Kristen concedeu uma entrevista para a ELLE France ao lado de Juliette Binoche durante sua passagem por Paris no meio desse ano. Confira a entrevista e os scans da revista:


Scans > 2014 > ELLE France – Setembro

Mensagem atormentada: “Kristen perdeu o vôo, entrevista adiada.”
Mensagem desesperada: “Kristen chegou, mas há um jantar da Chanel na hora do photoshoot, tudo cancelado.”
Mensagem preocupada: “Os táxis de Kristen e Juliette cruzaram caminho, vamos rezar para que esteja indo para o mesmo local.”
Mensagem encorajadora: “Começo do photoshoot! Terrível quantidade de stress. Kristen poderá ficar?”
Mensagem noturna descoberta na manhã seguinte: “As fotos estão sublimes!”
Última mensagem: “Você tem trinta minutos. Kristen vai voltar para os Estados Unidos depois da entrevista.”

Portanto, é no início da manhã com algum tipo de apreensão – nós vamos conseguir dizer as três últimas palavras para em menos de trinta minutos? – que nós nos dirigimos para o hotel para nos encontrar com Juliette Binoche e Kristen Stewart, para a estreia do filme mais bonito de Olivier Assayas, ‘Sils Maria’. O diretor oferece para Juliette Binoche uma personagem complexa e cruel que ela aceita com braços abertos: o papel de uma estrela que enfrenta o julgamento de outras pessoas e o processo do envelhecimento, a descoberta de que ela pode ser esquecida e o mais importante, uma solidão radical. Um papel muito longe de Juliette Binoche, que prova ao reviver os personagens mais bonitos, que o tempo é seu aliado. Olivier Assayas disse que ele tentou ser o mais próximo possível dela ao dar vida para Maria Enders e que ele tentou brincar com um elemento biográfico comum. O diretor e a atriz deram seus primeiros passos juntos no mesmo filme trinta anos atrás: ‘Rendez-vous’ de André Téchiné. Assayas co-escreveu o roteiro e o filme deu a ele uma visão que o lançou no caminho de diretor. Para Juliette Binoche, foi uma explosão. De repente em um dia, uma mulher desconhecida com um lindo sorriso foi impulsionada em outra galáxia.

Como toda estrela, a personagem de Maria Enders tem alguém ao seu lado: Sua assistente, uma jovem mulher borbulhante, nervosa, eficiente, moleca, com óculos, que manda mensagem e pesquisa coisas constantemente, e que faz decisões em nome de sua chefe. É Kristen Stewart, descoberta mundialmente na saga ‘Twilight’, que interpreta esse papel. No topo de sua popularidade, nós acreditamos que os comentários ‘wow, que sorte! Não perca uma entrevista com Kristen Stewart. Ela é realmente diferente’ é dito repetidamente para nós em todo lugar. Nós vemos de longe a menina, que quase não pode chegar aqui, sozinha no corredor, sem sua equipe de relações públicas e seu segurança (que se esqueceu de acordá-la), cabelo curto com duas cores, jeans de cós baixo e blusa branca, com olhos sonolentos e esfumados do photoshoot na noite anterior. E, imediatamente, uma liberdade de expressão chocante, que nos lembra da jovem Madonna e quebra as barreiras que nos fez acreditar que estávamos encontrando o Obama.

Juliette, em qual jeito a personagem Maria te lembra de quem você é?
Juliette: Não é a personagem, mas a situação: Duas atrizes que não são da mesma geração e uma assistente. Então sim, há um eco. O filme mostra uma mulher em perigo, terrivelmente vulnerável, que não sabe quem ela é ou onde ela está. Uma fragilidade que todos nós podemos sentir se formos mandados para outro lado do planeta sem nenhum motivo, sem conseguir controlar nada ou decidir por si mesma. Quando você viaja muito, você não sabe onde você vive mais! Você se torna disponível para movimento, para pedidos incessantes de todos e nesse turbilhão, Maria tem uma âncora: Sua assistente. A personagem interpretada por Kristen a permite a ter o tipo de família e dá a ela um espelho. Pelo menos sua assistente está olhando para ela, dando a ela a imagem de tempos mais gloriosos. Ainda melhor, ela é um intermediário entre ela e o resto do mundo. Na verdade, Maria Enders encontra-se em dependência total de Valentine, que é jovem, que tem uma vida sexual ativa – ao contrário dela – e quem sabe como tomar decisões e empurrá-la para fazer suas próprias.

