Durante o Festival de Cannes, Kristen concedeu uma entrevista para a revista francesa Studio Ciné Live, onde fala sobre Personal Shopper, do diretor Olivier Assayas. A atriz também falou sobre sua carreira e seu critério para escolher novos projetos. Confira a entrevista abaixo:

Desde quando você é atriz?

Eu comecei com nove anos, e agora tenho vinte e seis.

Quando você olha para a sua longa carreira, qual é a cor?

Está sempre mudando. Eu estou sempre entusiasmada, pronta para seguir em frente. Eu tive a chance de encontrar o que queria fazer enquanto era muito jovem, enquanto as pessoas na minha idade estão começando a pensar sobre trabalho ou carreira.

Você nunca quis fazer outra coisa?

Eu cresci em Los Angeles. Meus pais também estão na indústria, na TV e em filmes, e eu sempre quis fazer parte disso. No começo, eu estava aqui sem fazer nada. Aos 12 anos eu gravei Quarto do Pânico. Eu estava presa. Chateada. Eu não entendi realmente o que estava acontecendo dentro de mim, mas eu tinha certeza que era para mim. Filmes são, por vez, obras de distração, mas eles também podem explicar o mundo. Alguns podem te empurrar para agir instintivamente, outros te fazem pensar. Eu estou navegando de um para outro.

É fácil construir uma carreira? Você deixa os eventos tomarem seu curso ou você os controla?

Eu sou uma pessoa impulsiva. Eu nunca pensei sobre o que significa “construir uma carreira”, nem o que poderia ser bom para mim. Ninguém pode desenvolver uma teoria sobre minhas escolhas e nem eu. Eu tenho desejos, necessidades, mas eu nunca tenho medo do futuro. E eu sou realmente grata por tudo que está acontecendo. Por exemplo, o screening de Personal Shopper pode dar terrivelmente errado hoje, pode haver vaias, isso não vai mudar o que eu vivi enquanto fazia aquele filme. Isso é algo que ninguém pode tirar de mim. Construir uma carreira é, em primeiro lugar, ser compreendido e reconhecido pelo o que você faz, e então ser visto por outros diretores e irão querer trabalhar com você. Um filme é sobre compartilhar com o público e com a indústria.

Então, a experiência de gravar um filme é mais importante do que o filme em si?

Não, de forma alguma. Os dois são inexplicavelmente ligados. O filme vai para o público, mas filmar é o que eu faço. Então, nós temos que escutar e assumir os críticos. Eu não tenho problemas com discursos, entusiasmados ou negativos, sobre um filme. É a falta de entusiasmo e indiferença que me incomoda.

Você acha que é intuitiva? Por que você escolhe um projeto: pelo diretor, pela história ou pela personagem?

Um pouco de tudo. Se tiver pelo menos dois dos três, eu estou dentro. Às vezes um roteiro me atrai por nenhum motivo, mas eu sei que estou fazendo isso, e eu entendo o motivo. Isso me interessa. Mesmo que seja com um novo diretor, eu assumo o risco. Sempre vale a pena. Quando você sentir um formigamento, você seguir o instinto.

Você colocaria A Saga Crepúsculo, Na Natureza Selvagem e Personal Shopper no mesmo nível?

Em qualquer caso, é o mesmo trabalho. O que muda no final é quando você fala sobre isso durante a promo. Aqui você responde a pergunta e vê como é diferente a recepção.

Sendo impulsiva, isso integra o fato de que você vai escolher errado e atuar em filmes ruins?

Sim, e isso não me incomoda.

Isso não significa que você faz escolhas ruins.

Eu seu. Tudo é subjetivo. O filme que você não acha bom, eu vou amar e vou estar feliz com o trabalho que fiz. É o mesmo principio da arte entre o ator e o receptor do filme no sentido amplo. Mas eu não citarei nenhum título.

Estar errado é parte do jogo. O seu pelo menos.

Erros são experiências enriquecedoras. Se você trabalha sinceramente, você não pode chorar e dizer que o filme é ruim só porque os outros estão falando isso. Você tem que continuar tendo orgulho. Mesmo que o resultado não seja o que você esperava, isso não questiona o que senti quando disse sim. Se você tem medo das reações, se esperar as reações para se expressar então você não conseguirá nada. Em um ponto, você tem que perceber que você está fazendo isso para si mesmo. Olhe para isso com seus próprios olhos, não os de outra pessoa, e sempre pense por si mesmo.

Quais memórias você tem das gravações de Clouds of Sils Maria e Personal Shopper com Olivier Assayas?

É bastante simples, nós concordamos em Sils Maria que iriamos trabalhar juntos novamente. Olivier é um homem inteligente, nem um pouco pretencioso e muito engraçado. Ele é um geek que adora surpresas e eu também. Eu não sou uma atriz que se prepara intensamente para um trabalho. Eu amo fluir em um projeto, e Olivier deixa você fazer a sua coisa. Em seguida, retifica. Eu amo trabalhar assim.

Sils Maria foi um filme sobre Juliette Binoche. Personal Shopper é um filme sobre Kristen  Stewart. Você concorda com isso?

Absolutamente. É como se nada fosse preconcebido, mesmo que Olivier pensasse sobre isso, é claro. Eu sempre senti que ele podia ver algo em mim que ninguém nunca viu. Eu me senti muito bem dirigida, sem ter “feito” meu trabalho. Eu amo quando eu reajo diferente do que eu vi ou pensei. Quando eu me vejo reagir de uma maneira surpreendentemente diferente, eu tenho a impressão de que aprendo mais sobre mim mesma. É isso que acontece nesse filme.

