ela está tentando entrar em contato com algo que está além dela, como todos nós fazemos de alguma forma. Eu gosto de não saber nada sobre ela. Nós não sabemos onde estamos não sabemos quem ela é, não sabemos sobre o que isso se trata, mas nós estamos com ela, nós nos tornamos ela. Estamos andando com ela pela escuridão e eu acho que muito do filme parte disso.

Como você desenvolveu a personagem Maureen depois de ler o roteiro?

Kristen: É um lugar estranho para começar com alguém, porque tipicamente essa pessoa meio que existe em você, e você precisa fazer muitas perguntas. Quem são eles, de onde eles são, onde estão se metendo, o que eles querem, quais são suas esperanças e sonhos? Mas essa pessoa começa de forma fragmentada que a inexplicável definição da realidade não permite que ela exista. Ela está tipo, se não posso definir minha existência, então quem sou eu?

 Você esteve cercada de vestidos maravilhoso no filme. Você gosta de roupas? Você parece ter um sendo de moda incrível. Você tem uma personal shopper, e você teve a chance de ficar com algo do filme?

Kristen: Eu acredito que certas celebridades teriam isso, pessoas que são realmente ricas. E estranho, mas sim, eu gosto de roupas. Na verdade, eu consegui ficar com o vestido de armadura. É meu, ninguém pode ter aquele.

Olivier: E eu acho que é vital ter um senso de estilo nesse meio. Pessoas que tem um trabalho que requere muitos tapetes vermelhos, não podem aparecer com a mesma roupa toda vez, então você precisa de alguém que faça isso para você. Faz sentido, por mais louco que isso pareça.

Mesmo sendo jovem, você já fez muitos filmes durante esses anos. A Saga Crepúsculo obviamente, mas muitos filmes independentes também. Qual você considera ser o maior desafio indo entre tipos diferentes de diversos personagens. Qual é a parte mais difícil pra você?

Kristen: Eu posso ler roteiros muito bem escritos o dia todo e isso não significa que ele vá ter uma parte para mim. Se eu me encaixar na descrição fisicamente, pela idade ou gênero, não significa que é a hora certa de fazer esse personagem. Eu nunca trago nada mais do que eu mesma para diferentes papéis. Você muda as circunstâncias, eventualmente e sim você muda a pessoa, mas eu nunca quero sair de mim mesma e representar um personagem para entreter as pessoas ou servir uma história. Meu objetivo é ser cativada por algo e então permitir que isso revele suas partes. Eu realmente prefiro tropeçar em descobertas e perguntas sem repostas do que embrulhar e entregar histórias para as pessoas. Não é difícil, eu gosto de trabalhar, eu gosto muito.

A Maureen tem algo que vem da sua própria personalidade?

Kristen: Eu gosto que ela era realmente atraída para algo, que ao mesmo tempo era potencialmente vazia. Você precisa ser confiante, porque tem uma vaidade rondando a vontade de ficar bem em uma roupa. Uma obsessão em que você fica tipo, ‘Oh Deus, eu me imagino nisso, eu quero isso.’ Eu conheço esse sentimento, de pensar, ‘Ninguém deveria usar isso, eu deveria usar isso.’ Mas ao mesmo tempo, isso é um absurdo. Eu não quero ser a pessoa que pensa desse jeito, então eu me sinto mal. Eu tenho menos dificuldade para navegar nisso, porque eu tenho acesso e escolha, o que é uma sorte rara, onde ela está na posição em que ela é atraída por alguma coisa e os serviços, mas é muito menor do que isso. Ela se ressente, mas ao mesmo tempo isso a engrandece.

Olivier: Eu também acho que quando estou escrevendo, o que naturalmente me interessa com a Kristen, como qualquer ator, é a pessoa real. Então, no caso de Kristen nos dois filmes, eu meio que joguei o fardo de ser a celebridade para outra pessoa, assim ela não precisa carregar isso durante o filme.

Qual foi o aspecto mais difícil de trabalhar em Personal Shopper?