Kristen, nós sentimos que você se divertiu quando você construiu essa personagem que toma conta e admira a estrela… Essa assistente é familiar para você ou é de fora?
Kristen: Não existe personagem de fora. Cada papel vem de você e duas experiências pessoais, mas a assistente bem mais do que as outras. Eu conheço esse mundo tão bem… Esta fusão dinâmica que pode explodir no ar! Eu cruzei com esse tipo de relação, e eu sei o que é uma estrela se isolar e ter que pegar uma assistente emprestada para ser sua amiga, como se fosse um carro. É muito complicado, as linhas ficam borradas, tudo se mistura, trabalho, amizade, amor, quando você precisa do outro para se lembrar de quem você é. A assistente se torna a dona de todos os seus segredos, a única que sabe as coisas mais íntimas da sua vida. O filme é um confronto entre duas mulheres em estágios diferentes da vida. Uma está no ponto em que ela que pagar por sua arte e isso a deixa completamente desestabilizada. Mesmo que valha a pena.
Juliette: Entre milhares de razões pelas quais eu escolhi fazer esse filme, tem essa: ‘Sils Maria’ finalmente mostra o que custa para um ator interpretar um papel. Não é tão frequente no cinema. Como isso marca você. As hesitações e as idas e vindas entre a concordância e a negação, não são caprichos, mas razões de vida ou morte, mesmo se parecer excessivo para alguém de fora. Para atuar, algumas vezes você tem que moves montanhas, ficar mais perto de algum tipo de vulnerabilidade e dos medos que você geralmente tenta evitar. Nós somos feitos de bases frágeis e quando você atua, você vai muito mais fundo em si mesmo. As perdas de todos os nossos pontos de referência nos tornam humildes. Dói e é muito físico, o corpo tem que se adaptar. Sem esquecer que, quando você é uma atriz, as pessoas olham para você com uma lupa. Quando você atinge certa idade, todas as transformações de seu corpo e face são perceptivas. Até que você chega a um ponto onde você não se importa mais. Quando você para de tentar ser perfeita.

‘Sils Maria’ também é um filme sobre fama. Hoje, as estrelas são seguidas por paparazzi e todas as ações são discutidas. Juliette, Kristen, isso é uma situação familiar para vocês ou não?
Juliette: (Risos) Eu não faço ideia do que você está falando. Você sabe algo sobre isso, Kristen?
Kristen: Sites criam ficções que são consumidas e renovadas a cada minuto. É louco! Eu realmente não entendo de que modo é interessante ou engraçado ler coisas falsas sobre pessoas que você nem conhece. Bom,sim, eu entendo que isso é um negócio e as pessoas ganham muito dinheiro por conta disso. As estrelas se tornam produtos que você pode vender online. Não estou dizendo que devemos voltar para a Idade Média, você acha coisas maravilhosas online. Mas Jesus, seria muito bom se houvesse um jeito de parar todas essas invenções que alimentam os leitores como gansos, apenas para a massa. Eu acho que nem mesmo os leitos gostam de serem tratados com animais de fazenda.

O que faz possível para você escapar?
Kristen: O que é mostrado no filme: Ir para fora, pegar ar fresco, andar pelas montanhas…

É a mesma coisa ser atriz na Europa e nos Estados Unidos?
Kristen: Eu não acho que o jeito que trabalhamos depende de onde viemos. Nós somos bem diferentes, como duas pessoas podem ser, mas nós trabalhamos pelas mesmas razões.
Juliette: De outra maneira, os diretores americanos não trabalham como nossos colegas europeus ou asiáticos. Kristen, você realmente acha que uma filmagem européia funciona do mesmo jeito que um blockbuster americano? Olivier é bastante influenciado por diretores asiáticos. Eu pensei bastante em ‘Voyage du Ballon Rouge’ de Hou Hsiao-Hsien quando estávamos filmando. Ele improvisa bastante, pode nos deixar sem texto, nós não ensaiamos…
Kristen: E nós só percebemos depois que ele nos enganou para que pudéssemos avançar. Nós dizemos a ele: “Olha, achamos essa pedra, é super legal!” Na realidade, é igual a ‘Little Thumbling’, ele foi quem escondeu ali.

Kristen, você disse no passado que seus pais te forçaram a ser atriz, porque quando criança, você era hiperativa e tinha déficit de atenção. Isso é verdade?
Kristen: Mentira! Você leu isso em uma página do Wikipédia? Pelo contrário, eu era muito calma quando era criança. Eu cresci em sets e eu costumava idealizar meus pais. Minha mãe era uma roteirista e meu pai era um assistente de palco na FOX. Meus pais tentaram de tudo para me impedir de trabalhar nesse mundo. Com oito anos, eu não podia ser uma decoradora, uma câmera chefe, mas um atriz, sim! Com treze anos, eu tive uma epifania. Eu percebi o que dar a vida para um personagem significadva. Imediatamente, eu me tornei a mais pretensiosa da minha classe. Para mim, era como pular em um espaço vazio. Eu entendo completamente que esse sentimento pode parecer ridículo, mas ainda assim é o que eu sinto.

O que vocês descobriram trabalhando juntas?
Kristen: Juliette revela para os outros seus próprios talentos. Você não pode fingir com ela, nem mentir. Essa sincerade é o presente mais bonito que você pode dar para outro ator. Mais do que ninguém, ela me fez pensar.
Juliette: Kristen não tem medo das áreas cinzas. Durante cada tomada, ela é como um animal, no olhar, que quer saber o que está escondido atrás da porta. Ela quase não precisa de tempo para lembrar de suas falas e ela se joga com confiança na cena. É paradoxal: É como se ela estivesse pendurada no topo de uma colina, e é totalmente à vontade. E Kristen escreve poesia.

Isso é verdade?
Kristen: Sim. Na verdade, eu acho que todos deveriam fazer uma leitura coletiva para terminar a entrevista! Juliette tinha uma assistente extraordinária no set. Em uma manhã, antes das filmagens, nós três estávamos agindo como loucas nos Alpes. Nós estávamos dançando como gatos, e cantando. Dez minutos antes de ouvir ‘ação!’ nós nos divertimos.

Fonte | Tradução: Mari – Equipe Kristen Stewart Brasil