Quem é Maureen, a heroína? Ela é parecida com você? É alguém que você iria amar ou odiar?

Eu sinto por ela. Eu quero protege-la. Eu sei o que pode ser a solidão, o sentimento de não ser reconhecida, de estar nas sombras, aceitar tudo das pessoas. Quando você assiste ao filme, você quer saber o que vai acontecer com ela em dois anos, esperando que ela fique bem. Chegará um momento em que ela terá a vida que a satisfará. Ela não sabe se a percepção que ela tem das coisas vem da sua solidão, mas a vida resiste. Eu raramente senti algo tão justo e forte em uma personagem. Maureen simplesmente pergunta a si mesma como viver, como ela vai tirar a vida em suas próprias mãos. Grandes perguntas que todos se fazem. Nem sempre, é claro, mas às vezes. Eu prefiro pensar nos meus amigos e ir tomar um drink, mas às vezes nós temos que nos confrontar a essas perguntas sem cair no abismo da depressão. Nada é impossível. Sinto por ela porque Maureen está no escuro. E é um pouco assustador.

Ela está sempre se movimentando para escapar da realidade. Você é assim?

Eu sou uma pessoa ativa. Maureen tenta se distrair de si mesma, mas ela não consegue. Ela pensa, mas às vezes é um animal e fica paralisada pela ideia de ser uma parte da humanidade.

Que tipo de espectadora você é?

Eu amo bons filmes.

É uma boa resposta. Mas como qualquer outra pessoa, não?

Eu não sou uma cinéfila, não como Olivier que já assistiu tudo. Esse cara é louco.

Ele te deu filmes para assistir?

Desculpe-me, mas eu não gosto de falar sobre isso. Eu não vi muitos filmes. Eu sei que é ruim, eu tenho que começar a ver. Ainda assim, para responder a pergunta, eu realmente amo Jacques Audiard. E não é necessariamente uma chamada para algo.

Você prefere ir a exposições, ouvir música, ler?

Eu gosto de ler. E de escrever também. Eu dirigi meu primeiro curta [Come Swim, o retrato de um homem oprimido pela dor de um termino, que ela terminou de gravar em agosto.] Eu espero fazer um longa metragem algum dia. Esse é bem experimental.  Provavelmente não é a melhor forma de entrar nessa indústria…

Com Crepúsculo você se tornou uma estrela de blockbusters, com Sils Maria e Personal Shopper você está na cinematografia. É diferente?

Eu tenho a mesma abordagem. Supostamente era pra ter apenas um filme de Crepúsculo, não era pra ser um blockbuster. Mas francamente, eu me joguei por completo. Quanto aos filmes do Olivier, eu fiquei surpresa em receber um Cesar [melhor atriz coadjuvante] por Sils Maria, pois não é um filme que recebe prêmios. Nos Estados Unidos você apenas recebe um prêmio quando você raspa a cabeça ou aparenta estar extremamente doente. Mas eu estou orgulhosa de estar nessa lista. O preço não importa nada pra o publico americano, mas eu sei que isso significa algo para pessoas que eu respeito como Sean Penn. Eu sou reconhecida naquela família e eu estou feliz com isso.

Você acha que está se tornando uma atriz melhor com o tempo?

Eu não sou necessariamente uma atriz melhor, mas eu estou mais relaxada. Eu sei mais do que eu quero, eu entendo melhor o jeito que eu trabalho, sou capaz de conseguir o melhor de uma experiência sem ser egoísta. Talvez isso seja uma melhoria. Eu nunca me arrependo de nada e eu estou mais confiante. Tenho orgulho de fazer filmes, mas eu não tenho certeza de ter criado algo. Não é necessariamente o papel de uma atriz.

Olivier Assayas: Musas e Demônios.

Personal Shopper também é sobre o luto, minha heroína perdeu seu irmão gêmeo, uma parte dela. É uma conversa interna, e sua angústia e interrogatórios vão contaminar o exterior. Eles se tornam visíveis na tela.

Olivier, você considerou fazer esse filme sem Kristen Stewart?

Com dificuldade, mesmo se eu tivesse escrito o roteiro sem pensar nela. Kristen tem uma rara habilidade de fazer tudo real, incluindo a situação mais abstrata e misteriosa. Eu tive esse sentimento em Sils Maria, e eu queria ir mais fundo nas sombras com ela, incluindo o paranormal, porque eu sabia que ela conseguiria ancorá-lo na realidade.

Benoit Jacquot: Essa autenticidade é óbvia. Kristen e Julia [personagem de A Jamais] nunca trapaceiam. Nós tentamos pegar algo que nem elas sabem que tem.

Trabalhar com novas atrizes é algo bom para você?

Há algo maravilhoso em conhecer alguém no momento certo. Quando uma atriz começa a ser autoconsciente e descobrir que o cinema pode oferecer um território muito mais vasto do que ela pensava. É isso que acontece com Kristen, instalada no quadro extremamente limitado do cinema americano. Ao meu lado, ela foi capaz de aproveitar uma área de liberdade que ela não suspeitava.

Nós podemos ver Personal Shopper como um filme sobre Kristen Stewart…

Kristen não está creditada como roteirista, mas ela poderia ser…

Via | Tradução: Equipe Kristen Stewart Brasil