Kristen: Eu interpreto uma jovem mulher que é muito adorável, completamente isolada e triste. Era cansativo estar nessa personagem o tempo todo. Mesmo quando eu estava em uma cena com outros atores, eu nunca podia realmente estar com eles. Era como se eles fossem fantasmas. Eu não me considero uma pessoa finita. Não poderia ter uma mínima interação entre nós porque eu não sentia como se eu existisse. Isso me levou para um estado doloroso. Felizmente eu estava rodeada de pessoas que eu amo e nunca me senti sozinha. Eu tive sorte. Se a atmosfera no set não fosse positiva ou amigável, eu estaria devastada e iria provavelmente ter um colapso. No filme, eu nunca paro de ir para todos os lugares. Eu estou em constante movimento. Eu perdi muito peso durante as gravações. Foi cansativo.

Há uma certa noção na América que os filmes de gênero não devem ser introspectivos ou motivados pelo personagem ou interessantes, e eu acho que é geralmente o oposto em filmes Europeus. Como você se sente sobre isso?

Olivier: Eu acho que sempre fui influenciado pelo gênero de fazedores de filmes. Quando eu comecei a fazer filmes, quem eu mais admirava era David Cronenberg, John Carpenter, Wes Craven e Dario Argento. Eu acho que esses filmes lidam com algo que pode ser mais profundo na forma de que compreender os seres humanos. Eu acho que há algo lá que toca, algo que é mais profundo do que a psicologia, porque se conecta fisicamente com o público, e pode ser extremamente profundo.

Em Personal Shopper, nós vemos as diferentes formas que as pessoas lidam com a morte. Maureen observa os caminhos antigos com sessões e ela está trocando mensagens com alguém que pode ser um fantasma. Você acha que essa nova formula de tecnologia e redes sociais muda a forma que as pessoas lidam com a morte ou com o fato de que seus entes queridos não estão mais ali?

Olivier: Sim, de uma forma perturbadora. Mas eu acho que os filmes também são sobre isso. É meio interessante se você olhar as coisas, como no final de 1950 você tem o fim dos sistemas de estúdio, e você tem os filmes indies. Então você tem esse livro por Kenneth Anger, Hollywood Babylon, que lida com a morte dos astros de cinema. Ele escreve que em um momento especifico você percebe que tudo feito durante a era silenciosa era sobre fantasmas. Eles se foram, você vê as pessoas vivas e pessoas que estão mortas. Não é apenas tecnologia, é um mundo de imagens que mudam o nosso relacionamento com os mortos. Os mortos ainda estão a nossa volta, de uma forma estranha e especialmente em filmes.

Kristen: De uma forma em que você não esquece.

Quando você leu o roteiro, tinha alguma parte onde você teve um momento “aha”, um sentimento de, sim, eu estou nesse filme? Ou você gostou de todo o roteiro?

Kristen: Eu li o roteiro todo e cheguei ao final, a ultima frase estava muito mal traduzida. Ele escreveu em francês e foi traduzido e mandado para mim. Então, a última frase não fazia sentido. Eu não sabia que essa fala estava vindo, e eu estava lendo esperando algo cristalizar de alguma forma e não estava acontecendo. Então, página depois de página, e na página final tinha esta linha que era o final. Eu pensei ‘Que porra é essa?’ Então, eu pensei que estava sendo engada ou algo assim, ou eu era estupida e não estava entendendo. Mas eu sabia que deveria fazer o filme, então eu sabia que havia entendido minha relação com o filme.

Cada um tem uma resposta diferente para o filme, porque cada um tem um relacionamento diferente com a realidade. Não havia nenhuma necessidade, eu sabia o que precisava ser. Então, naquele momento, eu pensei ‘Eu não posso articular tudo o que eu sinto sobre isso, mas eu entendo, porque eu posso responder essa pergunta.’ Então eu perguntei para ele e ele me disse, provavelmente não está certo (em termos de tradução.) Eu disse: ‘Você sabe o que vai ser?’ E ele dize: ‘Não, eu ainda estou pensando sobre isso.’ Eu disse ‘Não, eu estou lhe dizendo que eu sei.’ E ele disse que estava ok, que iriamos fazer. Eu apenas disse ‘Você não quer saber o que é?’ Eu queria que ele ouvisse tudo, e ele disse que saberia quando fizéssemos a cena.

A cena foi semanas e semanas depois, então isso significava que estávamos na mesma página em termos sobre o que era o filme! Mas ele disse que não precisávamos estar na mesma página, nós apenas precisávamos perguntar as mesmas coisas. Precisamos estar juntos fazendo isso.

Fonte | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil